Agência de notícias
Publicado em 9 de agosto de 2024 às 07h37.
Dez meses depois dos ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel, e do início da guerra em Gaza, Estados Unidos, Egito e Catar deram um ultimato para israelenses e representantes da organização palestina: é hora de concluir um acordo de cessar-fogo, que também permita o retorno dos mais de 100 reféns que ainda estão no enclave. Os israelenses já confirmaram presença em uma rodada de conversas, marcada para a semana que vem, mas o Hamas ainda não respondeu.
Em comunicado emitido pelo presidente dos EUA, Joe Biden, do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e pelo emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, os líderes afirmam que trabalharam “por muitos meses para forjar um acordo-base que agora está na mesa, faltando apenas concluir os detalhes da implementação”.
"É hora de trazer alívio imediato tanto para o povo sofredor de Gaza quanto para os reféns sofredores e suas famílias", diz o texto. "Chegou a hora de concluir o acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns e detidos."
A proposta defendida em maio pela Casa Branca, e que a carta conjunta tenta aprovar, prevê três fases: na primeira, haveria um cessar-fogo completo por seis semanas, com a saída das forças de Israel de áreas urbanas, seguido pela libertação de alguns dos reféns capturados pelo Hamas e de palestinos mantidos em prisões israelenses.
Na segunda fase, todos os reféns seriam libertados, e Israel retiraria suas forças remanescentes em Gaza. Na terceira, os corpos dos reféns que morreram no cativeiro seriam devolvidos, e teria início a reconstrução do enclave, uma tarefa colossal que contaria com o apoio de nações árabes, de forma a não permitir que o Hamas volte a se armar.
Nos ataques de 7 de outubro, cerca de 1,2 mil pessoas morreram em Israel, segundo as autoridades locals — em Gaza, são 39.699 mortos até a quinta-feira, de acordo o Ministério da Saúde local.
A proposta foi analisada, criticada, elogiada e recebeu sugestões de mudanças de Israel e Hamas, mas jamais houve um acordo definitivo. E se antes o tom dos americanos era de pressão apenas sobre o Hamas, agora a paciência de Washington assim como do Cairo e de Doha, que têm recebido as conversas chegou ao fim.
“É hora de libertar os reféns, iniciar o cessar-fogo e implementar este acordo”, diz a carta conjunta. “Como mediadores, se necessário, estamos preparados para apresentar uma proposta final que resolva os problemas de implementação restantes de uma maneira que atenda às expectativas de todas as partes.”
O texto propõe que a reunião inicial dessa fase de negociações ocorra na quinta-feira que vem, 15 de agosto, no Egito ou no Catar, “para fechar todas as lacunas restantes e iniciar a implementação do acordo sem mais delongas”.
Israel confirmou presença: em comunicado, o gabinete do premier, Benjamin Netanyahu, disse que enviará "a delegação de negociadores ao local a ser determinado, a fim de finalizar os detalhes e implementar o acordo-base". O Hamas ainda não respondeu.
A declaração conjunta ocorre em um momento de extrema tensão não apenas em Gaza, mas em todo o Oriente Médio. O conflito de baixa intensidade entre Israel e o Hezbollah, aliado do Irã, travado desde outubro do ano passado, tem ganhado contornos de guerra total, com bombardeios frequentes e um número crescente de vítimas.
“O Estado de Israel almeja paz, prosperidade e estabilidade na fronteira norte de ambos os lados”, afirmou o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em comunicado divulgado no X nesta quinta-feira. "Se o Hezbollah continuar sua agressão, Israel lutará contra ele em uma guerra muito severa. Considere não embarcar em nenhuma aventura.”
Na terça-feira, caças israelenses voaram a baixa altitude sobre a capital do Líbano, Beirute, quebrando a barreira do som em alguns momentos — dezenas de países pediram a seus cidadãos que evitem a região, e companhias aéreas cancelaram voos para Tel Aviv, Beirute e Teerã.
Além do Líbano, existe a crescente expectativa por uma retaliação militar do Irã contra Israel,
após o assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, pouco depois da posse do novo presidente do Irã, Massoud Pezeshkian, no dia 31 de julho. Apesar dos israelenses não terem assumido o ataque, supostamente realizado com o apoio de agentes da Guarda Revolucionária, lideranças em Teerã consideram inevitável uma resposta, e vários governos tentam evitar que isso aconteça, ou que, se ocorrer, não seja a fagulha que faltava para uma guerra de grande porte.
A morte de Haniyeh, que era o responsável pelas negociações de cessar-fogo, também altera as dinâmicas das conversas. Logo após a confirmação do assasinato, o grupo palestino escolheu seu lider, Yahya Sinwar, como o representante político, incluindo nas discussões sobre o futuro de Gaza.
"As negociações foram gerenciadas pela liderança, e Sinwar não estava longe do processo de negociação. Ele fazia parte dos detalhes", disse Osama Hamdan, ex-representante do Hamas no Líbano, à agência turca Anadolu. "O problema não era o Hamas, mas Israel, (o primeiro-ministro Benjamin) Netanyahu e os EUA, que não foram sinceros em sua mediação ou em sua tentativa de pressionar por um cessar-fogo".
Israel, assim como o faziam os EUA, acusou o Hamas de travar as negociações em rodadas anteriores, mas agora também deixa claro que Sinwar não seria um interlocutor aceitável: o líder do grupo palestino é considerado um dos arquitetos dos ataques de 7 de outubro, e está no topo da lista de alvos do Estado judeu.
“A nomeação do arqui-terrorista Yahya Sinwar como o novo líder [político] do Hamas, substituindo Ismail Haniyeh, é mais uma razão convincente para eliminá-lo rapidamente e varrer esta organização vil da face da Terra”, afirmou no X, na quarta-feira, o chanceler israelense Israel Katz.