Pop

Como Succession previu a queda da Warner (e quem vai assumir o trono)

Quem levar a Warner terá acesso ao portfólio da Warner, que inclui Harry Potter, Game of Thrones, DC Comics, The Sopranos e a própria Succession

Succession: série pode explicar situação da Warner (HBO/Reprodução)

Succession: série pode explicar situação da Warner (HBO/Reprodução)

Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 14h15.

Às vezes a vida realmente imita a arte. Nos últimos meses, a trama de Succession, da HBO, parece ter deixado a ficção e invadido os bastidores reais da indústria do entretenimento.

Na série, a venda da Waystar RoyCo para uma gigante da tecnologia escancara os conflitos internos de uma dinastia da mídia, enquanto executivos tentam preservar relevância em meio ao colapso do modelo tradicional.

Agora, em 2025, a Warner Bros. Discovery (WBD) (curiosamente a dona da HBO) enfrenta o mesmo dilema: uma disputa pelo controle de seu império, lances hostis, separação de ativos tóxicos e uma tentativa de sobrevivência em um mercado dominado por plataformas digitais.

A briga em nova temporada

A briga pela WBD entrou em nova fase nesta segunda-feira, 8.

A Paramount, após ter três propostas recusadas desde outubro, lançou uma oferta pública hostil de US$ 30 por ação. 

A proposta supera a oferta da Netflix, feita na semana passada, de US$ 27,75 por ação — ambas acima dos US$ 28 considerados pelo mercado.

Com isso, os acionistas da WBD terão que decidir entre as duas gigantes. A oferta da Paramount totaliza US$ 108 bilhões, contra US$ 72 bilhões da Netflix.

David Ellison, CEO da Skydance e arquiteto da proposta da Paramount, defendeu publicamente a transação. “Acreditamos que todos se beneficiarão do aumento da competição, de um gasto maior com conteúdo e de mais lançamentos nos cinemas", disse em comunicado.

As ações da Netflix caíram após o anúncio da Paramount. Às 14h04, no horário de Brasília, os papéis operavam em queda de 3,88%, enquanto a Warner subia cerca de 4% e a Paramount tinha alta de mais de 7,22%.

A vida real imita a arte

Em junho, a Warner anunciou a cisão de suas operações em duas empresas independentes, numa tentativa de proteger seus ativos mais valiosos e responder às pressões do mercado.

  • Warner Bros ficará com os principais motores de crescimento: HBO, Max, Warner Bros. Pictures e DC Studios.
  • Discovery Global herdará os ativos lineares e em declínio, como CNN, TNT Sports e os canais tradicionais da Discovery.

A estrutura reflete a trama de Succession, em que o comprador Lukas Matsson tenta adquirir apenas os ativos digitais da Waystar RoyCo e isolar o canal de notícias ATN, tratado como tóxico.

Na vida real, a separação operacional da WBD segue uma lógica semelhante de preservar os ativos premium e rentáveis, enquanto isola as unidades com receita em queda e alto passivo.

O CEO David Zaslav permanecerá no comando da nova Warner, responsável pelo “lado bom” da operação.

Já Gunnar Wiedenfels, ex-diretor financeiro da WBD, foi designado para liderar a Discovery Global — numa reencenação corporativa da “kill list” da série da HBO.

Realidade vs. ficção

No mundo de Succession, Matsson, um bilionário excêntrico da tecnologia, compra a Waystar RoyCo com capital inflado de sua empresa.

Na vida real, David Ellison, filho do fundador da Oracle e CEO da Skydance Media, tem executado exatamente esse movimento.

Ellison adquiriu a Paramount em 2025, encerrando a saga da família Redstone. Agora tenta consolidar o controle sobre a Warner.

Ao lado de Larry Ellison, usa capital de tecnologia para formar um conglomerado de mídia global — repetindo o arco narrativo de Matsson com GoJo.

O que a Netflix quer com a Warner

Se a aquisição for concretizada, a Netflix terá acesso ao portfólio da Warner, que inclui Harry Potter, Game of Thrones, DC Comics, The Sopranos e a própria Succession.

Succession

Os herdeiros da WayStar Royco em Succession (Succession/Reprodução/-)

Além do conteúdo, a Netflix ganharia infraestrutura de produção física e canais de distribuição globais — elementos que historicamente não faziam parte do seu modelo de negócios, mas que hoje são considerados estratégicos para expansão e diversificação.

A empresa também se posicionaria melhor no mercado de merchandising e franquias, ampliando seu alcance além do streaming. Há possibilidade de atuar em parques temáticos, jogos e licenciamentos.

Reguladores podem travar fusão entre Netflix e HBO Max

A fusão entre duas das maiores plataformas de streaming do mundo deve atrair a atenção de órgãos reguladores nos EUA e na Europa.

A Netflix e a HBO Max juntas teriam um peso significativo no mercado, levantando preocupações antitruste.

A Paramount argumenta que a sua proposta teria menos barreiras regulatórias, ao contrário da combinação Netflix-Warner, que poderia ser vista como ameaça à concorrência.

A Netflix se antecipou a esse risco e ofereceu uma taxa de rescisão de US$ 5 bilhões caso o acordo não seja aprovado.

A Netflix comprou a Warner. E agora, HBO Max?

O fim de uma era na Warner

Desde a fusão com a Discovery, em 2022, a Warner perdeu quase 60% de seu valor de mercado e teve prejuízo contábil de US$ 9,1 bilhões no último ano.

A venda para a Netflix (ou para a Paramount) é vista como saída para aliviar os problemas financeiros da empresa e garantir sua continuidade operacional.

A saída de John Malone do conselho em abril e a reestruturação recente reforçam a sensação de fim de ciclo — semelhante à morte de Logan Roy em Succession, que abriu espaço para a disputa final entre herdeiros e executivos.

Sucession

Logan Roy (Brian Cox) na quarta temporada de Succession (HBO/Divulgação) (HBO/Reprodução)

E quando será o próximo episódio?

Apesar da oferta pesada da Paramount e da proposta estratégica da Netflix, o desfecho da disputa pela WBD permanece em aberto.

O processo de venda ainda passará por diversas etapas — incluindo análise do conselho, votação de acionistas e, sobretudo, o escrutínio de órgãos reguladores nos Estados Unidos e na União Europeia.

No centro da decisão estão questões de concentração de mercado, impacto sobre a concorrência e efeitos no ecossistema global de conteúdo.

Uma fusão entre Netflix e Warner criaria um grupo com presença dominante no streaming, portfólio de franquias líderes e acesso direto a produção, distribuição e exibição — do mobile aos cinemas. Reguladores já sinalizaram preocupação com a consolidação excessiva no setor.

A Paramount, por sua vez, posiciona sua oferta como um caminho menos problemático do ponto de vista antitruste e tenta mobilizar acionistas descontentes com os rumos estratégicos da WBD, apontando uma suposta preferência injustificada pela proposta da Netflix.

Nos bastidores, conselheiros, investidores institucionais e analistas acompanham os lances com atenção. Com o setor em processo de reestruturação global, a negociação pela Warner é mais do que uma aquisição.

Trata-se da disputa pelo comando simbólico da próxima fase da indústria do entretenimento — uma era em que os antigos impérios de mídia lutam para sobreviver ao domínio das plataformas digitais.

Assim como em Succession, onde nenhum dos herdeiros assume o trono da Waystar RoyCo, o futuro da Warner pode ser decidido por forças externas: algoritmos, balanços e fusões. E o roteiro corporativo de Hollywood ainda parece longe de ter sua cena final.

Acompanhe tudo sobre:SériesWarnerParamountNetflix

Mais de Pop

Guerreiras do K-Pop vira franquia bilionária após bater recordes na Netflix

O mapa do BBB: quais estados tiveram mais vencedores

The Boys: quando vai estrear a última temporada? Veja data

Clássicos do Studio Ghibli voltam aos cinemas em dezembro; veja datas