Netflix compra Warner e indústria reage ao acordo (Jaque Silva/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)
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Publicado em 6 de dezembro de 2025 às 11h37.
Última atualização em 6 de dezembro de 2025 às 11h42.
A Netflix (NFLX) anunciou nesta sexta-feira, 5, que irá comprar a Warner Bros. Discovery (WBD) por US$ 72 bilhões (cerca de R$ 384 bilhões), ou US$ 28 (R$ 149) por ação. O acordo inclui os estúdios de cinema e TV, além da divisão de streaming da empresa, a HBO Max. A oferta da Netflix tem um valor de mercado de aproximadamente US$ 82,7 bilhões (R$ 441 bilhões).
A gigante de streaming superou a oferta da Paramount Skydance de US$ 24 por ação, que abrangia toda a Warner Bros. Discovery, incluindo os ativos de TV a cabo que serão desmembrados.
Com a aquisição da WBD, a Netflix ganha acesso a um catálogo vasto e valioso, incluindo franquias de peso como Harry Potter, Game of Thrones, DC Comics, além dos títulos renomados da HBO, como Friends, The Big Bang Theory, The Sopranos e Succession.
A conclusão da transação está prevista para depois da separação entre Warner Bros. e Discovery Global, que só deve acontecer no terceiro trimestre de 2026.
Porém, a escolha não foi bem-vista pelo mercado cinematográfico.
Netflix compra a Warner: quais são os próximos passos da venda?Para James Cameron, criador de Avatar e Titanic, a aquisição da Warner pela Netflix seria um "desastre". Em entrevista à Matt Belloni, do The Town, em novembro, o diretor não escondeu sua torcida para a Paramount.
"Acho que a Paramount é a melhor escolha. A Netflix seria um desastre. Desculpe, Ted, mas poxa. Sarandos já declarou publicamente que os filmes exibidos nos cinemas estão mortos".
Uma das principais críticas de Cameron é a tentativa do streaming de lançar filmes no cinema apenas para entrar na corrida pelo Oscar. "Um filme deve ser feito como um filme para o cinema, e o Oscar não significa nada para mim se não significar cinema".
Netflix fez proposta mais tentadora pela compra da Warner, diz agênciaSegundo a Variety, diversos diretores do primeiro escalão de Hollywood apelaram ao congresso dos Estados Unidos para impedir que a Netflix compre a Warner. Em uma carta enviada por -email, assinada apenas como "produtores de filmes preocupados", afirmaram que o streaming iria "destruir" o mercado de filmes em salas de cinema.
Também argumentaram que a Netflix "efetivamente colocaria uma corda no mercado cinematográfico", com o que afirmam ser influência suficiente para reduzir a presença dos filmes nos cinemas e forçar a queda das taxas de licenciamento pagas após a exibição nos cinemas.
Paramount acusa Warner de favorecer Netflix na disputa pela venda: 'Injusto'De acordo com a revista "Hollywood Reporter", o Unic, um grupo que representa exibidores cinematográficos europeus, também acredita que a aquisição está fadada ao fracasso.
"Como em outros lugares, os cinemas na Europa dependem de um único produto para sua viabilidade: filmes. E para garantir que possam atrair e atender com sucesso o público mais amplo possível, esse fluxo de conteúdo precisa ser consistente e diversificado, com um período de lançamento exclusivo apoiado por um marketing eficaz. Nesse sentido, a planejada aquisição da Warner Bros. pela Netflix fracassa em todos os aspectos", disse Laura Houlgatte, CEO do Unic.
A executiva ainda acrescenta que a perda de um estúdio "inevitavelmente significará que os cinemas terão menos filmes para exibir ao público, levando à redução da receita, ao fechamento significativo de cinemas e à perda de empregos no setor".
O diretor brasileiro, Kleber Mendonça Filho, representante do Brasil no Oscar de 2026 com o filme "O agente secreto", afirmou na rede social X que "o streaming é uma nova e espetacular forma de ver filmes, mas o streaming não pode ter o poder de acabar com a cultura da sala de cinema. São os cinemas que constroem o caráter e a história de um filme".
Um alto funcionário do governo dos EUA disse a Eamon Javers, da CNBC, que a administração Trump vê o acordo com "grande ceticismo".
A Paramount, que até essa sexta era considerada favorita para conseguir a aquisição, criticou fortemente o acordo, destacando as implicações negativas da escolha da Warner.
"Embora uma transação proposta entre a Paramount e a WBD fosse pró-competitiva e provavelmente tivesse um processo de aprovação favorável e relativamente tranquilo por parte dos órgãos reguladores, uma transação com a Netflix ou a Comcast enfrentaria grande incerteza e significativa oposição por parte das agências de aplicação da lei da concorrência nos EUA e no exterior", escreveram os advogados da Latham & Watkins e da Cravath em nome da Paramount na carta acessada pela Hollywood Reporter.
Catálogo de filmes: "A Netflix não tem o mesmo incentivo para lançar filmes nos cinemas e será incentivada a usar o catálogo de propriedade intelectual de classe mundial da WBD para consolidar o domínio da Netflix no streaming, prejudicando também a distribuição cinematográfica, os artistas e o público".
Baixa nos cinemas: "Se a Netflix se combinar com a WBD, o número de filmes para lançamento amplo nos cinemas diminuirá, afastando ainda mais os consumidores das salas de cinema em direção ao streaming e prejudicando os cinemas que já estão em dificuldades".
Friends à venda: quanto vale o catálogo da Warner comprado pela Netflix?Posicionamento do streaming: "As declarações recentes da Netflix de que continuaria a honrar os compromissos de exibição nos cinemas da WBD caso a adquirisse não aliviam essas preocupações; pelo contrário, as reforçam. Essas declarações são inerentemente temporárias, transacionais e defensivas — visando neutralizar uma teoria óbvia de dano que se espera que as autoridades reguladoras nos EUA e fora dos EUA investiguem".
Ilegalidade da venda: "Quando combinada com a quarta maior empresa do mercado de SVOD – a HBO Max – a empresa resultante teria uma participação de 43% entre os assinantes globais de SVOD. Isso torna o acordo presumivelmente ilegal sob a lei dos EUA, que é ainda menos restritiva do que as leis nas inúmeras outras jurisdições que avaliarão o acordo".