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Por Danilo Maeda*

Vivemos em um mundo complexo e por vezes difícil de explicar. Um bom exemplo é o momento atual da agenda ESG, especialmente nos EUA. Como bem sabemos, o acrônimo surgiu como forma de sistematizar e simplificar a comunicação sobre a conexão entre resultados de longo prazo e boas práticas ambientais, sociais e de governança, descrita pelo famoso relatório Who Cares Wins, do Banco Mundial e Pacto Global das Nações Unidas. Trata-se, portanto, de uma agenda com viés financeiro claro, que entrega mitigação de riscos que em primeiro momento seriam classificados como não financeiros, mas que podem impactar os negócios no médio ou longo prazo.

Foi exatamente por esse potencial de proteger o capital investido e reduzir riscos que as práticas ESG ganharam adeptos no mercado financeiro, ao ponto de vivermos a chamada “onda ESG” em anos recentes. O crescimento acelerado, contudo, trouxe efeitos colaterais indesejados. Como a agenda trata de questões socioambientais relevantes, como combate às desigualdades e às mudanças climáticas, setores refratários a tais pautas politizaram a discussão com o argumento de que a agenda ESG seria uma distração, um empecilho para o real objetivo dos negócios, que seria exclusivamente maximizar o retorno financeiro a seus acionistas.

A agenda ESG é apenas uma distração?

Parece haver uma contradição neste  argumento, uma vez que as práticas ESG se tornaram relevantes no mercado exatamente porque se propõem a proteger o capital investido – e consequentemente melhorar as taxas de retorno – ao estabelecer estratégias que conciliam crescimento econômico com gestão de externalidades e geração de valor compartilhado. Tais práticas  melhoram o relacionamento com todas as partes interessadas em um negócio e estabelecem ativos reputacionais e de relacionamento que servem como proteção para momentos difíceis.

Você pode até não concordar com a tese, mas é difícil argumentar que ela seria mais ativista do que financista. Esse é o ponto de vista, por exemplo, do presidente do Conselho de Administração e diretor executivo da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo. Larry Fink tem explicado que seu engajamento com sustentabilidade corporativa não é resultado de ativismo social, mas sim do dever fiduciário para com os clientes, que investem com a BlackRock pensando em retornos de longo prazo. Capitalismo puro e simples.

Mesmo assim, o debate político que posicionou a agenda ESG como um empecilho à prosperidade econômica foi forte o suficiente nos EUA para motivar a criação de alguns fundos de investimento “Anti-ESG”. Estes novos fundos alegam que os factores ambientais, sociais e de governação são uma forma ruim de avaliar investimentos – por isso ou ignoram totalmente esses fatores, ou evitam ativamente empresas que apoiam causas que consideram como “de esquerda”.

O Anti-ESG cumpriu as expectativas ou falhou?

Contudo, tais fundos têm encontrado dificuldade em atrair investidores e entregar resultados. Segundo um levantamento da Morningstar, os 27 fundos anti-ESG mapeados possuem US$ 2,42 bilhões de ativos sob gestão, enquanto isso, os fundos que seguem o caminho oposto – e fazem do ESG uma grande parte da sua estratégia – controlam US$ 313,4 bilhões.

A dificuldade na captação se explica por dois fatores principais. O primeiro está relacionado aos fundos que apenas ignoram fatores ESG em sua avaliação, que se tornam muito similares a índices de referência do mercado tradicional. O segundo se aplica àqueles que excluem empresas engajadas ou focam em setores por vezes excluídos das carteiras pró-ESG, como tabaco, armamentos e outros segmentos controversos. Ao investir apenas em tais setores, as carteiras criam dificuldades de diversificação – e portanto de rentabilidade e gestão de riscos.

Ao comentar tal contradição, um gestor de fundos anti-ESG ouvido pelo Wall Street Journal deu a seguinte explicação: “você tem que aceitar algum risco de desempenho para fazer o que estamos fazendo”. A frase isolada soa como algo que poderia ser dito por investidores ou ativistas de impacto, que aceitam retornos financeiros menores em nome de resultados socioambientais relevantes. A lógica é a mesma, mas no caso do anti-ESG a motivação é meramente ideológica.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG da FSB Holding

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