Microempreendedor precisa entender como separar o dinheiro do negócio do dinheiro pessoal (FG Trade/Getty Images)
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Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 15h00.
Por Paula Esteves*
A diarista Neide Ferreira começou novembro animada. A cada final de ano, as clientes a chamam mais para trabalhar, os horários dobram, as gorjetas aumentam, tudo parece prosperar.
Certamente você já viu ou conheceu alguma Neide por aí. Mas, a realidade por detrás dessa jornada dura de trabalho ninguém vê. Janeiro chega com um fato recorrente: a conta não fecha, apesar de tanto esforço.
Arrisco dizer que três comportamentos prejudicam o MEI – microempreendedor individual e os levam a perder dinheiro justamente no mês de dezembro.
O primeiro é trabalhar muito ao passo que ele deixa de registrar o que está entrando e saindo; o segundo erro é misturar o dinheiro do negócio com o da vida pessoal sem perceber – e se ele faz isso, não sabe ao fato quanto tem de lucro no negócio – e, o terceiro tão grave quanto os demais é confundir faturamento alto com lucro alto.
O MEI olha apenas o dinheiro entrando, mas esquece que dezembro também aumenta muito o gasto operacional: material, reposição, motoboy, embalagens, energia, horas extras e alimentação.
O caixa não mostra lucro. O WhatsApp do banco não mostra lucro. O extrato não mostra lucro, só o registro diário que mostra.
Neide, apesar de ser uma personagem fictícia que trago aqui para ilustrar, ela não está sozinha. Dentre os milhares de brasileiros que sofrem com esse fantasma, ela é mais uma, mais um número.
O fim do ano repete sempre o mesmo ciclo: aumento de vendas e de demanda, muito trabalho, queda na organização, mistura de dinheiro pessoal com o do negócio, falta de controle e ilusão de lucro.
O MEI brasileiro não quebra por falta de venda, ele quebra por falta de clareza do que entra e do que sai. Dos quase 15 milhões de MEIS aproximadamente 6,2 milhões estão inadimplentes.
De acordo com a Receita Federal mais de 340 mil empreendedores podem ser excluídos do Simples por dívidas.
Esse dado é o reflexo da situação em desordem que se encontra boa parte do micro e pequenos empreendedores em nosso País.
Desse total, ainda segundo o levantamento feito pelo órgão, aproximadamente 250 mil possuem mais de seis parcelas vencidas — condição que pode levar à exclusão do CNPJ.
A dica de outro é registrar tudo, mesmo que seja por áudio. Separar o dinheiro imediatamente. Vendeu? Separa na hora o que é da casa e o que é do negócio. Um envelope físico ou uma conta digital já salva o mês.
Importante saber quanto tem de lucro, não de faturamento. Lucro significa tudo que você ganhou e tudo que você gastou. Se essa conta der errada em dezembro, o ano inteiro começa errado.
Neide virou o jogo com um hábito de dois minutos. A diarista, que abordo no início do artigo, mudou o jogo com um hábito simples: mandar um áudio por dia registrando seus gastos e ganhos.
Ao separar o que era pessoal do que era do negócio, ela descobriu:
O microempreendedor brasileiro enfrenta um cenário desafiador: empreende, muitas vezes, por necessidade e sem preparo, acumulando funções sem ter clareza financeira.
Isso porque grande parte dos microempreendedores nunca aprendeu a separar finanças pessoais e do negócio, calcular capital de giro ou planejar o crescimento com dados reais do seu próprio negócio.
Isso mostra uma dinâmica típica do microempreendedor brasileiro: ele vê valores expressivos entrando, mas os gastos acontecendo em parcelas pequenas, fragmentadas e constantes despesas.
O resultado é a chamada miopia financeira.
A partir dos dados que temos, fica evidente que o problema não é a falta de faturamento, e sim a falta de clareza sobre o que é do negócio e o que é da vida pessoal.
Ter o conhecimento do negócio de forma ampla pode reduzir a chance de mortalidade e abrir caminho para um novo tipo de inclusão produtiva: a que ensina a empreender com consciência financeira.
Empreender sem apoio aumenta a chance de falência e endividamento.
Avante mudar essa realidade!
Paula Esteves é especialista em comportamento financeiro do MEI, pesquisadora da Fundação Dom Cabral e fundadora do Instituto Worklover. Criou o Separadin, ferramenta no WhatsApp voltada exclusivamente para microempreendedores que querem separar o dinheiro da vida pessoal do do negócio e descobrir seu lucro real de forma simples e reduzir a mortalidade das empresas no País.