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Emelec x Atlético-MG: Equador cancela partidas, mas Libertadores é mantida; entenda a crise no país

Fora dos gramados da Libertadores, Equador vive onda de protestos e ameaça de impeachment do presidente

Atlético-MG em partida anterior da Libertadores: clube brasileiro joga contra o Emelec no Equador nesta terça-feira, em meio a clima tenso nas ruas do país (Pedro Vilela/Getty Images)

Atlético-MG em partida anterior da Libertadores: clube brasileiro joga contra o Emelec no Equador nesta terça-feira, em meio a clima tenso nas ruas do país (Pedro Vilela/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 28 de junho de 2022 às 00h00.

Última atualização em 28 de junho de 2022 às 00h21.

Protestos, greve geral e votação sobre um possível impeachment do presidente. É esse o cenário em que a terça-feira, 28, começa no Equador, país que chega a duas semanas de caos social e sedia na noite de hoje partida entre o brasileiro Atlético-MG e o equatoriano Emelec.

A disputa entre Emelec e Atlético-MG está marcada para 19h15 desta terça-feira na cidade de Guayaquil, válida pela rodada de ida das oitavas de final da Libertadores.

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As incertezas sobre o cenário da disputa surgiram sobretudo nos últimos dias, depois que a Federação Equatoriana de Futebol cancelou quatro jogos do campeonato local em meio ao estado de exceção decretado pelo governo no país.

A decisão, até o momento, não se estendeu à Libertadores, competição que engloba times de toda a América do Sul. O Emelec afirmou na segunda-feira, 27, até o fechamento desta reportagem, que a partida seguia de pé.

Além do Atlético-MG, o Equador também recebe na quinta-feira, 30, outra partida de uma competição internacional, desta vez pela Sul-Americana, entre o argentino Lanús e o equatoriano Independiente del Valle.

Diante do acirramento dos conflitos no país, o Equador ficou em estado de exceção decretado pelo governo até o último sábado, 25, com exército nas ruas. Depois, no domingo, 26, o governo anunciou que reduziria o preço dos combustíveis em 10 centavos, na tentativa de acalmar os ânimos.

VEJA TAMBÉM: Presidente do Equador reduz preços dos combustíveis após pressão das ruas e do Congresso

Não funcionou totalmente: líderes de movimentos indígenas locais e a oposição ao governo seguem protestando, e o Congresso do país volta a discutir nesta terça-feira um possível impeachment do presidente de direita Guillermo Lasso.

Guayaquil, casa do Emelec e onde o Atlético-MG joga, é a maior cidade do Equador e um dos epicentros das manifestações.

Apesar dos conflitos, os atleticanos já se encontram no Equador para a disputa contra o Emelec. O time fez um último treino no estádio Monumental na segunda-feira, e a preparação havia sido finalizada pelo técnico Turco Mohamed.

Final da Libertadores também será no Equador

No entanto, o impacto da situação no Equador sobre o futebol sul-americano pode ir além das partidas desta semana.

Isso porque o mesmo estádio Monumental de Guayaquil terminou sendo o palco escolhido pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) para a grande final da Libertadores 2022, antes da onda de protestos começar no país.

A final está marcada para outubro, e levaria, em situações normais, um grande fluxo de turistas sul-americanos ao Equador — o que pode vir a ser uma nova dor de cabeça à Conmebol caso a situação do país não se estabilize até lá.

A Conmebol faz desde 2019 final única da Libertadores, com partida em campo neutro escolhido previamente, independentemente dos times classificados.

VEJA TAMBÉM: Para metade dos brasileiros, desemprego e inflação são os maiores problemas do país, diz EXAME/IDEIA

Não é a primeira vez que imbróglios políticos e sociais nos países sul-americanos impactaram o futebol nos últimos meses.

Em abril, um jogo do Flamengo contra o Sporting Cristal quase foi adiado por um toque de recolher no Peru, em meio também a protestos. O governo do país chegou a mandar cancelar todos os eventos do futebol, incluindo os da Libertadores, mas a partida terminou ocorrendo. No ano passado, a Conmebol também teve de encontrar às pressas um novo anfitrião para a Copa América, depois que Colômbia e Argentina desistiram do evento - a primeira por viver uma onda de protestos, e a segunda, pelo risco da covid-19 que assolava a região no período (a competição terminou vindo parar de última hora no Brasil).

Por que o governo do Equador é questionado

No caso do Equador, a insatisfação generalizada ganhou corpo sobretudo no mês passado, puxada pelos aumentos nos preços dos combustíveis e com manifestações em todo o país.

Os protestos são liderados por movimentos indígenas, que já haviam sido um dos principais grupos em manifestações de 2019, antes da pandemia (na ocasião, contra outro governo, e tendo a rejeição a um acordo com o Fundo Monetário Internacional como pauta principal).

Protesto em Guayaquil: insatisfação generalizada contra o governo do presidente Guillermo Lasso (Gerardo Menoscal/Agencia Press South/Getty Images)

Além dos combustíveis, entre as demandas dos manifestantes estão soluções para o preço crescente dos alimentos, combate à criminalidade e o desemprego. Após o governo reduzir o preço dos combustíveis em 10 centavos no fim de semana, os líderes afirmam que o valor é insuficiente e pedem agora redução de 40 centavos.

Ao menos cinco pessoas já morreram e centenas ficaram feridas nos protestos das últimas duas semanas.

A pressão cresce contra o governo do presidente Guillermo Lasso, eleito no ano passado com promessas liberais. Lasso é o primeiro mandatário em 14 anos sem apoio do correísmo, grupo do ex-presidente de esquerda Rafael Correa (2007-2017).

O presidente fez carreira como banqueiro e está em seu primeiro cargo eletivo: havia disputado (e perdido) as eleições presidenciais em 2013 e 2017, até vencer o candidato do correísmo em abril de 2021. O resultado do pleito esteve longe de unânime, como a EXAME mostrou na ocasião — uma falta de apoio que se reflete em partes nos protestos atuais.

Guillermo Lasso: eleito com promessas liberais e oposição ao "correísmo" (Gerardo Menoscal/Agencia Press South/Getty Images)

Com as ruas em polvorosa, no Congresso, parlamentares de oposição ligados ao ex-presidente Rafael Correa apoiam majoritariamente um impeachment de Lasso.

A oposição tenta usar um dispositivo na Constituição que aponta que uma destituição do presidente pode ocorrer caso haja “grave crise política e comoção interna”. Parte da oposição é contra o impeachment, no entanto, afirmando que a destituição seria um ataque à institucionalidade.

Junto aos protestos, o Equador vive há semanas um período de greves em setores como transportes, além de barricadas e ruas fechadas nacionalmente. O governo Lasso afirma que os protestos podem interromper a produção de petróleo no país ainda nesta semana. O Equador é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, e o insumo responde por quase metade das exportações equatorianas.

Apesar da agitação do lado de fora, os torcedores atleticanos esperam boas notícias ao menos dentro das quatro linhas no Monumental em Guayaquil. Se vencer o Emelec, o Atlético-MG chegará a sua primeira vitória de sua história em solo equatoriano. Mas, fora do gramado, os problemas não devem cessar tão cedo para a população no Equador.

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