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Assange se declara culpado em tribunal nos EUA e é posto em liberdade

A juíza do caso ainda desejou "feliz aniversário" antecipado para o fundador do WikiLeaks

Assange deixa tribunal nas Ilhas Marianas do Norte após declarar-se culpado (Yuichi YAMAZAKI/AFP)
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 26 de junho de 2024 às 05h48.

Última atualização em 26 de junho de 2024 às 11h51.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, declarou-se culpado pela acusação de espionagem e foi condenado durante audiência, num tribunal dos Estados Unidos nas Ilhas Marianas do Norte, na noite desta terça-feira 25. A acusação envolveconspiração para obter e divulgar milhares de documentos secretos de defesa norte-americana envolvendo operações militares noa Afeganistão e Iraque, além de correspondências entre diplomatas.

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Por causa de um acordo que fez com Washington, mesmo condenado, oativista foi posto em liberdade, encerrando 14 anos de umcenário envolvendo prisões, asilo diplomático e batalhas jurídicas.

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A audiência começou após as 20h, horário de Brasília, e durou cerca de três horas. A juíza do caso, Ramona Villagomez Manglona, aceitou o acordo entre procuradores norte-americanos e a defesa de Assange.

Manglona disse ser "justo" e "razoável" aceitar como sentença os 62 meses de prisão que Assange já cumpriu no Reino Unido. Por fim, a juíza ainda desejou "feliz aniversário" antecipado para o fundador do WikiLeaks, que comemora 53 anos na próxima semana.

Depois de deixar o tribunal, Assange foi para o aeroporto e embarcou em voo rumo a Camberra, na Austrália, seu país natal. Sua chegada é estimada para as 7h de quarta-feira, 26, horário de Brasília. Assange deve viver no país com a esposa e os dois filhos.

Quem é Julian Assange

A vida em tribunais de Assange não começou agora. Em 1995, ele foi multado por crimes cibernéticos em uma Corte da Austrália, seu país natal, e só evitou a prisão porque prometeu não cometer infrações novamente.

Em 2006 ele fundou o WikiLeaks. O projeto afirma ter publicado mais de dez milhões de documentos, incluindo relatórios oficiais confidenciais relacionados a guerras, espionagem e corrupção.

Em 2010, o site divulgou um vídeo de um helicóptero militar dos EUA que mostrava 18 civis sendo mortos na capital do Iraque, Bagdá. Foi um terremoto político à época.

Também publicou milhares de documentos confidenciais fornecidos Chelsea Manning, ex-analista de inteligência do Exército dos EUA.

Os arquivos indicavam que militares dos EUA tinham matado centenas de civis em incidentes não relatados durante a guerra no Afeganistão.

Em 2019, o Departamento de Justiça dos EUA descreveu os vazamentos como "um dos maiores contendo informações confidenciais na história dos EUA".

Por que Assange morou na Embaixada do Equador?

Autoridades suecas emitiram um mandado de prisão contra Assange em 2010, acusando o ativista de abusar sexualmente de uma mulher e de molestar outra enquanto estava no país. Ele negou os crimes. A Suécia também pediu ao Reino Unido a extradição de Assange.

Após dois anos de batalhas legais, a Justiça do Reino Unido decidiu que ele deveria ser extraditado para a Suécia para interrogatório. Apoiadores de Assange disseram à época que, na verdade, era uma tática do governo dos EUA para, assim que possível, levar o ativista para seu território e julgá-lo lá.

Nesse tempo, ele procurou asilo político na embaixada do Equador. A concessão foi dada pelo então presidente do país, Rafael Correa, que não tinha relações tão amistosas com os EUA e que apoiava o Wikileaks. Assange passou sete anos na embaixada.

Em abril de 2019, o então novo presidente do Equador, Lenin Moreno (aliado de Correa, mas que depois rompeu com ele), ordenou que Assange deixasse a embaixada devido ao seu "comportamento descortês e agressivo. Havia suspeitas de que Assange estava acessando documentos de segurança da embaixada.

Assange foi detido dentro da embaixada pela polícia britânica e depois julgado por não se submeter aos tribunais para ser extraditado para a Suécia. Mais tarde, ele seria condenado a 50 semanas de prisão.

Em novembro de 2019, autoridades suecas desistiram do processo contra Assange porque os supostos crimes teriam prescrito.

Campanha presidencial dos EUA em 2016

Durante a campanha de 2016, o WikiLeaks divulgou milhares de e-mails roubados do Comitê Nacional Democrata, levando a revelações que envergonharam o partido e a campanha de Hillary Clinton.

Em 2019, um grande júri federal indiciou Assange por 18 acusações relacionadas com a divulgação pelo WikiLeaks de um vasto conjunto de documentos de segurança nacional. Estes incluíam materiais enviados à organização por Chelsea Manning, uma antiga analista de inteligência do Exército dos EUA que entregou informações sobre planejamento e operações militares quase uma década antes.

Caso fosse condenado, Assange poderia ter enfrentado uma pena máxima de 170 anos numa prisão federal.

Pressão por acordos

O acordo com os EUA não foi inesperado. No início deste ano, o primeiro-ministro Anthony Albanese, da Austrália, sugeriu que os procuradores dos EUA precisavam concluir o caso, e o presidente Joe Biden sinalizou que estava aberto a uma resolução rápida.

Altos funcionários do Departamento de Justiça aceitaram um acordo sem pena adicional de prisão porque Assange já tinha cumprido mais tempo do que a maioria das pessoas acusadas de um crime semelhante — neste caso, mais de cinco anos de prisão no Reino Unido.

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