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De Kennedy a Obama: o que deixaram os últimos 10 presidentes americanos

Relembre o que marcou os últimos presidentes americanos, de JFK a Reagan, Nixon e Obama

Kennedy, Reagan, Bush e Obama (da esq. para a dir.): os mandatários americanos moldaram o século 20 e a entrada no século 21 (Montagem/EXAME/Getty Images)

Kennedy, Reagan, Bush e Obama (da esq. para a dir.): os mandatários americanos moldaram o século 20 e a entrada no século 21 (Montagem/EXAME/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 1 de novembro de 2020 às 15h42.

Última atualização em 28 de agosto de 2021 às 09h17.

A eleição americana acontece hoje entre o presidente republicano Donald Trump, que busca a reeleição, e o democrata Joe Biden, que foi vice-presidente na gestão de Barack Obama. A eleição tem sido tratada como uma divisora de águas nesta década, e vai colocar em embate duas visões relativamente diferentes de política econômica, energética e gestão. O candidato que vencer pode moldar a forma como o mundo agirá com relação a temas prioritários nos próximos anos.

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Na história americana, cada eleição foi decisiva para a humanidade, uma vez que se trata da maior economia do mundo e com decisões capazes de impactar todo o globo. Até Donald Trump, os EUA tiveram 44 presidentes, todos homens. O único negro foi Barack Obama. Nenhum sofreu impeachment, embora Richard Nixon tenha renunciado, em 1974, em meio ao escândalo do Watergate. 

Do grupo de ex-presidentes americanos, quatro morreram durante o mandato de causas naturais e quatro foram assassinados (os mais famosos sendo Abraham Lincoln e John F. Kennedy). A presidência mais longa foi de Franklin Delano Roosevelt, que morreu de causas naturais no quarto mandato, em 1945. Seu recorde não deve ser batido: desde 1951, a 22ª Emenda da Constituição americana passou a proibir que um presidente seja eleito mais de duas vezes.

Nesta lista, relembre os últimos presidentes americanos antes de Donald Trump e o que mudou na política e economia em seus mandatos -- da Guerra Fria à crise de 2008.

JFK: escalada das tensões com a União Soviética e assassinato no fim do mandato (Alfred Eisenstaedt/Pix Inc./The LIFE Picture Collection/Getty Images)

John F. Kennedy (1961-63 - Democrata)

Kennedy, o "JFK", já foi eleito em uma transição de tempos. Como os candidatos de hoje com as redes sociais, o presidente é conhecido por ter dominado antes dos demais a "nova tecnologia" da época: a televisão.

Bonito, carismático e vindo de uma família rica e influente nos EUA, tendo outros parentes políticos, Kennedy se deu imediatamente bem com a TV, um de seus trunfos para vencer a eleição de 1960 contra o republicano Richard Nixon (que viria a ser presidente anos depois). Sua esposa, Jacqueline Bouvier, a “Jackie” Kennedy, também se tornou admirada por sua beleza, estilo e gosto por artes e preservação histórica. O casal chegou a ser conhecido como uma espécie de "realeza americana".

Kennedy foi presidente no auge da Guerra Fria e teve de lidar com tensões com a União Soviética e com Cuba -- em sua gestão ocorreram os episódios da Baía dos Porcos e da Crise dos Mísseis, um dos momentos em que a Guerra Fria mais se aproximou de fato do território americano. Kennedy também deu algum espaço ao avanço do movimento negro na busca por direitos civis, embora mudanças práticas nas leis não tenham sido concluídas antes de sua morte. JFK foi assassinado por Lee Harvey Oswald em 1963, assassinato que até hoje é tema de teorias e debates nos EUA.

Presidente Lyndon B Johnson (à esq.) em negociação com Luther King: pressão do movimento pelos direitos civis marcou mandato do presidente (Hulton Archive/Getty Images)

Lyndon B. Johnson (1963-69 - Democrata)

Johnson era o vice de John F. Kennedy quando este último foi assassinado. Assim, assumiu o restante do mandato com uma nação em luto e terminou sendo reeleito um ano depois, desta vez para um mandato próprio. Johnson foi presidente durante o auge do movimento dos direitos civis e coube a ele terminar o processo começado por Kennedy. Em meio à ampla pressão do movimento negro com nomes como Martin Luther King e Malcon X, culminou no Civil Rights Act de 1968. Foi também durante seu mandato que avançaram o Medicare e o Medicaid, programas para oferecer planos de saúde à população pobre e idosa -- Johnson optou por não avançar em uma maior universalização do sistema de saúde, no modelo de saúde privada que vigora até hoje nos EUA.

Johnson também continuou o programa espacial de Kennedy, que levaria o homem à Lua pouco depois do fim de seu mandato. Por fim, a ação americana no Vietnã passou a ser alvo de protestos massivos também por essa época -- em meio às primaveras em todo o mundo em 1968 -- e o presidente foi amplamente criticado pela continuidade da guerra.

Nixon: marcado pelo escândalo do Watergate (Don Carl STEFFEN/Gamma-Rapho/Getty Images)

Richard Nixon (1969-74 - Republicano)

O republicano Richard Nixon ficou marcado pelo escândalo do Watergate, em que repórteres do jornal Washington Post descobriram que os republicanos estavam espionando o Partido Democrata. É até hoje um dos maiores escândalos da história americana. O presidente terminou por renunciar em 1974, antes que o caso pudesse de fato culminar em um impeachment.

Além do Watergate, o mandato de Nixon teve outros marcos que frequentemente passam esquecidos. Nixon fez a primeira visita de um presidente americano à China comunista em 1972, levando ao começo de relações diplomáticas americanas com o país. Em seu mandato, foi concluída a guerra do Vietnã -- apesar da derrota americana -- e os EUA assinaram com a União Soviética o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos, sobre desarmamento nuclear das duas potências.

Em outras frentes, o presidente foi um grande defensor dos direitos das mulheres e, algo incomum para a época, teve várias mulheres em seu gabinete. Nixon também criou frentes de proteção ambiental, como a Agência de Proteção Ambiental americana e o Clean Air Act de 1970 contra a poluição.

Gerald Ford: enteado do fundador da montadora (Dirck Halstead/Liaison/Getty Images)

Gerald Ford (1974-77 - Republicano)

Ford ficou marcado como o único presidente a servir tanto como presidente quanto como vice sem ter sido eleito para nenhum dos cargos. Primeiro, o republicano assumiu a vice-presidência no governo Nixon quanto o então vice renunciou (devido a um escândalo próprio não relacionado ao Watergate, de fraude tributária). Depois, com o Watergate, Ford virou presidente com mais da metade do mandato de Nixon ainda pela frente.

Como presidente, Ford é visto sobretudo como o responsável por devolver a confiança americana nas instituições após os meses de escândalo com o Watergate. "Nosso longo pesadelo nacional acabou", disse em seu discurso de posse. O presidente também assinou os acordos de Helsinki, que fortaleceram os lanços dos países ocidentais com os países comunistas da Europa.

Apesar do sobrenome que remonta à montadora, o político não é oficialmente parente dos Ford mais conhecidos. Gerald Ford nasceu Leslie Lynch King Jr. em Nebraska, em uma família de classe média. Quando ainda era criança, sua mãe viria a se casar com Gerald Rudolff Ford, o criador da montadora Ford, e por quem o futuro presidente mudou seu nome.

Jimmy Carter em 1978, na assinatura dos Acordos de Camp David: acordo de paz histórico entre Egito e Israel | Photo by Wally McNamee/Corbis via Getty Images (Wally McNamee/Corbis/Getty Images)

Jimmy Carter (1977-81 - Democrata)

Carter foi o presidente eleito após o Watergate, e construiu sua campanha prometendo acabar com o período de escândalos americano. "Eu nunca contarei uma mentira", dizia. Muito antes das redes sociais, ele se apresentou como um outsider político em Washington, uma vez que até então havia somente tido cargos na Geórgia, seu estado natal (como congressista estadual e depois como governador).

Uma vez eleito presidente, mediou os famosos Acordos de Camp David, entre Egito e Israel, fazendo os dois países voltarem a ter relações diplomáticas, o que não acontecia desde a fundação de Israel em 1948 (até hoje, devido a esses acordos, o Egito é um dos poucos países árabes que têm relações com Israel).

Na outra ponta, Carter teve de lidar com uma grave crise econômica, incluindo a crise energética dos anos 1970. No fim de seu mandato, sua rejeição aumentou sobretudo entre empresários, o que o levou a ser derrotado por grandes margens na eleição contra o liberal Ronald Reagan.

Depois de deixar o governo, Carter continuou um trabalho de diplomacia e direitos humanos no mundo. Por esse período, foi um dos presidentes americanos a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2002, por seu trabalho à frente da fundação Carter Center, de combate à pobreza em dezenas de países. Ao todo, outros três presidentes americanos ganharam o Nobel da Paz: Barack Obama, Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson, Carter sendo o único premiado após o fim do mandato.

Ronald Reagan And Margaret Thatcher

Reagan e Thatcher: líderes dos anos 80 ajudaram a moldar o pensamento liberal no mundo / Keystone/ Hulton Archive/ Getty Images (Keystone/ Hulton Archive/Getty Images)

Ronald Reagan (1981-89 - Republicano)

A rejeição alta de Jimmy Carter no fim do mandato fez Reagan conseguir proezas na eleição presidencial, como uma vitória em estados historicamente democratas (até hoje, Reagan é o último presidente republicano a vencer em Nova York).

Reagan foi eleito após ter sido governador da Califórnia por oito anos. Embora nascido em Illinois, do outro lado do país, foi na Califórnia que fez carreira como ator de Hollywood antes da política. No começo de sua carreira, também chegou a ser filiado ao Partido Democrata, mas suas visões se aproximaram mais do Partido Republicano com o tempo.

Como presidente, Reagan teve um mandato com popularidade alta: em meio à crise econômica dos anos 70, cortou impostos e é visto como um dos presidentes a implementar mais fortemente uma agenda liberal e pró-mercado, conhecida como Reaganomics. Reagan e sua política liberal foram influências para o resto do mundo na época, ao lado da premiê britânica Margaret Thatcher, que era frequentemente vista ao lado do presidente americano. Ele também foi responsável por nomear Sandra Day O'Connor para a Suprema Corte, a primeira mulher da história na Corte.

Reagan é ainda tido como responsável por acelerar o fim da Guerra Fria. A essa altura, a União Soviética começava a enfrentar problemas econômicos, e Reagan usou o poderio americano para aumentar gastos com defesa e escalar o conflito, ampliando a pressão sobre os soviéticos. Os EUA assinaram com o então líder soviético Mikhail Gorbachev um tratado para eliminar mísseis nucleares e, em um discurso famoso em Berlim, Reagan desafiou Gorbachev a derrubar o muro (o que aconteceria pouco mais de dois anos depois). Em sua biblioteca presidencial está uma ilustração do Muro de Berlim, que ele afirma ter recebido da população local pelo fim dos conflitos.

George H. W. Bush: vice de Reagan e envolvimento na Guerra do Golfo | Photo by Bill Greenblatt/Liaison (Bill Greenblatt/Liaison/Getty Images)

George H. W. Bush (1989-93 - Republicano)

George Herbert Walker Bush, o "Bush pai", foi vice de Reagan durante seus dois mandatos. Com a popularidade do antecessor, conseguiu ser eleito na sequência. Filho de um banqueiro, Bush foi empresário do setor petroleiro no Texas e, antes de ser presidente, chegou a ser diretor da CIA, agência de inteligência americana.

Como presidente, seu mandato é lembrado sobretudo pela política externa. Bush autorizou operações militares no Panamá e no Oriente Médio. Os EUA se envolveram na Guerra do Golfo, após a invasão do Kuwait pelo Iraque (então liderado por Saddam Hussein) em 1990, tendo a disputa por petróleo como pano de fundo. Liderados pelos EUA, 30 países invadiram e derrotaram o Iraque em 1991. Em seu mandato, a União Soviética também iria oficialmente colapsar.

Apesar da popularidade que ganhou internamente com a política externa, o governo Bush teve de lidar com outra crise econômica no fim do mandato e foi criticado por aumentar impostos, o que levou à derrota contra Bill Clinton.

Bill e Hillary Clinton: volta dos democratas ao poder e quase impeachment | Photo by Dirck Halstead/Liaison Agency (Dirck Halstead/Liaison Agency/Getty Images)

Bill Clinton (1993-01 - Democrata)

Após mais de uma década de governo republicano, a eleição de Clinton representou a volta do Partido Democrata. Bill Clinton havia sido então governador do Arkansas, seu estado natal, e era uma estrela ascendente no partido e com propostas de algumas reformas estruturais, como a ampliação da gratuidade do sistema de saúde, algo que não conseguiu passar no Congresso. Clinton também nomeou um número alto de mulheres e outras minorias para postos em seu governo.

Durante seu mandato, os EUA tiveram um período de prosperidade econômica, ajudado pelo fim da Guerra Fria e alguma estabilidade externa -- embora Clinton tenha continuado os ataques de Bush contra o Iraque no Oriente Médio. O período também marcou ampla ascensão tecnológica e o nascimento do que viriam a ser grandes empresas americanas com o avanço da internet. Em seu mandato foi assinado o Nafta, acordo de livre comércio da América do Norte com Canadá e México (o acordo foi encerrado e substituído no mandato de Donald Trump).

No fim, o segundo mandato do presidente foi marcado pelo escândalo do envolvimento de Bill Clinton com a estagiária Monica Lewinski, que quase levou o presidente ao impeachment.

George W. Bush: o republicano era o presidente americano quando aconteceram os atentados de 11 de setembro (David Hume Kennerly/Getty Images)

George W. Bush (2001-09 - Republicano)

George W. Bush é filho do ex-presidente George H. W. Bush e foi eleito presidente após ser governador do Texas. Como o pai, também trabalhou na indústria do petróleo no estado.

Seu mandato começou com uma polêmica eleitoral que vem sendo frequentemente lembrada neste ano de 2020: a eleição na Flórida, que teve votos questionados, uma célula com design confuso que pode ter feito o democrata Al Gore perder votos e o envolvimento da Suprema Corte. O imbróglio só terminou porque Al Gore decidiu reconhecer a vitória do rival. Essa eleição é vista como um marco no século 20: muitos dizem que, se Al Gore, conhecido por sua política ambiental, tivesse sido eleito, as questões ambientais teriam sido colocadas em pauta mais cedo nos EUA.

O mandato de Bush ficou marcado sobretudo pelos atentados de 11 de setembro, que mataram mais de 3.000 pessoas nos Estados Unidos, sobretudo no ataque às Torres Gêmeas em Nova York. O atentado desencadeou a chamada "Guerra ao Terror". O atentado evidenciou pela primeira vez a vulnerabilidade da maior potência militar do mundo em seu próprio território. A resposta dos EUA e a busca pelos culpados da tragédia levou o país à invasão do Afeganistão, em 2001, e do Iraque, em 2003, dois países acusados de apoiarem o grupo terrorista Al-Qaeda, que se responsabilizou pelos ataques.

Bush teve popularidade alta durante seu primeiro mandato, mas questionamentos à guerra sem fim no Oriente Médio derrubaram sua aprovação no segundo mandato. Por fim, o período de Bush no poder terminou com o estouro da bolha imobiliária e a crise econômica de 2008.

Joe Biden e Barack Obama

Joe Biden, atual candidato à presidência, ao lado do ex-presidente Barack Obama: mandato durante a crise de 2008 (T.J. Kirkpatrick/Getty Images)

Barack Obama (2009-17 - Democrata)

Nascido no Havaí, Obama foi o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. Então uma jovem estrela ascendente no Partido Democrata, tendo sido somente senador pelo estado de Illinois, Obama chegou ao poder com o hoje famoso slogan "Yes, we can" (sim, nós podemos). Sua primeira campanha em 2008, que bateu primeiro Hillary Clinton nas primárias democratas e depois o republicano John McCain na eleição nacional, também foi uma das primeiras a usar redes sociais em massa, sobretudo o Twitter, na época começando a se popularizar. Biden, hoje candidato à presidência contra Donald Trump, foi seu vice nos dois mandatos, em 2009 e 2013.

Embora a crise de 2008 tenha começado no fim do governo Bush, Obama foi o presidente responsável pelas medidas que viriam, como pacotes de estímulo e perdão a setores como montadoras e bancos. No geral, os EUA conseguiram se recuperar da crise e Obama terminou o mandato com desemprego em baixa. Internamente, seu governo também ficou marcado pelo programa de expansão dos planos de saúde, o Affordable Care Act (o "Obamacare"). A Suprema Corte também passou durante o período a legalização do casamento de homossexuais nos EUA.

Na política externa, os EUA interviram na Líbia -- em meio à Primavera Árabe iniciada em 2011 --, foi morto o terrorista Osama bin Laden, que era procurado pelos atentados de 11 de setembro, foi assinado o acordo nuclear com o Irã e retomaram conversas com Cuba.

A popularidade de Obama, embora relativamente alta até hoje, foi colocada em xeque por parte da população americana, que questionou a queda da indústria em locais como o Meio-Oeste e a redução dos empregos no setor, uma insatisfação que levaria à eleição de Donald Trump contra a democrata Hillary Clinton em 2016.


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