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Danilo Maeda: na performance financeira, ESG é alavanca ou escudo?

Qual o objetivo de uma agenda ESG? Se ela nem sempre leva a melhores resultados financeiros e o anti-ESG é pior ainda, então qual caminho deve ser tomado? Entenda a questão

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A tese de que é necessário abrir mão de parte da receita e do lucro para produzir um crescimento sustentável e inclusivo nem sempre é verdadeira. (Getty Images/Getty Images)

A tese de que é necessário abrir mão de parte da receita e do lucro para produzir um crescimento sustentável e inclusivo nem sempre é verdadeira. (Getty Images/Getty Images)

Por Danilo Maeda*

Temos repetido à exaustão que a chamada “Agenda ESG” ganhou relevância nos últimos anos pelo fato de o mercado financeiro ter em grande parte se convencido de que a implementação de boas práticas ambientais, sociais e de governança são sinônimo de melhores resultados financeiros de longo prazo. Contudo, ainda restam algumas dúvidas sobre como (e se) esta relação se estabelece na prática.

Dados, medições e avaliação de performance

Um dos aspectos já abordados neste espaço é a grande diferença de resultados produzidos por diferentes ferramentas de avaliação de performance ESG. A atual variedade de critérios (e de pesos atribuídos a eles) gera mecanismos muito distintos entre si, produzindo resultados pouco comparáveis e por vezes manipuláveis – por medirem indicadores que não refletem exatamente o resultado que se deseja produzir. Ou seja, medimos muita coisa, mas nem sempre sabemos o motivo para fazer tais medições.

Além disso, por vezes a conexão entre práticas de sustentabilidade e resultado financeiro é indireta e difícil de estabelecer. Boa parte da agenda pode ser considerada  “defensiva”, no sentido de proteger o negócio contra riscos ou reduzir atuais externalidades negativas que futuramente podem se voltar contra a organização em forma de crises e custos não previstos. São investimentos que não geram receita diretamente e que contribuem parcialmente com a manutenção de ativos críticos, mas é um tanto desafiador demonstrar em que medida cada linha de custo contribui com o objetivo maior de perenizar o negócio. E nesse espaço prospera a desconfiança em relação à agenda como um todo.

Por fim, outros questionamentos se voltam à validade da própria tese. Por mais que o surgimento da própria sigla remonte ao famoso relatório Who Cares Wins, que estabeleceu a conexão entre resultados de longo prazo e práticas ESG, algumas análises parecem apontar em outra direção. A depender dos recortes utilizados (papeis e índices escolhidos para as comparações, definição do que é considerado “ESG”, recortes de tempo e outros fatores), o desempenho financeiro de empresas com boas práticas nem sempre é superior.

Por outro lado, os fundos anti-ESG criados principalmente no mercado estadunidense como resposta financeira ao movimento que politizou o debate da sustentabilidade corporativa apresentaram desempenho inferior ao mercado e não conseguiram atrair investidores. Diante de tudo isso, fica a questão: se o ESG nem sempre leva a melhores resultados e o anti-ESG é pior ainda, o que explica tudo isso?

Estaríamos diante de cenários aleatórios?

Acredito que não. Parece haver uma explicação lógica, que escapa das análises superficiais. Na ótica da gestão empresarial, uma boa estratégia ESG é sinônimo de gestão de riscos e oportunidades com visão de longo prazo. Por isso, tudo deveria começar com uma avaliação completa sobre tendências ambientais, sociais e econômicas, sobre expectativas e demandas de stakeholders e sobre impactos do e no negócio. Essa avaliação deve acontecer de maneira individualizada para cada organização. Não há uma lista única de itens para tornar uma empresa sustentável. Cada jornada é (ou deveria ser) única.

Segundo um estudo recente da McKinsey, a tese de que é necessário abrir mão de parte da receita e do lucro para produzir um crescimento sustentável e inclusivo nem sempre é verdadeira. Pelo contrário, “nossa nova análise indica que as empresas financeiramente bem-sucedidas que integram prioridades ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) nas suas estratégias de crescimento superam os seus pares – desde que também tenham um desempenho superior nos fundamentos. A mensagem é clara: você não só pode ir bem enquanto faz o bem, mas também pode ir melhor.”

Enfim, parece estar ficando mais claro que apesar de ESG não ser panaceia, entrega valor ao proteger e adequar os negócios para o futuro. E não é esta exatamente a missão da sustentabilidade: trazer o futuro para o tempo presente?

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG da FSB Holding

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