Andrew Cuomo: quem é o governador de NY que renunciou por assédio
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, é uma das principais figuras políticas dos EUA, no poder há uma década
Carolina Riveira
Publicado em 10 de agosto de 2021 às 14h09.
Última atualização em 11 de agosto de 2021 às 14h08.
A política de Nova York está prestes a adentrar uma nova era. O atual governador, Andrew Cuomo, renunciou ao cargo nesta terça-feira, 10, após acusações de assédio por mulheres que trabalhavam em seu gabinete.
A renúncia já era vista como uma possibilidade nas últimas semanas, à medida em que Cuomo passava a correr risco real de impeachment, mesmo com a maioria na Assembleia Legislativa sendo de seu partido.
Uma investigação sobre as denúncias mostrou que Cuomo apalpou, beijou e abraçou mulheres sem consentimento e que fez comentários inadequados a um total de 11 delas. A procuradora-geral Letitia James, responsável pelo caso, acrescentou que o gabinete do democrata se tornou um "ambiente de trabalho tóxico" que permitiu que o assédio ocorresse.
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O caso marca o fim de um dos governos mais longevos da política de Nova York.
Aos 68 anos e ex-procurador do estado, Cuomo está no governo desde 2011, pelo Partido Democrata. Ele tem sido repetidamente eleito desde então, o que é autorizado pela legislação do estado, e chegava a ser cotado para uma candidatura à presidência.
Antes dos casos de assédio ganharem repercussão, o governador havia afirmado que concorreria novamente à reeleição no pleito de 2022.
Sua última eleição havia sido em 2019, quando venceu as primárias do Partido Democrata um ano antes contra a estrela da série Sex and The City, Cynthia Nixon (e ganhou com 65% dos votos). Na eleição geral, bateu o republicano Marc Molinaro.
Dinastia
Os Cuomo são uma das famílias mais importantes da política americana. Cuomo é filho do ex-governador Mario Cuomo, que esteve no cargo em NY por três mandatos, de 1983 a 1994.
Andrew Cuomo foi ainda casado com Kerry Kennedy, filha do ex-senador Robert F. Kennedy (irmão do ex-presidente John F. Kennedy e também morto por um extremista). Com Kerry, teve três filhas, até se divorciar em 2005.
A relação do governador com o irmão Chris Cuomo, jornalista e apresentador da CNN americana, é também criticada por opositores, que acusam o programa de Chris de fazer uma cobertura favorável ao irmão.
Na vida pessoal, o governador já se declarou católico, mas foi criticado por parte da igreja ao apoiar direitos civis como casamento para pessoas do mesmo sexo e direitos das mulheres ao aborto, que foram garantidos em Nova York durante seus governos.
Nos últimos meses, além dos desafios da pandemia, uma das principais medidas do governador foi o apoio à descriminalização da maconha recreativa em Nova York (antes, somente o uso medicinal era autorizado).
A medida havia sido criticada por Cuomo na primária contra Cynthia Nixon em 2018 (o tema era uma das pautas da atriz), mas o governador, já pressionado pelas acusações de assédio, mudou de ideia e apoiou a lei sancionada neste ano.
Pandemia
O último mandato de Cuomo foi marcado sobretudo pelo combate à pandemia ao longo do ano passado.
Nova York foi um dos primeiros epicentros do coronavírus nos EUA, mas conseguiu com o tempo controlar o número de casos. A gestão de Cuomo foi frequentemente centro de embates com o governo Donald Trump, republicano.
No entanto, a atuação na pandemia foi ainda alvo de críticas, com opositores dentro e fora do Partido Democrata afirmando que Cuomo poderia ter feito mais para evitar a tragédia.
Outra polêmica envolvendo seu governo foi uma investigação que acusa Cuomo de ter subnotificado mortes por covid-19 em casas de repouso para idosos no estado em cerca de 50% - com o objetivo, segundo a acusação, de não dar munição para que opositores políticos criticassem ou investigassem sua gestão da pandemia, incluindo o governo federal de Trump.
Em outro caso, que os parlamentares de Nova York investigavam no processo de impeachment, o governador também foi acusado de ter favorecido a família e auxiliares próximos no oferecimento de testes contra a covid-19 no começo da pandemia, quando os kits ainda eram escassos.
O futuro em NY
O caso Cuomo deve chacoalhar as estruturas do Partido Democrata em Nova York, um dos redutos eleitorais mais importantes do país.
Com a renúncia, assume o governo sua vice, Kathy Hochul, que será a primeira mulher governadora de Nova York na história . Cuomo deixará o posto em 14 dias.
A vaga para candidato democrata para as eleições de 2022 também fica agora mais aberta - antes, haviam primárias no partido, mas ganhar de Cuomo em Nova York era quase impossível. Uma das candidatas cotadas nas primárias, além da vice Kathy Hochul, é a própria procuradora que liderou a investigação contra Cuomo, Letitia James.
(Nos EUA, apesar do conflito de interesse, é comum que procuradores estaduais depois engrenem na política, como fez o próprio Cuomo no passado.)
Uma vez que a cidade de Nova York (a mais populosa do estado de mesmo nome) é amplamente progressista, o estado costuma eleger majoritariamente governadores democratas, de modo que as primárias do partido são as etapas mais importantes na prática. O último republicano eleito foi somente George Pataki, governador entre 1995 e 2006.
O mesmo se repete nas eleições presidenciais no estado. Em 2020, Joe Biden ganhou entre os nova-iorquinos com 61% dos votos contra Donald Trump. O último presidente republicano a ganhar em Nova York foi Ronald Reagan.