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O rock morreu? Como o gênero musical evoluiu — e hoje hita no TikTok

Apesar da crise do gênero, o rock ainda mantém sua força comercial e cultural, com bandas clássicas e novas encontrando formas de se reinventar

Fleetwood Mac: banda teve um dos álbuns mais vendidos na história (Michael Ochs Archives / Correspondente autônomo/Getty Images)

Fleetwood Mac: banda teve um dos álbuns mais vendidos na história (Michael Ochs Archives / Correspondente autônomo/Getty Images)

Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 06h01.

O ano era 1977 quando a banda americana Fleetwood Mac lançou o álbum Rumours. A história da criação do álbum não demorou para se espalhar: entre separações conturbadas, traições e uma espiral de caos emocional, o disco se tornou um dos maiores sucessos comerciais da história do rock, com mais de 45 milhões de cópias físicas vendidas mundialmente. E, em 2025, virou hit no TikTok.

No fim da década de 70, a banda estava enfrentando uma tempestade pessoal com o fim do casamento de Christine e John McVie; da relação de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, e da crise conjungal de Mick Fleetwood. O conto de Fleetwood, apesar de ter quase 50 anos, conquistou a geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) — mas não o suficiente para salvar o rock.

Para David Marx, autor do livro Blank Space, apesar de não estar bem das pernas e do coração, o rock ainda não morreu. O que aconteceu, segundo ele, foi que a indústria musical rapidamente absorveu e transformou o espírito de rebeldia do gênero, tornando-o uma mercadoria.

A situação é bem mais complexa. Segundo Marx, o crescimento de plataformas baseadas em algoritmos, como o TikTok, tem contribuído para o que ele chama de "monocultura onívora", onde o mainstream não é mais um espaço exclusivo para um gênero ou estilo, mas um espaço vasto que abrange tudo, sem distinção.

O algoritmo da plataforma, ao priorizar conteúdos que maximizam o engajamento, contribui para a criação de uma cultura homogênea, onde qualquer estilo pode ser transformado em um sucesso viral, sem importar sua origem ou autenticidade.

O grunge é pop

Nascido em meados de 1990, o grunge foi um dos movimentos mais impactantes do rock. Bandas como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden conquistaram uma legião de fãs com um som cru e visceral.

O grunge, à época, era a resposta de uma geração à superprodução e ao glamour do rock dos anos 80, com letras introspectivas e um estilo que refletia o mal-estar e a angústia de uma juventude desencantada. O álbum Nevermind (1991), do Nirvana, é considerado como o responsável por levar o gênero a uma nova direção.

O que muitos não imaginavam é que o grunge, quase três décadas após sua explosão, voltaria a ganhar destaque entre os jovens.

No TikTok, o rock se reinventa, com músicas como “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana), "Silver Springs" (Fleetwood Mac) e "Creep" (Radiohead) sendo resgatadas, remixadas e compartilhadas em vídeos que rapidamente se tornam virais. Ao todo, as músicas foram utilizadas em mais de 1 milhão de vídeos na plataforma.

A Geração Z, nascida muito depois da ascensão, agora encontra no TikTok uma plataforma para celebrar a estética e os sons de uma época passada, como se isso fizesse parte de uma rebeldia contemporânea.

FRANKFURT, ALEMANHA - 12 DE NOVEMBRO: A banda Nirvana posou para uma foto em Frankfurt em 12 de novembro de 1991. (Da esquerda para a direita) Dave Grohl (bateria), Kurt Cobain (vocal/guitarra) e Krist Novoselic (baixo). (Foto de Paul Bergen/Redferns)

Nirvana: banda foi sucesso comercial nos anos 90 (Paul Bergen / Colaborador/Getty Images)

Para Marx, essa reinterpretação do grunge no TikTok e seu apelo renovado entre os jovens não é uma redescoberta genuína do espírito do movimento, mas sim uma manifestação de como a cultura do rock foi diluída e absorvida pela indústria.

Marx argumenta que, ao longo do tempo, o rock foi transformado em mercadoria e que, mesmo sendo revivido de maneira nostálgica, perdeu a carga subversiva e autêntica que o caracterizava.

O autor descreve a situação como parte de um processo mais amplo de "reaproveitamento" cultural. A geração atual, segundo ele, consome o grunge de uma maneira que não é mais política ou culturalmente subversiva.

"Kurt Cobain teria certamente desejado que a próxima geração matasse seus ídolos, inclusive ele. Em vez disso, eles estampam o rosto dele em camisetas e chamam isso de 'estilo preppy'", afirma o autor em Blank Space. "O cânone foi abandonado, as subculturas foram reduzidas a meros 'códigos de comunicação' e o mercado engoliu tudo", escreveu.

Rock 'n' money

A visão do rock como mercado, no entanto, não é um fenômeno recente.

Durante o auge comercial da década de 1990, especialmente entre 1991 e 1994, o rock foi a força dominante na indústria musical.

A explosão de bandas como Nirvana e Pearl Jam não apenas consolidou o rock como o gênero de maior sucesso comercial da década, mas também trouxe consigo uma verdadeira revolução na música.

Em 1992, quando o álbum Nevermind, de Nirvana, e Ten, de Pearl Jam, começaram a vender milhões de cópias, as vendas totais da indústria musical dos Estados Unidos atingiram quase US$ 9 bilhões (o equivalente a aproximadamente US$ 20 bilhões ajustados pela inflação), segundo a Recording Industry Association of America (RIAA).

Na época, o rock representava cerca de 30% a 40% do total de vendas no mercado, o que gerava aproximadamente US$ 3,5 a 4 bilhões por ano apenas com as vendas de CDs e fitas cassete.

Bandas de grunge, como Pearl Jam, se destacaram com marcos impressionantes, como o álbum Vs., que vendeu quase 1 milhão de cópias na primeira semana, de acordo com dados da Luminate e da RIAA.

Com a ascensão de outros gêneros, como o hip-hop e o pop, no cenário do streaming, o rock passou por uma fase de adaptação, mas encontrou novas fontes de receita.

Em 2024, a indústria global de música gravada alcançou aproximadamente US$ 29,6 bilhões, segundo a International Federation of the Phonographic Industry (IFPI), enquanto o mercado de música ao vivo gerou mais de US$ 23 bilhões, segundo a Live Nation Entertainment.

O sucesso ficou no passado?

É fato que o rock tem passado por uma crise nas últimas décadas. O gênero, motor cultural de grande parte do século XX, hoje não alcança mais o mesmo domínio que teve em sua era de ouro. Dos 10 álbuns mais vendidos na história do rock, nenhum é recente.

Essa realidade, para especialistas, reflete uma transformação estrutural na forma como a música é consumida e distribuída, um fenômeno que vai muito além das mudanças no gosto musical, mas também está profundamente ligado a transformações econômicas e tecnológicas que moldaram a indústria.

Durante as décadas de 70 e 80, os fãs de rock eram forçados a comprar álbuns inteiros em formatos físicos como vinil, fitas e CDs. Esse modelo criou uma cultura de consumo de "álbuns completos", onde os fãs se dedicavam a ouvir e conhecer o trabalho como uma obra coesa. Com a chegada do streaming, a dinâmica mudou.

Plataformas como Spotify e Apple Music favorecem o consumo por faixas individuais, e a natureza fragmentada do mercado atual — alimentada pelo acesso instantâneo e a escolha ilimitada de músicas — desestabilizou o modelo de sucesso que o rock, com sua cultura de "álbuns conceituais", tinha.

Led Zeppelin

Led Zeppelin: banda marcou os anos 70 (Rob Verhorst/Redferns/Getty Images)

A música se tornou acessível instantaneamente, sem a necessidade de se comprar um álbum inteiro. A praticidade e a conveniência do streaming favoreceram gêneros como o hip-hop e o pop, que se adaptaram melhor à lógica das faixas isoladas, enquanto o rock, com sua estrutura mais voltada ao álbum como um todo, foi marginalizado.

Como apontam analistas da indústria, o sistema de compensação também mudou.

O streaming, embora tenha dado aos artistas uma visibilidade global sem precedentes, paga muito menos por stream do que o mercado de álbuns físicos pagava por venda.

A diferença é enorme: enquanto um álbum físico vendido por US$ 10 a US$ 15 gera mais lucro por venda, um artista precisa de cerca de 250 mil streams para ganhar US$ 1 mil, de acordo com estimativas de plataformas e empresas de royalties. Esse modelo de "pagamento por stream" reduz significativamente a receita dos músicos, ao contrário das vendas de álbuns físicos, que eram mais rentáveis por unidade.

O que sobrou?

Apesar das mudanças significativas no consumo de música, o rock ainda mantém uma presença relevante no mercado. Bandas como Paramore, Metallica, The Rolling Stones e Foo Fighters continuam a ser algumas das mais bem-sucedidas comercialmente — e, mesmo em um mercado saturado de novos estilos, o rock ainda encontra formas de se destacar.

Em 2025, o Paramore ultrapassou 1,5 bilhão de streams no Spotify. A banda, que já conquistou prêmios como o Grammy de Melhor Álbum de Rock em 2024, também viu seu álbum This Is Why ser aclamado pela crítica e dominar as paradas de música alternativa, com mais de 2 milhões de unidades vendidas globalmente. Em termos de receita, a turnê mundial da banda arrecadou mais de US$ 50 milhões, segundo o site Touring Data.

PHOENIX, ARIZONA - 9 DE FEVEREIRO: (NOTA DO EDITOR: A imagem foi convertida para preto e branco) Hayley Williams, da banda de rock Paramore, se apresenta no palco durante o Bud Light Super Bowl Music Festival de 2023 no Footprint Center em 9 de fevereiro de 2023 em Phoenix, Arizona. (Foto de Marcus Ingram/Getty Images)

Paramore: turnê da banda foi sucesso de bilheteria em 2023 (Marcus Ingram / Correspondente autônomo/Getty Images)

The Rolling Stones, uma das bandas mais icônicas da história do rock, continuam a dominar o mercado de turnês. Sua turnê Hackney Diamonds de 2023 arrecadou US$ 250 milhões de dólares e, com mais de 60 anos de carreira, a banda permanece uma força imbatível nas bilheteiras, superando constantemente as expectativas de receita, graças a uma base de fãs fiel e ao apelo contínuo de seus clássicos.

O Metallica, por sua vez, continua a ser uma das bandas de rock mais populares do mundo. Em 2024, o álbum 72 Seasons alcançou a marca de 300 milhões de streams no Spotify. As turnês do Metallica, que percorrem estádios ao redor do mundo, continuam a gerar enormes receitas. Em 2024, a banda arrecadou US$ 350 milhões.

Tudo isso mostra que o rock não está morto. Ele apenas encontrou novos caminhos — e resolveu tirar um pequeno descanso.

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