Fronteira entre Líbano e Israel: a divisa entre os países é considerada uma das mais tensas do Oriente Médio. Cidadãos dos dois países não podem passar por ali (REUTERS/Ali Hashisho/Reuters)
Leo Branco
Publicado em 13 de outubro de 2020 às 06h19.
Os governos de Israel e do Líbano devem participar de negociações nesta semana para resolver uma disputa territorial marítima entre os dois países. Trata-se de mais um esforço diplomático no Oriente Médio após a normalização das relações entre Israel e Emirados Árabes Unidos e Bahrein, em setembro.
As conversas serão o primeiro contato direto entre diplomatas dos dois países em 30 anos. Apesar de vizinhos, Israel e Líbano são inimigos e, tecnicamente, estão em guerra. A divisa entre os países é considerada uma das mais tensas do Oriente Médio. Cidadãos dos dois países estão proibidos de cruzar a fronteira. Turistas com carimbos de entrada no Líbano costumam passar por uma checagem rigorosa ao entrar em Israel - e vice-versa.
Por trás das conversas desta semana estão reservas de gás natural na costa leste do Mar Mediterrâneo. Ambos países reclamam as riquezas naturais como estando dentro de suas fronteiras.
A solução para a disputa territorial é do interesse de todos. Pelo lado de Israel, a ideia é elevar a autonomia energética. Quase 70% da energia consumida no país é importada de vizinhos como o Egito.
Para o Líbano, a questão é mais dramática. Desde o ano passado, o país sofre uma grave crise econômica só piorada com a mega explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto. O episódio deixou mais de 200 mortos e destruiu boa parte do centro da capital libanesa.
Com a disputa territorial resolvida, os governos dos dois países poderão atrair investimentos das petroleiras pra região.
A disputa entre os países sobre as fronteiras marítimas começou em 2011, época em que Israel chegou a um acordo com o governo da ilha de Chipre, no mar Mediterrâneo, para a exploração de gás natural naquelas águas. O acordo teve como ponto de partida os limites territoriais estabelecidos por outra negociação, desta vez entre Chipre e Líbano, que nunca chegou a ser ratificada pelo parlamento libanês.
De lá para cá, diplomatas americanos têm conversado com ambas as partes para resolver o impasse, de acordo com a análise da Al-Jazeera, canal de notícias popular no mundo árabe.
Entre os motivos para a demora nas negociações está a oposição do grupo paramilitar Hezbollah, influente na política do Líbano. Agora, as negociações ocorrem em meio às negativas do grupo em participar das conversas diplomáticas. Em paralelo, o governo dos Estado Unidos vêm aumentando as sanções a indivíduos e organizações com algum tipo de conexão com o Hezbollah.
As negociações serão mediadas por enviados dos Estados Unidos e da Organização das Nações Unidas (ONU) na cidade libanesa de Naqoura, na fronteira com Israel.