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Censo 2022: Serrano do Maranhão é cidade com maior proporção de pretos

A população de Serrano do Maranhão chegou a 10.202 pessoas, o que representa um aumento de 5,92% em comparação com o Censo de 2010

Censo 2022 (Ministério do Planejamento/Divulgação)

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Agência o Globo
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Publicado em 22 de dezembro de 2023 às 10h51.

Última atualização em 22 de dezembro de 2023 às 11h06.

Formada especialmente por lavradores, pescadores e quilombolas, Serrano do Maranhão (MA) é a cidade com maior percentual de pessoas autodeclaradas pretas do país, segundo dados do Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (22). Ao todo, 58,5% dos habitantes afirmam pertencer a esse grupo étnico.

A população de Serrano do Maranhão (MA) chegou a 10.202 pessoas no Censo de 2022, o que representa um aumento de 5,92% em comparação com o Censo de 2010. Entre o recorte racial, 38,7% dos moradores se autodeclaram pardos e outros 2,7% dizem ser brancos. Indígenas e amarelos são minorias na cidade: somam 0,1% dos habitantes.

Localizada a cerca de 187 km de São Luís, no Maranhão, a cidade foi desmembrada do município de Cururupu em 1994. Antes da emancipação, o município era denominado Povoado Serrano.

Em todo o Brasil, pela primeira vez a população é composta majoritariamente por pessoas pardas. Na comparação com os resultados do Censo 2010, considerando o aumento de 6,5% da população total, destaca-se o crescimento de 42,3% de brasileiros autodeclarados pretos e de 11,9% pardos, enquanto houve um decréscimo de 3,1% da população branca.

O IBGE utiliza o conceito de “raça” como uma categoria socialmente construída na interação social e não como um conceito biológico. Na pesquisa, cada pessoa responde ao IBGE a sua percepção sobre a cor ou raça a que pertence, baseado em critérios como origem familiar, cor da pele, traços físicos, etnia e pertencimento comunitário, entre outros. Além disso, o instituto afirma que essas cinco categorias estabelecidas na investigação (branca, preta, amarela, parda e indígena) também podem ser entendidas pelo informante de forma variável.

No entanto, o manual de entrevista do Censo conceitua cada uma das categorias. A pessoa parda, por exemplo, é definida como aquela "que se declarar parda ou que se identifique com mistura de duas ou mais opções de cor ou raça, incluindo branca, preta, parda e indígena". Já a amarela é definida como "pessoa de origem oriental: japonesa, chinesa, coreana etc".

Quilombolas lutam por regularização

Atualmente, o município é dividido em pequenos povoados. Entre eles, Mocal, Paraíso, Arapiranga, Boa Esperança, Portinho, Santa Filomena, Rosário, Deus-Bem-Sabe, Soledade, Cedro e Cardeal. Na localidade ainda remanescem várias construções antigas, de taipa e pindoba, bem como de adobe, típicas de comunidades quilombolas, que hoje é composta por cerca de 183 famílias, segundo o Censo de 2022.

Nascida e criada no quilombo Boa Esperança II, onde moram cerca de 260 pessoas, a professora Acácia dos Santos, de 57 anos, conta que a vida na cidade é simples e difícil, especialmente para os quilombolas, que enfrentam conflitos agrários por falta de titulação de terras. A área em que vive, por exemplo, é certificada pela Fundação Palmares, mas aguarda há 11 anos a demarcação definitiva pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Falta de oportunidades expulsa jovens

Segundo Acácia, o atendimento hospitalar na cidade é de má qualidade e o acesso às escolas é difícil, fator que dificulta o período letivo das crianças e adolescentes dos quilombos e comunidades interioranas. Próximo ao Boa Esperança II, por exemplo, a professora afirma que só há uma escola que atende crianças até o 3º ano do ensino fundamental. Os que avançam de série precisam percorrer cerca de 4 km para estudar.

— Nós ficamos distante do Centro da cidade, onde a educação e saúde são melhores. Por aqui, nos quilombos a situação é diferente. Quando chove muito os jovens não conseguem ir para a escola porque a estrada fica com difícil acesso por conta da lama. Ainda enfrentam a dificuldade de não terem merenda nas escolas — explica Acácia, que também é coordenadora do Movimento Quilombola do Maranhão.

Em Serrano do Maranhão, a principal fonte de renda da população é a pesca e a agricultura. A falta de oportunidades, no entanto, faz com que muitos jovens deixem o local em busca de emprego e estudo em grandes metrópoles. Foi o que aconteceu com os três filhos de Acácia, de 30, 36 e 38 anos, que se mudaram para o Distrito Federal para trabalhar.

Tambor de crioula é cultura ancestral da cidade

Popular no estado do Maranhão, o tambor de crioula é uma forma de expressão de matriz afro-brasileira ainda bem presente entre as comunidades de Serrano do Maranhão. A tradição envolve dança circular, canto e percussão de tambores. É considerado referência de identidade e de resistência cultural dos negros maranhenses.

Não se pode precisar com segurança as origens históricas do tambor de crioula. No entanto, por meio de documentos impressos e da tradição oral, é possível associá-lo a práticas lúdico-religiosas realizadas ao longo do século XIX por escravizados e por seus descendentes, como forma de lazer e de resistência à escravidão.

O tambor de crioula é praticado como divertimento ou em devoção a São Benedito. Não há local definido, nem época pré-determinada para as apresentações. No entanto, elas são mais frequentes durante o Carnaval e nas festas de bumba-meu-boi. A dança é praticada, em geral, só por mulheres. A coreografia é bastante livre e variada, com passos miúdos e rodopios, conduzidos pelo ritmo dos tambores.

— Aqui em Serrano do Maranhão temos festivais de tambor de crioula, que é considerado nosso patrimônio cultural — conta Acácia.

Algumas características aproximam o tambor de crioula do gênero samba: a polirritmia dos tambores, a síncope (frase rítmica característica), os principais movimentos coreográficos e a umbigada. Esses traços são comuns, por exemplo, ao samba de roda do Recôncavo Baiano, ao jongo praticado na região Sudeste e ao samba carioca (especificamente ao partido-alto, ao samba de breque e ao samba-canção).

2º e 3º cidades mais pretas ficam na Bahia

Depois do Maranhão, que tem Serrano do Maranhão como líder no ranking das cidades com mais pessoas pretas do país, a Bahia ocupa as duas posições seguintes com os municípios de Antônio Cardoso e Ouriçangas. As regiões, segundo o IBGE, têm 55,1% e 52,8% da população autodeclarada preta, respectivamente.

DADOS CENSO 2022 SOBRE COR E RAÇA:

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