O sucesso da estratégia deve ser estabelecido com indicadores de desempenho (Galeanu Mihai/Getty Images)
Bússola
Publicado em 17 de maio de 2022 às 13h03.
Por Danilo Maeda*
Dado o nível de dano causado, sustentabilidade não é mais sobre evitar o esgotamento de recursos ou que se excedam os limites ecossistêmicos. É preciso construir também resiliência e regeneração. O primeiro conceito remete à física e descreve a “propriedade de alguns materiais retornarem à forma original após submetidos a uma deformação elástica”. Figurativamente, resiliência significa capacidade de suportar adversidades e se adaptar a momentos difíceis. Não é à toa que falamos tanto dela recentemente.
A ideia de economia regenerativa, por sua vez, é uma proposição que vai além de conciliar a geração de riquezas com ações socioambientais responsáveis, mas compreende que é necessário desenvolver negócios do tipo cisne verde, que são “soluções sistêmicas para desafios globais”. É mais do que não causar dano. É gerar impacto socioambiental positivo, com escala e sem efeitos colaterais em outras áreas.
Apesar do cenário desafiador, é muito comum que organizações acostumadas a tocar seus processos de geração de valor com boas práticas de redução de danos se considerem sustentáveis. Será que essa classificação pode mesmo ser atribuída a elas, em um meio ambiente que precisa ser reconstituído por termos extrapolado os limites ecossistêmicos e uma sociedade com desigualdades abissais e necessidades básicas não atendidas para milhões de pessoas? E se sustentabilidade é mais do que gerenciar externalidades, o que define uma organização sustentável?
Em primeiro lugar, intenção. O business case que correlaciona boas práticas ESG com resultado financeiro é verdadeiro, mas em alguns casos é preciso fazer investimentos cujo retorno não é imediato ou diretamente conectado ao fluxo de caixa. Nessas horas, a convicção do que é certo deve prevalecer. É preciso agir intencionalmente para causar impacto positivo e endereçar questões muitas vezes estruturais, com um olhar que foca no resultado sistêmico, que diz respeito a toda sociedade e meio ambiente no longo prazo. Fazer o que é correto pelos motivos corretos. Do contrário, trata-se puramente de gestão de riscos. Não que isso seja ruim, mas é insuficiente em termos de sustentabilidade.
A intenção é o que dá um senso de direção para a segunda característica de organizações sustentáveis: realização. No dicionário, realizar significa, entre outras coisas, “fazer que tenha existência concreta”, “criar, produzir a partir de um plano, um projeto”. Ou seja, realização é aquilo que se torna real. As empresas que entregam tal promessa não só sabem o que e por que fazer, mas como, quando e onde. Além de gerenciar e mitigar suas externalidades negativas de forma consistente, tempestiva e em escala (proporcional ao tamanho do negócio), produzem impactos socioeconômicos positivos relevantes e conectados ao seu propósito. O que estou chamando de realização possibilita distinguir entre ações de marketing e de impacto, entre greenwashing e compromisso.
Mas pouco adianta saber a direção e trilhar uma jornada se por algum motivo você não conseguir sair do lugar. Se o objetivo de uma estratégia de sustentabilidade é produzir sistemas com maior capacidade de resiliência e regeneração, o parâmetro de sucesso deve ser estabelecido também com indicadores que meçam o desempenho do sistema. A isso, podemos dar o nome de impacto. A ideia lembra que sustentabilidade é ubuntu, um caminho que se faz em conjunto com solidariedade, respeito, cooperação, acolhimento e generosidade — eu sou porque nós somos. Em outros termos: é impossível ir bem em um ambiente onde tudo vai mal.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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