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Argentina: cinco pontos para entender o país e a eleição polarizada

Os principais desafios do próximo presidente da terceira maior economia da América Latina serão a inflação de quase 140%, uma crise cambial e as contas públicas esgotadas

Argentina: país enfrenta uma severa crise econômica (Andrew Peacock/Getty Images)

Publicado em 21 de outubro de 2023 às 09h00.

Última atualização em 21 de outubro de 2023 às 10h43.

Os argentinos vão às urnas no próximo domingo, 22, para escolher seu novo presidente.Após primárias realizadas em agosto, cinco candidatos seguem na disputa. Entre os principais candidatos estão o ultraliberal Javier Milei, o ministro da Economia Sergio Massa e a representante da oposição Patricia Bullrich.

Os principais desafios do próximo presidente da terceira maior economia da América Latina serão a inflação de quase 140%, uma crise cambial e as contas públicas esgotadas. O país tem ainda 40% da população na pobreza.Para entender melhor essa eleição, e o que está em jogo, veja cinco pontos sobre o nosso vizinho.

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Inflação descontrolada

A inflação de dois dígitos tem sido a norma na Argentina há mais de uma década, mas em setembro atingiu 12,7%, a uma taxa anualizada de quase 140%, um recorde em mais de 30 anos. Em 1989 e 1990, o país sofreu hiperinflação, com taxas de 3.000% ao ano.  Em 2001, a Argentina viveu sua pior crise, com confisco de depósitos bancários e default da dívida pública de US$ 100 bilhões (R$ 231 bilhões na cotação da época). A revolta social deixou 39 mortos e levou à renúncia do presidente e a uma sucessão de cinco governantes em uma semana. A desconfiança da moeda nacional estabeleceu a cultura de utilizar dólares. A pobreza atingiu 40,1% no primeiro semestre de 2023. A taxa de desemprego é de 6,2%, praticamente a mesma de uma década atrás.

Peronismo

A vida política argentina é atravessada pelo peronismo, partido fundado pelo três vezes presidente Juan Perón. Em sua primeira presidência (1946-1951), Perón promoveu medidas que permitiram a entrada em massa de pessoas no mercado de consumo, embora com forte personalismo e viés autoritário. Sua esposa, Eva Duarte, mais conhecida como Evita, foi um apoio fundamental na defesa dos "descamisados", com ações diretas de ajuda social e promoção do voto feminino. Evita morreu de câncer aos 33 anos e consolidou um mito levado ao cinema e ao teatro em todo o mundo.

Outros peronistas que marcaram a vida argentina foram o duas vezes presidente Carlos Menem (1989-1999), um liberal, e o casal Néstor e Cristina Kirchner (centro-esquerda), que se sucederam no poder em três mandatos entre 2003 e 2015. O bipartidarismo entre peronistas e radicais (social-democratas) dominou a política até 2015, quando a coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio, liderada por Mauricio Macri, venceu as eleições.

Ditadura

A Argentina sofreu uma ditadura, entre 1976-1983, que deixou cerca de 30 mil desaparecidos, segundo as organizações de direitos humanos do país. Centenas de bebês nascidos em cativeiro foram retirados de suas mães presas. Em sua busca, um grupo de mulheres criou a mundialmente conhecida organização Mães e Avós da Praça de Maio (Madres e Abuelas de la Plaza de Mayo).

Em 1985, a Argentina realizou um julgamento histórico das Juntas militares. Os sobreviventes relataram um plano sistemático para perseguir e matar opositores, muitos deles jogados no rio de la Plata nos chamados "voos da morte". Esse julgamento, realizado em uma democracia frágil, foi levado ao cinema em "Argentina, 1985", que concorreu em 2023 ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Depois de anular as leis de anistia em 2005, a Justiça condenou mais de mil repressores em cerca de 330 julgamentos. Dezenas ainda estão sendo fundamentados.

Riquezas naturais

Com 2,8 milhões de quilômetros quadrados, segundo país em tamanho na América Latina, atrás do Brasil, a Argentina tem inúmeras paisagens, da Cordilheira dos Andes às Cataratas do Iguaçu, passando pelas geleiras da Patagônia.

Este país de 45 milhões de habitantes possui um dos maiores depósitos de hidrocarbonetos não convencionais, Vaca Muerta, além de uma enorme riqueza em lítio e potencial em energias renováveis.

Sua extensa costa marítima garante recursos pesqueiros. O fértil Pampa, na planície central, é um grande centro produtivo que coloca a Argentina entre os principais produtores de alimentos.

Maradona, Messi, Francisco e Che

Com dois dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos - Diego Maradona e Lionel Messi -, a Argentina ganhou três Copas do Mundo: as de 1978, 1986 e 2022. O argentino com maior peso internacional é o Papa Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires, entronizado em 2013. O revolucionário Ernesto "Che" Guevara também foi muito influente.

A Argentina tem cinco ganhadores do Prêmio Nobel. São dois da Paz, e três, de ciências (Medicina e Química), formados na Universidade pública de Buenos Aires. Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo, Julio Cortázar, Ernesto Sábato, Jua José Saer, Ricardo Piglia e César Aira são expoentes de sua literatura. O tango é uma marca inconfundível de sua música. A pianista Martha Argerich, o maestro Daniel Barenboim, a artista plástica Marta Minujín e a dançarina Marianela Núñez brilham no mundo.

Eleição na Argentina

Como funciona a eleição argentina?

Com Agência AFP.

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