Alberto Moretto: "Com 18 anos, tudo que a gente tinha era 100.000 reais. E gastamos errado" (Divulgação/Divulgação)
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Publicado em 7 de dezembro de 2025 às 10h24.
O mercado de alimentação saudável segue em alta, mas vive um cenário desigual.
Enquanto alimentos tradicionais avançam 2,3%, categorias ligadas à saudabilidade crescem mais de 30%, puxadas por um consumidor que troca açúcar e ultraprocessados por conveniência proteica.
Dentro desse contexto, a Dr. Peanut descolou do setor e acaba de ultrapassar 500 milhões de reais em faturamento acumulado desde 2019.
No centro desse salto está o Grupo Supley, maior produtor de proteína e creatina do país, que assumiu 100% da operação da marca curitibana em janeiro de 2025.
A companhia nasceu em 2006, quando três jovens de 18 a 22 anos, entre eles Alberto Moretto — hoje presidente do grupo — decidiram criar a Max Titanium, primeira marca da casa.
Em menos de dois anos, a integração da Dr. Peanut transformou a Supley num player que não vive apenas de performance esportiva.
A empresa entrou no território dos snacks doces saudáveis, ampliou portfólio, ajustou gramaturas e abriu novos canais — da farmácia ao marketplace. E a virada começou com decisões pouco glamourosas.
"Com 18 anos, tudo que a gente tinha era 100.000 reais. E gastamos errado", diz Moretto.
"Compramos equipamentos que não funcionaram. Quando fomos rodar, o misturador vazava pó para todo lado. Vendemos tudo pelo preço do aço inox por quilo e tivemos que ir ao banco buscar recurso", afirma.
O futuro do grupo passa por consolidar essa nova frente.
A Supley projeta elevar os snacks saudáveis a um novo patamar em 2026, com expansão de categorias e mais presença no varejo alimentar.
A previsão é de um crescimento entre 10% e 12% no próximo ano — acima do mercado.
O grupo nasceu em 2006, antes mesmo de existir como grupo. A Max Titanium foi a primeira marca.
Moretto e os sócios eram consumidores de suplementos, mas sem conhecimento técnico. Ele só resolveria isso ao cursar engenharia de alimentos, já pensando nas necessidades da empresa.
O início veio marcado por erros caros. A compra dos primeiros equipamentos quase travou o negócio.
“Quando ligamos a máquina, ela vazava pó para todo lado. A gente tinha que descartar matéria-prima. Foi um começo bem desafiador”, diz.
Sem caixa, operaram de forma manual até conseguirem novo financiamento.
A aposta em diferenciação virou a única saída. O trio decidiu mirar qualidade em um mercado que ainda patinava na regulação — algo que só se estabilizaria em 2018.
A estratégia funcionou: os primeiros produtos chamaram atenção e criaram base para um crescimento consistente.
Em 2018, a Supley fez sua primeira aquisição: a Probiótica, marca fundada em 1986, mas que estava sob o comando de um grupo farmacêutico canadense.
A compra transformou a empresa na maior fabricante de suplementos da América Latina.
O passo abriu sinergias industriais, ampliou portfólio e deu fôlego comercial. Mas a pandemia interrompeu o ritmo. O fechamento das academias reduziu a demanda.
O rebote viria meses depois: mais consumidores passaram a priorizar saúde e alimentação, abrindo espaço para novas categorias.
Em 2022, já avaliando empresas do universo saudável, a Supley iniciou negociações para adquirir parte da Dr. Peanut.
O acordo se consolidou em janeiro de 2023. A marca faturava 60 milhões de reais em 2022; em 2024, já integrada, bateu 160 milhões de reais.
O grupo viu espaço para sinergias imediatas: distribuição, marketing e expansão de portfólio.
A Dr. Peanut tinha destaque na pasta de amendoim com proteína e zero açúcar, mas presença limitada em pontos de venda. A Supley acelerou essa lacuna.
“Com a nossa força comercial e de marketing, sabíamos que a Dr. Peanut ia dar um salto”, diz Moretto.
A previsão se confirmou. A categoria de “spreads”, onde a pasta de amendoim está classificada, cresceu 35%, enquanto alimentos avançaram 11%, segundo dados citados pelo executivo.
Em 2025, a empresa reduziu a pasta tradicional de 400 g para 250 g.
O objetivo era acompanhar o momento de consumo e tornar o produto mais acessível.
A mudança derrubou o ticket médio, mas aumentou o volume vendido: +10% em unidades e maior penetração nos lares brasileiros.
O movimento também abriu portas no varejo. Produtos maiores não encaixam nas prateleiras de farmácias, por exemplo, mas as novas gramaturas permitiram ocupar esse canal e acelerar a diversificação.
Com a aquisição total em 2025, a Dr. Peanut virou plataforma de snacks doces saudáveis.
O portfólio se expandiu para wafer, alfajor e a barrinha Dr Bar, todos apoiados na proposta de proteína e ausência de açúcar.
A estratégia mira mais momentos de consumo: café da manhã, lanche da tarde e pós-jantar. O objetivo é que produtos que não sejam pasta de amendoim representem 25% da receita da marca.
Também há um novo empurrão digital.
O e-commerce, antes pouco relevante, já movimenta mais de 5 milhões de reais e cresce 30% ao ano. A tendência deve puxar todo o mercado para o online, avalia o grupo.
Hoje, 77% do faturamento vem do Sul e Sudeste. São Paulo sozinho responde por 40%. Mas a marca avança no Nordeste. Ceará, Pernambuco e Bahia somam mais de 7 milhões de reais em 2025.
As redes sociais viraram motor de vendas. A campanha “É bom, hein?”, com o chef Henrique Fogaça, aproximou a marca do consumo diário — não só do público fitness.
A Supley ainda fecha números do grupo, mas estima crescimento acima de 10% no próximo ano.
Para a Dr. Peanut, 2026 deve consolidar a fronteira dos snacks saudáveis. O pipeline inclui novos sabores, novas barras, formatos menores e categorias adicionais.
"A expectativa é ter crescimento. Os outros snacks vão ganhar relevância dentro do portfólio", afirma Moretto.
A missão é clara: ocupar mais momentos da rotina e disputar espaço com players globais em uma categoria que deixou de ser nicho.
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