'Câmera inteligente': a tecnologia da Noleak é inserida no maquinário (Canva/EXAME)
Repórter
Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 09h44.
Última atualização em 2 de dezembro de 2025 às 15h59.
A Noleak, startup de inteligência artificial que transforma câmeras comuns em sensores inteligentes, vai fechar 2025 com R$ 3,8 milhões em receita e crescimento mensal médio de 10% nos últimos três anos.
A empresa desenvolve uma tecnologia própria que aprende a identificar comportamentos fora do padrão, como uma moto parada em local incomum ou um funcionário dormindo no posto de trabalho.
A base do produto é uma rede neural batizada de Ágata, em homenagem ao filme "Minority Report". Nele, a vidente Agatha ajuda uma unidade policial a prender assassinos antes que eles cometam o crime.
É a mesma lógica por trás do produto da Noleak. Conectada as câmeras já instaladas em condomínios, ruas ou fábricas, a ferramenta consegue gerar alerta em tempo real para situações suspeitas.
Um mesmo sistema pode alertar sobre invasões em condomínio, funcionários ausentes, uso indevido de celulares por porteiros ou presença de motos paradas por tempo excessivo em áreas abertas.
Cada licença custa, em média, R$ 85 por câmera por mês — e já é usada em mais de 400 instalações no país.
“Nascemos com uma tecnologia de reconhecimento de caminhada, que ajudou a resolver um roubo milionário de ouro. Mas aquele produto era caro e pouco escalável”, conta Nicolau Ramalho, CCO da Noleak. “O desafio foi desconstruir essa base e chegar num modelo que gerasse valor real para o mercado.”
A história da Noleak começa em 2018, quando o cientista Rafael Libardi, fundador técnico da empresa, ajudou na investigação de um assalto ao terminal de cargas da Brinks em Guarulhos.
Os criminosos estavam totalmente disfarçados, o que tornou quase impossível a identificação. Mas, usando uma técnica chamada gait recognition, Libardi conseguiu provar que o padrão de caminhada de um dos suspeitos era compatível com imagens de antes do crime.
O episódio rendeu o primeiro investimento da empresa: R$ 340 mil por 1% da operação. O valor foi usado para desenvolver uma base tecnológica mais acessível, o que permitiu lançar o primeiro produto comercial em 2021.
Depois, a Noleak passou a adquirir clientes do segmento de portaria remota. São aqueles postes de câmeras vistas na frente de casas e condomínios, de empresas como SegurPro e Gabriel.
A aplicação mais recente — e a de maior valor — está nas indústrias.
Em um projeto com a Belém Bioenergia, a tecnologia identificou desalinhamentos em esteiras de arrasto e evitou paradas de produção que custavam até R$ 1,5 milhão por ocorrência. Com a IA monitorando o equipamento, a empresa deixou de perder até R$ 15 milhões por ano. O investimento para a Belém, segundo a Noleak, foi de cerca de R$ 100 mil.
Em outra frente, a Noleak auxilia a Receita Federal na checagem de manifestos de carga em portos, usando câmeras para estimar, por exemplo, o volume de minério transportado em esteiras.
Cada aplicação é personalizada, mas parte do mesmo motor: a Ágata. A rede neural é treinada para reconhecer padrões e desvio de padrão com base em metadados gerados pelas imagens, o que ajuda na capilaridade do produto.
A Noleak evita competir com gigantes do setor de segurança, como Intelbras, que atuam com identificação facial e leitura de placas.
“Escolhemos não entrar no oceano vermelho da segurança tradicional. Nosso foco está em gerar valor, não em vender mais do mesmo”, afirma Ramalho.
A startup aposta no conceito de "escrever para a câmera": o operador pode simplesmente descrever o que deseja monitorar — por exemplo, “identificar moto parada por mais de 10 minutos” — e o sistema se adapta para reconhecer esse comportamento.
Mesmo com crescimento acelerado e tecnologia proprietária, a Noleak não busca rodadas de investimento.
“Somos uma startup de base tecnológica que já gera caixa”, diz o executivo. A estratégia da empresa, no entanto, é ser adquirida por uma grande corporação nos próximos três anos.
O perfil ideal, segundo Ramalho, inclui grupos de segurança patrimonial, empresas de tecnologia e operadoras de telecomunicações. “Nossa tecnologia usa muita rede de dados e tem sinergia com empresas que querem escalar portfólios digitais.”