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Benefício 'diferentão': startup permite que empresa pague parte da viagem de férias de funcionários

Com modelo de negócio e a retomada plena das viagens após as restrições da pandemia, empresário espera faturar 15 milhões de reais em 2023

Bruno Carone, da Férias & Co: startup quer que empresas paguem por parte da viagem de férias dos funcionários como benefício (Férias & Co/Divulgação)

Bruno Carone, da Férias & Co: startup quer que empresas paguem por parte da viagem de férias dos funcionários como benefício (Férias & Co/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 12 de novembro de 2023 às 08h00.

Cada vez mais, empresas estão olhando para o pacote de benefícios que oferece aos funcionários como uma parte estratégica na retenção e captação de novos talentos. Pesquisa da fintech Onze, especializada em saúde financeira e previdência privada, aponta que 75% dos RHs já perderam talentos estratégicos no momento da contratação por causa do pacote de benefícios oferecido.

Para escapar dessa estatística, empresas têm procurado por benefícios “diferentões”. Tem quem dê dinheiro para fazer curso, quem ajuda a pagar a conta de luz e até quem abastece o carro do funcionário.

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O empresário Bruno Carone mirou nisso para lançar seu negócio, a Férias & Co. A empresa permite que as companhias dêem como benefício para seus funcionários parte das viagens que eles terão nas férias. 

“Já existe o benefício academia, o auxílio psicológico, mas a viagem também é fundamental para que as pessoas voltem renovadas, descansadas”, diz. “Só que não existia um benefício nesse setor. Foi quando pensei em estruturar o negócio”. 

Na prática, funciona assim: o funcionário de uma empresa que conta com a Férias & Co como benefício contrata um pacote mensal, que pode variar conforme o desejo da companhia. Geralmente, esse pacote é de 200 reais mensais.

Como benefício, o funcionário paga só metade desse valor (100 reais por mês, ou 1.200 reais por ano) e a empresa, a outra metade. No fim de um ano, é como se a companhia tivesse pagado R$ 1.200 reais para o funcionário usar em suas viagens. E ele pode escolher como usar: comprando passagens, alugando hotéis ou experiências.

Para visualizar o negócio, imagine uma junção do Gympass com o Decolar.com. A primeira comparação é porque a Férias & Co funciona como um serviço de recorrência para os funcionários, que pagam mensalidades em parceria com a empresa para ter acesso a um benefício. A segunda porque as contratações acontecem dentro da plataforma da startup, mesmo. Por lá que a pessoa compra as passagens e faz as reservas.

“Mas o mais interessante: a pessoa não precisa esperar acumular esse dinheiro para usar os créditos”, afirma. “A partir do momento que ela contrata, já recebe todos os créditos do ano. Assim, no primeiro dia com a assinatura da Férias & Co, já pode pagar uma viagem”.

Com esse modelo de negócio e a retomada plena das viagens após as restrições da pandemia, Carone espera faturar 15 milhões de reais em 2023. 

Como o Férias & Co começou 

Carone entrou no setor turístico assim que saiu da faculdade. Formado em marketing, terminou a graduação na Espanha. Quando voltou para o Brasil, teve a ideia de abrir um negócio para ajudar os jovens a se hospedar de maneira mais simples e barata. “Aqui, na época, em 2010, era difícil encontrar na internet pousadas ou albergues baratos”, afirma. “As pousadas ainda não estavam online”. 

Ele criou um negócio, então, para facilitar a inclusão dessas pequenas hospedagens na internet, o OndeFicar.com. A facilidade vinha do fato de que, diferente de outros sites do mesmo perfil na época, aqui o consumidor pagava a taxa do marketplace direto para o marketplace, e o valor da pousada, direto com a pousada. “Aqui no Brasil, os sistemas eram mais complexos”, diz. “Os hotéis recebiam tudo e no final do mês, vinha um boleto da plataforma cobrando a comissão do site”. 

Em 2014, ele vendeu a operação para um grupo americano, que transformou a operação na CloudBeds, presente hoje em 30 países com gestão para hoteleiros.

Depois do turismo, estudou mais sobre empreendedorismo e, em 2017, lançou um clube de cerveja vinculado a um jogador de futebol. “A ideia era fazer um produto para os fãs do futebol terem produtos com cervejas especiais, recebendo duas bebidas por mês”, diz. “Foi uma experiência importante de recorrência”. 

Juntando a recorrência do clube de cerveja e o turismo da OndeFicar.com, Carone ganhou experiência para lançar a Férias & Co em 2020. A ideia veio de uma conversa com o sócio que tinha no clube de cerveja. O parceiro tinha um hotel e vendia pacotes para clientes irem pagando ao longo dos meses e poderem usufruir das acomodações uma vez por ano. “Pagava uma mensalidade e viajava”, diz. “E ele me falou que gostaria que as empresas oferecessem isso como benefício. Foi quando começamos a estruturar o negócio”. 

Como a Férias & Co funciona

A ideia do negócio funciona num sistema de crédito para viagens. O funcionário entra na plataforma e escolhe o plano que quer. A empresa também define a coparticipação mensal que fará para os funcionários que aderirem ao benefício. A quantia é revertida 100% em créditos para que eles escolham hospedagens e passagens aéreas. 

Com os valores, que podem chegar a 18.000 reais por ano, o funcionário escolhe para onde quer ir. 

“A empresa não paga nada para gente”, diz. “Não tem taxa, mensalidade. Todo valor que ela paga vai para os créditos do funcionário. A gente fatura quando o funcionário contratar uma viagem, porque aí cobramos uma comissão em cima disso”. 

Segundo Carone, com esse modelo de negócio, ele consegue desviar de uma briga comum do setor: a do preço. Isso porque nesse setor, o cliente tem pouca fidelidade. Ele acaba escolhendo o lugar que é mais barato. “Se ele define um destino, ele vai procurar na internet onde vai encontrar a passagem mais barata”, diz. “Não importa qual site, importa que é o mais barato”.

“No Férias & Co, o cliente já tem a empresa pagando uma parte da viagem”, diz. “Ele vai querer usar nossa plataforma, porque já vai ser abatido o preço que a empresa escolheu pagar como contrapartida”. 

A média, segundo Carone, é que a empresa pague cerca de 100 reais por mês. Ou seja, 1.200 reais por ano para o funcionário viajar. Como o funcionário também dá outros 100 reais mensais, já vai para 2.400 reais por ano de crédito para viagem. Se ela custar mais, o funcionário pode pagar o restante em até 10 vezes. 

Hoje, já estão com 130 clientes empresas. Um deles, recém-chegado, é o Grupo Stone. Só no primeiro dia, foram 3.000 funcionários da empresa que aderiram ao benefício, com 100 reservas feitas. 

Quais são os desafios e os próximos passos 

O setor de turismo passou por alguns abalos nos últimos meses. Empresas que vendiam viagens flexíveis, como foi o caso da 123 Milhas, entraram em recuperação judicial e cancelaram viagens. Segundo Carone, é um modelo de negócio diferente do da Férias & Co.

“A diferença é que eles seguravam dinheiro para comprar as passagens no futuro, comprando em pacotes grandes para negociar com as fornecedoras, mas houve um aumento de preços muito significativo, atrelado ao aumento de demanda, e não conseguiram comprar no preço que venderam”, diz. “Na Férias & Co, é como se fosse uma agência tradicional neste caso. A pessoa compra e, na mesma hora, já recebe o voucher. Não seguramos o dinheiro de ninguém na negociação”. 

Para o futuro, a meta é popularizar ainda mais o serviço. “O mercado é muito grande e tem poucas empresas falando desse benefício”, afirma. 

Outra meta é ampliar a operação para fora do país. “Muitas empresas que estão no Brasil têm pacote de benefícios globais”, afirma. “ Ela precisa atender a filial do Brasil, mas também a do México e dos EUA. E como a gente já tem viagens no mundo inteiro, é só uma questão fiscal para oferecer isso para outros países”. 

Para o presente, o plano é fechar 2013 com uma receita projetada de 15 milhões de reais. Em 2022, foi de 4 milhões de reais. Ou seja, quase quadruplicar de tamanho. 

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