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Casas Bahia tem trimestre pintado de vermelho; CFO mostra o copo meio cheio

Empresa vê redução de estoques mais rápida, apesar de maior nível de promoções machucar receita e rentabilidade

Casas Bahia: Black Friday vai ser mais racional (Casas Bahia/Divulgação)
Casas Bahia: Black Friday vai ser mais racional (Casas Bahia/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

27 de dezembro de 2023 às 17:32

Em meio a um processo de reestruturação, a Casas Bahia teve mais um balanço manchado de vermelho, com prejuízo de R$ 836 milhões, contra perda de R$ 203 milhões um ano antes.

Pressionada por descontos e fechamento de lojas, a receita caiu 6%, para R$ 6,59 bilhões, com Ebitda negativo em R$ 66 milhões.

Mas o CFO Elcio Ito já vê uma melhora — segundo ele, mais rápida do que a diretoria esperava, especialmente no processo de renegociação de dívidas com os bancos e na redução de estoques. De R$ 1 bilhão de reduções previstas, R$ 750 milhões já ocorreram nesse trimestre. “Não se transforma uma empresa dessa magnitude em um trimestre”, afirma Ito.

Para excluir os impactos da redução de estoques e de demissões e fechamentos de lojas, a companhia apresentou resultados pro forma.

Considerando esses efeitos, a receita da companhia foi de R$ 6,99 bilhões, em estabilidade com os números do mesmo trimestre de 2022. O prejuízo líquido pro forma foi de R$ 376 milhões. E o Ebitda caiu 9%, para R$ 354 milhões.

Desde o segundo trimestre a companhia decidiu parar de vender produtos que não eram seu “core business”. Deixou de vender fraldas, bebidas ou itens de higiene pessoal, por exemplo, deixando esses produtos para seus sellers do marketplace. Para isso, liquidou o que tinha de produtos de baixo giro.

Mas acabou identificando produtos como eletrodomésticos e eletrônicos que já estavam há mais de seis meses parados do estoque, que respondem por 20% da redução total prevista.

Os R$ 250 milhões restantes devem vir em promoções da Black Friday. Se comparado com o mesmo trimestre do ano passado, o estoque ficou R$ 1,5 bilhão menor, já que a companhia também foi mais conservadora na compra de produtos.

“Essa Black Friday vai ser um pouco diferente, vamos entrar mais racionais, já que os estoques estão menos abarrotados”, diz Ito, vendo um movimento similar também nos concorrentes.

No terceiro trimestre, com o impacto da liquidação, o GMV, sigla usada para o valor total das mercadorias vendidas no site, caiu 4%. No 1P, vendas diretas da Casas Bahia, a queda foi de 6%, mas no 3P, como é chamado o marketplace, as vendas cresceram 13%.

Do lado dos custos e despesas, a ordem é uma ‘gestão espartana’, diz Ito. Neste trimestre, a empresa fechou 6 mil postos de trabalho e fechou 38 lojas – a companhia calcula que sejam necessários de 50 a 100 fechamentos. Também readequou 3 centros de distribuição.

A Casas Bahia também conseguiu reduzir em 30% as despesas com marketing em relação à receita e cortou o capex em 60% no acumulado de nove meses. Mas não conseguiu evitar a queima de caixa de cerca de R$ 300 milhões.

Mesmo com os R$ 622 milhões do follow on, a empresa terminou com o mesmo caixa do trimestre passado, de R$ 2,8 bilhões. “Fomos pagando dívidas e não renovando linhas de financiamento, então é como se perdêssemos esse caixa”, diz Ito.

Um FIDC anunciado nesta manhã deve ajudar a otimizar o crediário e reduzir a exposição bancária. Inicialmente, o veículo vai buscar uma captação de R$ 600 milhões e num segundo momento vai contar com aportes adicionais, chegando até R$ 1,5 bilhão.

Mais de R$ 5 bilhões do crediário são financiados com empréstimos da companhia com bancos. “Se a gente perdeu muito crédito após a Americanas, esse é um movimento para que passamos a liderar crédito de uma outra forma.”

Com uma estrutura de dívida ainda frágil, a empresa está, porém, confiante de que a redução dos juros básicos e a identificação de novas fontes de receita e potenciais cortes adicionais de custos possam fortalecer o resultado no quarto trimestre.

“À medida que a Selic cai, eu diminuo esse custo de dívida. Cada 1 ponto percentual menor reduz nossa despesa financeira em R$ 160 milhões por ano”, calcula o CFO. Isso sem contar o que a redução dos juros pode gerar na demanda ao aliviar o acesso ao crédito dos consumidores.

Por isso, a empresa acredita que até o segundo semestre de 2024 pode ficar com o fluxo de caixa positivo. Para o quarto trimestre, a empresa já fez R$ 500 milhões de empréstimos bilaterais com bancos.

“Há uma preocupação do mercado legítima com o vencimento da dívida no ano que vem, mas grande parte é com esses bancos que nos emprestaram agora. Então, ficamos confiantes de que eles vão renovar os empréstimos”, argumenta Ito. A Casas Bahia tem R$ 1,9 bilhão em vencimentos no ano que vem. Desses, cerca de R$ 1,2 bilhão são com os bancos.

Com a ação negociada a R$ 0,57, a companhia convocou uma assembleia com acionistas para votar o agrupamento dos papéis. Nesse ano, as ações acumulam queda de mais de 70%.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado