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Bússola ESG: sobre chocolates e corais

Gigante mundial Mars acaba de concluir na Indonésia o Big Build, projeto que integra uma ampla frente de reconstrução de recifes de corais em cinco continentes

O Big Build faz parte da meta da empresa de restaurar 1 milhão de corais até o fim do ano (thinkpanama/creative commons/Reprodução)
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 7 de setembro de 2023 às 10h00.

Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h37.

Quem gosta de mergulhar e faz isso há bastante tempo já se acostumou a ver a quantidade de vida e de cores lá embaixo diminuir entre mergulhos realizados em anos diferentes, num mesmo local. Aconteceu isso comigo em vários pontos do litoral brasileiro nos quais já tive a chance de afundar mais de uma vez. Você desce na expectativa de encontrar cardumes enormes e corais que lembram fogos de artifício, porém quase tudo está cinza no fundo e há de se contar com a sorte para topar com uma ou duas barracudas solitárias. Pena.

É algo que aborrece o mergulhador, mas não apenas. É ruim também para os outros humanos e para as demais formas de vida na Terra. Os recifes de coral são, como se diz, as florestas tropicais dos oceanos. São ao mesmo tempo abrigo e alimento para uma infinidade de diferentes peixes. Vem deles também uma gama enorme de remédios produzidos pela indústria farmacêutica, como antivirais e anticancerígenos. Oferecem proteção para populações costeiras contra as tempestades e a erosão causada pelas ondas do mar. Sua importância é incomensurável. Mas eles estão desaparecendo, em razão das mudanças climáticas e de outras presepadas perpetradas pela humanidade.

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Um dos melhores mergulhos que já fiz na vida foi há exatos 20 anos, em 2003, no naufrágio do USAT Liberty, em Bali, na Indonésia. Você entra no mar caminhando pela praia e desce até 30 metros de profundidade ao longo dos 120 metros de comprimento do navio, em meio a uma variedade inacreditável de vida marinha. Sempre que lembro desta viagem, fico imaginando como seria um mergulho lá hoje. E acabo de descobrir que, se um dia tiver a chance de ali voltar, talvez encontre a mesma quantidade de cores e peixes, ou até mais.

Isso graças a um projeto incrível desenvolvido e concluído no mês passado pela Mars, a gigante mundial que produz os M&Ms e outros chocolates . Chamado de Big Build, o projeto plantou 30 mil corais e reconstruiu um recife de 2.500 metros quadrados, no Arquipélago de Spermonde. Como assim plantou corais? O sistema desenvolvido pela Mars consiste em instalar no fundo do mar uma teia contínua de Reef Stars – estruturas hexagonais de aço revestidas de areia que contém fragmentos de corais. E disso, com o tempo, surge um novo recife.

O Big Build serviu de teste para novas parcerias com entidades de pesquisa e conservação e para um novo método que permite aumentar a escala e diminuir o custo da recuperação de corais. Apenas quatro mergulhadores podem instalar até 500 estrelas de recife em somente dois dias. Não é de hoje que a Mars se dedica a recuperar corais. Tudo começou em 2006, no próprio litoral indonésio, e hoje a coisa já se estendeu para outros dez países, de cinco continentes. O Big Build foi crucial para permitir que a empresa consiga cumprir a meta de restaurar 1 milhão de corais até o fim do ano e de atingir uma área recuperada de 185 mil metros quadrados até 2029. O impacto já causado na Indonésia é surpreendente. Houve um aumento significativo no crescimento dos corais (70%), na população de peixes (260%) e de espécies de peixes (64%).

Agora imagina a alegria de um mergulhador. O Arquipélago de Spermonde fica um bocado longe da baía de Tulamben, em Bali, onde desde 1942 repousa o USAT Liberty, após ter sido torpedeado por um submarino japonês. Mas certamente alguns desses muitos novos peixes estão neste exato momento atravessando o Mar das Flores para brincar no navio. Hei de encontrá-los um dia. Assim espero.

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