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Nunes e Boulos intensificam ataques em debate e repetem discussões sobre apagão e pauta de costumes

Os temas da cidade ou mesmo o apagão, que ainda hoje deixa mais de 54 mil clientes da Enel sem energia, não foram temas centrais como no encontro anterior, realizado pela Band

 (Antonio Chahestian/RECORD. /Divulgação)

(Antonio Chahestian/RECORD. /Divulgação)

Publicado em 19 de outubro de 2024 às 22h05.

Última atualização em 19 de outubro de 2024 às 23h24.

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O segundo debate entre os candidatos à prefeitura da cidade de São Paulo no segundo turno das eleições municipais foi marcado por uma intensa troca de ataques entre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), a uma semana da votação.

Os temas da cidade ou mesmo o apagão, que ainda hoje deixa mais de 54 mil imóveis sem energia, não foram centrais como no encontro anterior, realizado pela TV Bandeirantes.

Nunes focou em pautas de costumes e apontou o que chamou de contradições de seu adversário sobre a polícia militar, a liberação de drogas e a legalização do aborto, enquanto Boulos voltou a atribuir a culpa do apagão que atingiu a cidade à gestão Nunes, além de levantar supostos crimes de corrupção envolvendo Nunes, citando casos como a máfia das creches e da reportagem do UOL que fala sobre um servidor da prefeitura que é ex-cunhado de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Nem no momento da pergunta dos jornalistas, os candidatos deixaram de se atacar e mudar de tema para reforçar as acusações.

Segundo a emissora, oito pedidos de direito de resposta foram solicitados pelos candidatos durante o debate, sendo cinco de Nunes e três de Boulos. Três foram concedidos para o atual prefeito e dois para o deputado federal.

Troca de acusações marcam o 1º bloco

O debate foi aberto com os candidatos direcionando perguntas um ao outro. Nunes questionou o oponente se ele era “a favor da bandidagem” por suas posições e de seu partido, o PSOL, com críticas à Polícia Militar.

Boulos afirmou defender uma “polícia firme contra o crime, mas respeitosa com o cidadão, independente dele ser negro ou branco ou dele morar na periferia ou nos Jardins”, numa referência à declaração do vice de Nunes, o coronel Mello Araújo, que defendia tratamento diferenciado pela PM.

O psolista usou esse primeiro momento para trazer o tema do apagão na capital, dizendo que ele teria um “pai e mãe” como responsáveis, sendo a Enel a “mãe” e Nunes o “pai” por não ter feito a poda das árvores, prevenindo o risco. Boulos também citou que o contrato destaca que é responsabilidade da prefeitura o corte de árvores e não da concessionária, como se defende o atual prefeito.

Nunes argumentou que o documento mencionado mostra que as árvores em contato com a fiação são de responsabilidade da Enel, e que a concessão, a fiscalização e regulação eram responsabilidades do governo federal. Ele usou o tempo final para perguntar ao deputado por que era contrário ao fim da chamada saidinha a presos, benefício concedido a custodiados em regime semiaberto.

Boulos rebateu, acusando Nunes de ser uma “máquina de mentiras” e voltou ao tema do apagão, afirmando que a responsabilidade pela remoção de árvores com risco de queda é do município e que a regulação é dever da ARSESP, a Agência Reguladora de Serviços Públicos, vinculada ao Estado de São Paulo.

O psolista afirmou que o oponente “não assumia responsabilidades” ou “reconhecia erros”, destacando a criação de uma linha de crédito para apoiar os pequenos empreendedores que tiveram prejuízos com o apagão, feita pelo governo de seu aliado, o presidente Lula (PT).

Na sequência, Boulos questionou Nunes se os moradores de São Paulo que buscassem remédio nos postos de saúde iam encontrar.

O atual prefeito usou parte do tempo para voltar a dizer que o governo federal tinha responsabilidade sobre a regulação e a fiscalização da Enel, e declarou que ele e seu principal cabo eleitoral, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), “não querem a Enel aqui”.

Com relação à saúde, sem comentar a provocação de Boulos, Nunes acusou o governo do ex-prefeito Fernando Haddad de “não ter gestão”, assim como a do PSOL em Belém, do prefeito Edmilson Rodrigues, que não foi reeleito no primeiro turno.

Boulos ironizou a falta de resposta, afirmando que o emedebista não foi treinado para responder se tem ou não remédio e cobrou uma resposta à pergunta, destacando que fará o Poupatempo da Saúde, com todo o tipo de acesso a exames e consultas e que garantirá remédio para toda a cidade.

O psolista também cobrou foco nas questões de São Paulo e o questionou sobre a mudança de posição com relação à vacinação.

Nunes rebateu, reforçando seu discurso usado ao longo da campanha, de que cuida da “saúde financeira da cidade” e que “só quem entregou obras pode falar o que fazer”.

O atual prefeito questionou Boulos se ele era a favor da liberação de drogas, do fim da PM e da legalização do aborto. O psolista voltou a negar a posição contrária à polícia, disse que Nunes queria o dependente químico preso, enquanto ele defende o resgate e o tratamento, e o traficante como caso de polícia.

Sobre o aborto, o psolista esquivou-se afirmando que o prefeito tem que cumprir a lei e que defende a vida da mulher e da criança, incluindo o caso de acesso ao aborto em gravidez após estupro, citando que aliados de Nunes defendem o fim dessa garantia constitucional.

A troca de acusações esquentou com Boulos questionando se Nunes teria entregue dinheiro da prefeitura ao cunhado de Marcola, baseado em uma reportagem do UOL que menciona Eduardo Olivatto, irmão da ex-mulher do chefe da organização criminosa e chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) da Prefeitura de São Paulo.

Como no debate da Band, o psolista voltou a questionar sobre Nunes abrir o sigilo bancário. O prefeito defendeu-se, destacando ser uma pessoa íntegra e correta, mas viu o oponente insistir na questão. “Prestem atenção do porquê o Ricardo Nunes não mostra, não tem transparência e parte para o ataque”, disse o candidato do PSOL.

Nunes pediu o primeiro direito de resposta, mas foi negado. Na sequência, acusou Boulos de ser um “invasor” e estar desesperado. “Cortina de fumaça para esconder que não tem proposta”, provocou.

Boulos também teve que responder sobre sua posição no projeto pelo fim das “saidinhas” no bloco de perguntas dos jornalistas, ainda no primeiro tempo do debate.

O deputado destacou que presos por crimes graves não têm direito à saidinha e que isso foi reafirmado na votação da Câmara em que todos os partidos simbolicamente apoiaram. Boulos aproveitou o tempo de resposta para rebater as acusações de que o PSOL não sabe governar, destacando a falta de sucesso do MDB em Cuiabá e Teresina.

Nunes voltou a dizer que o candidato sempre defendeu a liberação de drogas, a marcha da maconha e a legalização do aborto. E citou a falta de apoio do adversário ao projeto para aumentar a pena contra criminosos, voltando a acusar Boulos de ser contra a PM.

Boulos, na sequência, provocou o prefeito afirmando concordar que “bandido tem que estar preso, e não em debate, inclusive bandido da máfia das creches”, citando o caso investigado pela Polícia Federal que apura um suposto desvio de verbas públicas destinadas ao atendimento de crianças de zero a três anos no município entre 2016 e 2020.

Em julho, a PF indiciou 117 pessoas por suspeitas de participação no esquema. Nunes, que era vereador na época, não está entre os indiciados, mas foi alvo de um pedido da corporação à Justiça para a abertura de um inquérito específico. O prefeito nega participação no caso.

Nunes pediu o segundo direito de resposta, e foi concedido. O prefeito usou o tempo para apontar que o oponente era “agressivo e extremista”, enquanto ele representava o equilíbrio, a experiência contra a inexperiência e a ordem contra a desordem.

Em seguida, apontou que Boulos invadiu o prédio da Fiesp. O deputado federal pediu direito de resposta, mas teve a solicitação negada.

Privatização da Sabesp em pauta

O prefeito foi questionado sobre seu apoio à privatização da Sabesp e o risco de que, com a concessão, ocorram falhas no atendimento, a exemplo do apagão. Nunes alegou que a cidade ganhará com a privatização, citando prazos para investimentos e a previsão de que a empresa será punida caso não cumpra seus serviços.

Boulos disse que a avaliação de Nunes e Tarcísio é de que “privatiza e melhora”, mas acusou os dois de fazer da Sabesp uma “tragédia anunciada”, com a Sabesp virando a “Enel da água”. O psolista também afirmou que Nunes só agiu no apagão por estar em época eleitoral.

O deputado também rebateu os ataques de que seria “extremista” e destacou que defende “famílias sem-teto” e “luta pelas pessoas”. Em seguida, trouxe um caso em que o prefeito teria sido preso em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, por dar tiros para o alto em frente a uma boate.

Nunes, por sua vez, lamentou as acusações, afirmou que Boulos criava mentiras e que há nos contratos de privatização da Sabesp investimentos previstos em R$ 68 bilhões. O emedebista também frisou que “nunca teve condenação” e que, no caso de Embu das Artes, tentava separar uma briga.

Boulos foi questionado sobre como convenceria o eleitor de que está preparado para comandar a maior cidade do país diante da falta de cargo no Executivo. O candidato do PSOL citou que Lula e sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), também não chegaram aos postos de presidente e prefeita, respectivamente, com uma gestão anterior no Executivo, e que isso “não era uma condição”.

Os dois candidatos foram alertados pela produção do debate por falarem com os microfones desligados, durante a fala um do outro.

Segundo bloco tem CEU, ônibus e crime organizado em discussão

O segundo bloco começou como terminou o primeiro, com muitos ataques, mas com mais temas da cidade sendo discutidos.

Em sua primeira pergunta, Nunes questionou Boulos sobre o posicionamento contrário do PSOL em votações na Câmara Municipal que diminuiriam impostos. O deputado negou e disse que aliados do atual prefeito incluíram jabutis no meio da proposta, por isso seu partido votou contra. Boulos voltou a afirmar que o atual prefeito "mente".

Nunes defendeu que sua administração diminuiu impostos, atraiu empresas, como a Netflix, e que a "turma que está com Boulos só quer aumentar impostos".

Na pergunta seguinte, Boulos questionou por que Nunes não construiu nenhum CEU durante sua gestão. Nunes disse que cuidou das unidades que já existiam e que os CEUs prometidos pelo seu governo serão entregues no próximo ano.

O atual prefeito aproveitou o tempo restante para afirmar que Boulos não poderá criar novos empregos por ter depredado a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) durante uma manifestação.

Na tréplica, o deputado disse que Nunes só realiza ataques e não responde aos questionamentos. Boulos prometeu entregar 24 CEUs e direcionar as unidades para atender os jovens no início da vida profissional.

Nunes questionou Boulos sobre uma invasão do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) na Vila Nova Palestina, no bairro da M'Boi Mirim, e disse que o deputado colocou famílias em áreas de mananciais.

Na resposta, Boulos afirmou que Nunes deixou de cumprir que haviam firmados quando Bruno Covas (PSDB) ainda estava na prefeitura para entregar casas para as pessoas da região. O deputado disse que Nunes deixou de atender a população por disputas políticas e questionou o atual prefeito sobre o serviço funerário. Na resposta, o emedebista voltou a vincular Boulos à invasão e disse que, diferente de seu adversário, está entregando o "maior programa habitacional da história da cidade".

Na sequência, Boulos questionou Nunes sobre a falta de entrega de corredores de ônibus. O atual prefeito citou obras que realizou e afirmou que o psolista está "desinformando a população". Sobre o serviço funerário, o emedebista disse que concedeu o serviço para acabar com um suposto esquema de corrupção.

O psolista disse que Nunes falar de corrupção é como o casal Nardoni, preso por atirar a filha pela janela, falar sobre cuidado de criança, além de apontar supostas contradições nas entregas citadas por Nunes e afirmou que vai fazer as obras que melhorarão a vida da população se for eleito.

Apagão volta ao debate

No momento de pergunta dos jornalistas, Boulos e Nunes voltaram a trocar acusações sobre o apagão que atingiu a cidade na semana anterior. Nunes disse que a responsabilidade de romper com a Enel, concessionária responsável pela distribuição, é do governo federal, que apoia Boulos. O deputado federal afirmou que vai trabalhar para acabar com o contrato com a empresa e que a prefeitura precisa cuidar da poda de árvores.

Questionado sobre o enterramento de fios, Boulos disse que, se eleito, vai realizar estudos para viabilizar as obras e buscar ajuda do governo federal e do BNDES para financiar a obra, além de dialogar com o governador Tarcísio de Freitas para buscar uma solução para a população. Na sequência, Boulos acusou Nunes de não dialogar com adversários políticos para tratar de assuntos de interesse da cidade. Na sua resposta, o atual prefeito lamentou o que chamou de atitude agressiva de Boulos, mas evitou falar sobre o tema da pergunta.

Sobre a tarifa de ônibus, Nunes disse que foi o único prefeito que manteve a tarifa inalterada por quatro anos e ainda criou a tarifa zero aos domingos. O atual prefeito prometeu tarifa zero para mulheres com filhos e afirmou que só conseguiu implementar essas medidas por ter deixado São Paulo com saúde financeira. Boulos afirmou que a cidade somente tem uma situação fiscal confortável pelo trabalho de Haddad, que administrou a cidade em 2012.

Questionado sobre como combater o crime organizado no transporte da cidade, Boulos afirmou que terá pulso firme contra o crime organizado e vai revisar todos os contratos com empresas de ônibus. O deputado afirmou que a cidade precisa de um prefeito que não seja conivente com o crime e questionou por que Nunes gravou um vídeo na sede de uma empresa investigada. Nunes disse que sua administração fez uma intervenção na empresa e precisava manter o serviço funcionando.

Considerações finais: a mudança versus a continuidade

No terceiro bloco, os candidatos fizeram suas considerações finais.

Boulos abriu, direcionando sua fala aos eleitores de Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) no primeiro turno.

Relembrando as divergências ideológicas com Marçal e o apoio, neste segundo turno, dado por Tabata e Datena, o candidato do PSOL afirmou aos eleitores dos três que eles "votaram pela mudança, entendendo que a cidade merece mais". Boulos pediu a essas pessoas, contudo, que não se intimidem pelo receio, mentiras e ataques contra ele, e apostassem na "mudança" que ele representa.

O psolista destacou o legado de Marta e prometeu um governo apoiado em especialistas e nas lições que recebeu de cidadãos, anunciando um "pronunciamento nunca visto" na próxima segunda, 28, às 10h.

Nunes, por sua vez, chamou atenção para sua experiência como empresário, presidente de entidades, vereador e vice-prefeito. Lembrou da perda do prefeito Bruno Covas e da pandemia de covid-19, como duras passagens de seu governo superadas. "Elevamos a cidade e ajustamos as contas", afirmou.

O emedebista criticou o oponente por atacá-lo e, segundo ele, ofender a memória de Isabella Nardoni, e disse que sua prestação de contas é limpa. O prefeito também relembrou seu número nas urnas e destacou que com ele a cidade "continuará andando para frente", citando programas de sua gestão.

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