Ator protagonizou o vilão Dorian em “O Máskara”, produção estrelada por Jim Carrey. (Reprodução/IMDB)
Colaboradora
Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 14h46.
Peter Greene, ator americano consagrado por interpretar vilões memoráveis em filmes de Hollywood, morreu aos 60 anos em seu apartamento no Lower East Side, em Nova York, na sexta-feira, 12.
A informação foi confirmada pelo seu empresário, Gregg Edwards, à imprensa internacional. A causa oficial da morte ainda não foi divulgada pelas autoridades.
Ator de presença intensa e olhar perturbador, Peter Greene construiu uma carreira no cinema ao interpretar personagens à margem da lei, figuras violentas e tipos psicológicos complexos.
Embora nunca tenha sido um protagonista tradicional de blockbusters, Greene se tornou um nome cult, especialmente entre os fãs do cinema independente e dos grandes filmes dos anos 1990.
Ao longo de sua carreira, entre TV e filmes, Greene atuou em quase 100 produções. Sua trajetória é marcada por escolhas arriscadas, atuações cruas e colaborações com diretores que ajudaram a redefinir o cinema americano contemporâneo.
Dirigido por Nick Gomez, Laws of Gravity é considerado um marco do cinema independente americano dos anos 1990. Peter Greene interpreta Jimmy, um criminoso de baixo escalão que vive à margem do sistema.
O filme se afasta da glamourização do crime e aposta em uma estética quase documental. Greene entrega uma atuação contida, mas carregada de tensão, que chamou atenção da crítica por sua verossimilhança brutal. Muitos analistas veem esse papel como o ponto de virada que abriu portas para colaborações maiores.
A atuação do ator foi elogiada pela naturalidade e pela ausência de glamour, características que se tornariam marcas registradas de sua carreira.
Este é frequentemente apontado como um dos filmes mais impressionantes da carreira de Peter Greene. No filme dirigido por Lodge Kerrigan, ele interpreta Peter Winter, um homem com esquizofrenia que tenta encontrar a filha enquanto é perseguido pela polícia.
A narrativa coloca o espectador dentro da mente fragmentada do personagem, e Greene constrói sua atuação a partir de tiques corporais, respiração irregular e expressões desconexas, evitando caricaturas.
O filme é citado em estudos acadêmicos e cursos de cinema como um exemplo de representação radical da doença mental, e a performance de Greene é considerada uma das mais intensas do cinema independente da década.
O papel de Zed, o segurança sádico envolvido em uma das cenas mais chocantes do filme "Pulp Fiction" de Quentin Tarantino, projetou Peter Greene internacionalmente.
Embora apareça por poucos minutos, sua atuação se tornou referência, e contribuiu para a atmosfera de brutalidade e desconforto que marcou o longa vencedor da Palma de Ouro em Cannes.
Críticos apontam que Greene conseguiu criar um vilão memorável sem exageros, utilizando silêncio, expressão corporal e olhar como principais ferramentas dramáticas.
No mesmo ano, Greene alcançou o grande público ao interpretar Dorian Tyrell, o principal antagonista do personagem de Jim Carrey.
Diferentemente de seus papéis mais realistas, aqui o ator constrói um vilão carismático dentro de um universo mais cartunesco, ao conseguir equilibrar ameaça e exagero — um contraste que evidenciou sua versatilidade.
O filme foi um enorme sucesso de bilheteria e ajudou a fixar sua imagem como vilão clássico dos anos 1990.
Ao longo da década, Peter Greene se tornou presença recorrente em filmes ligados ao neo-noir e ao thriller urbano:
'Os Suspeitos' (1995): participação em um dos thrillers mais influentes da década, dirigido por Bryan Singer. Mesmo em papel secundário, Greene se encaixa no clima de ambiguidade moral do filme;
'Cop Land' (1997): o longa reforça sua associação com narrativas sobre corrupção policial e decadência institucional;
'Blue Streak' (1999): em tom mais leve, mas ainda ligado ao crime, o ator demonstrou versatilidade ao atuar em uma comédia policial sem abandonar sua persona ameaçadora.
Em Training Day, dirigido por Antoine Fuqua, Greene aparece em um papel coadjuvante que reforça o retrato cru da violência urbana em Los Angeles.
O filme, que rendeu o Oscar a Denzel Washington, dialoga diretamente com o tipo de universo que Greene ajudou a construir nos anos anteriores: ambientes hostis, códigos morais frágeis e personagens à beira do colapso.
Nos anos mais recentes, Greene manteve uma carreira constante, alternando cinema, televisão e streaming, com produções como:
'The Bounty Hunter' (2010);
'The Kill Hole' (2012);
Participações em séries como 'Chicago P.D.' e 'The Black Donnellys';
'The Continental' (2023), série derivada do universo John Wick, marcou uma de suas últimas aparições em produções de grande visibilidade.
As escolhas e produções de filme de Peter Greene nunca o enquadraram no perfil de astro tradicional de Hollywood. Seu legado está na intensidade, na coragem de assumir papéis desconfortáveis e na capacidade de transformar personagens secundários em figuras inesquecíveis.
Críticos frequentemente o classificam como um “ator de ator” — respeitado dentro da indústria, admirado por cineastas e lembrado pelo público mais atento ao cinema autoral e aos grandes filmes dos anos 1990.
Seus filmes são atravessados por temas como crime urbano, instabilidade psicológica, violência estrutural e masculinidade tóxica, especialmente no cinema dos anos 1990, período em que o ator se tornou uma referência.