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Márcio de Freitas: QI em Brasília não é DNA

Há muita história para ilustrar camaleões de postos estratégicos e fiéis escudeiros de uma discrição canina na lealdade a vários senhores de grande QI

O secretário executivo indicado para o Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, durante coletiva no CCBB (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

O secretário executivo indicado para o Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, durante coletiva no CCBB (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

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Publicado em 12 de maio de 2023 às 17h58.

Última atualização em 12 de maio de 2023 às 18h21.

Por Márcio de Freitas*

Quem indica (QI) é importante indício de conexão para saber as afinidades eletivas (nem sempre eleitorais) de ocupantes de cargos de confiança em Brasília. Mas não é suficiente para revelar a inteira personalidade dessa espécie de linhagem de poder. Nem se permite avaliar o grau de lealdade sob os efeitos dos altos e baixos da política pátria – nossa montanha-russa mais radical, de onde já caíram muitos aventureiros.

Há muita história para ilustrar camaleões de postos estratégicos, assim como fiéis escudeiros de uma discrição canina na lealdade a vários senhores de grande QI. Ou mudanças ao sabor dos holofotes e oportunidades de cavalgar a fortuna, que a tudo muda. Esses personagens e esses fatos costumam revelar o hábito das diferentes temporadas governamentais de Brasília para inusitadas e extravagantes alianças de conveniência.

A questão da indicação do Banco Central é desses casos que surpreenderam a muitos que olham o noticiário recente, mas não trouxeram novidade nenhuma para quem avalia o cenário de longo prazo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou a jornalistas a indicação de seu secretário executivo, Gabriel Galípolo, para diretoria no Banco Central.

O movimento sinaliza a transição para 2024, quando se encerra o mandato do economista Roberto Campos Neto, atual presidente do BC. Galípolo será então sucessor natural, afinado eletiva e eleitoralmente ao governo Lula. A escolha é demonstração de coerência em teoria econômica, ideológica, administrativa e política do Ministério da Fazenda.

Tudo certo, mas o indicado seria, por certo, questionado justamente pelo seu viés econômico, ideológico, administrativo e político na sabatina no Senado, e, depois, na sabatina diária do tal mercado, cujas oscilações se materializam na bolsa de valores e na mesa de câmbio – que, aliás, passará a ser atribuição de Galípolo assim que ele assumir a diretoria monetária. E isso pode gerar a desconfiança que maximiza a instabilidade daquele personagem que deve ajudar a criar menos incertezas na economia.

Eis que, de repente, não mais que de repente, o ministro Haddad revelou não ser ele o real indicador de Galípolo. E apontou o dedo do QI ao verdadeiro pai da ideia: Roberto Campos Neto – o culpado número 1, na versão do governo Lula, pelo país estar enfrentando dificuldades para a retomada econômica com seus juros altos e estridentes. Campos Neto teria gestado a indicação, em conversa com o próprio Haddad. Portanto, a gravidez de Galípolo, um feto promissor, até se converter ao cargo máximo de comando da política econômica do país teria a barriga, de aluguel ou emprestada, de Campos Neto para proteger seu desenvolvimento. Local ideal para se evitar as ameaças de mercado e de uma oposição mais radical.

O problema é que a proteção umbilical de Campos Neto não protege Galípolo dos riscos de ser atacado pelo PT. E o partido do presidente idealiza um mundo de juros baixos convivendo pacificamente com inflação candente, onde pastam os gastos do governo a tudo que brota do chão e bebem orçamentos exuberantes que chovem dos céus. Se por um lado, Haddad o protegeu de ataques dos selvagens do mercado, deixou aberto o campo para o ódio que é alimentado pela visão secular da expropriação da mais valia.

Este caso demonstra que, nem sempre, quem indica amigo é.

A visão paradisíaca do PT fura qualquer blindagem verdadeira a uma política econômica que gere, ao fim e ao cabo, estabilidade econômica real, crescimento e desenvolvimento social. No fim, todo mundo paradisíaco exige, para se chegar lá, sacrifício. Os que buscam atalhos costumam ficar no purgatório da inflação. Argentina, Turquia e outros estão aí para indicar os resultados... Mas, no Brasil, ainda se continua imune a ver inclusive a própria história e o valor do QI. Afinal, estamos reescrevendo tudo. Ou como dizia Paulo Leminsky: “Distraídos, venceremos”.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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