As big techs têm sido as principais opções de investimentos diante da escalada dos lucros apresentada nos últimos trimestres (JUSTIN TALLIS/AFP/Getty Images)
Repórter de Invest
Publicado em 27 de março de 2024 às 17h19.
Última atualização em 27 de março de 2024 às 17h24.
As big techs têm sido as principais opções de investimentos diante da escalada dos lucros apresentada nos últimos trimestres. Há, porém, quem acredite que um fator legal pode se tornar uma pedra no sapato dessas companhias: a regulação antitruste. Seja nos Estados Unidos ou na União Europeia, a legislação constantemente tem ido de encontro com os interesses das principais empresas de tecnologia, mas para a Gavekal esse tópico não deve fazer preços significativos às ações.
Yanmei Xie, especialista em economia e autora do relatório desta semana, aponta que as empresas de tecnologia têm um histórico longo de contrariar os reguladores antitruste. Segundo ela, quando esse tipo de regimento foi criado nos EUA, a relação entre empresas, clientes e concorrentes era bem mais simples. Hoje, sobretudo para este segmento, a realidade é outra. “É mais difícil de aplicar quando há questões sobre controlar os dados dos consumidores a fim de criar vantagens competitivas e priorizar seus próprios produtos nas plataformas.”
E essa discussão ainda está muito quente e longe de encontrar uma conclusão simples. A exemplo disso, em diferentes mercados, os reguladores têm buscado formas de garantir que as big techs não cometam algum tipo de concorrência desleal. No início deste mês, a União Europeia multou a Apple por suprimir de sua loja de aplicativos o rival de streaming de música, Spotify, e promulgou uma nova lei para enfraquecer o poder de "gatekeeping" das plataformas digitais. Nos EUA, reguladores federais e estaduais estão processando Google, Meta, Amazon, e investigando essas empresas, na justificativa de que investimentos em inteligência artificial estão sufocando a concorrência.
Ainda assim, para Xie, essas medidas até criam impactos comportamentais nas empresas, mas dificilmente causará impacto nos lucros. Ela explica que os problemas enfrentados pelas autoridades antitruste se resumem a isso: ao contrário das indústrias oligopolistas de antigamente, caracterizadas por crescimento lento, participação de mercado rígida e consumidores insatisfeitos, a indústria de tecnologia não carece de inovação, novos clientes ou, em geral, consumidores de conteúdo.
“As big techs, sem dúvida, aproveitam sua incumbência para suprimir a concorrência, mas tais sintomas podem exigir mudanças comportamentais, em vez de estruturais. Essas mudanças geralmente são incrementais o suficiente para deixar seus modelos de negócios e preços de ações intactos”, diz.
A especialista ainda destaca que as vitórias antitruste, caso haja, provavelmente serão mais graduais do que abrangentes. Ela lembra que investigações foram concluídas com multas bilionárias (seja em dólar, quanto em euro) contra Amazon, Google e Apple, mas as empresas conseguiram esgotar os recursos jurídicos. “Eles podem ter que eventualmente pagar, mas as cifras envolvidas ainda são bastante pequenas em comparação com os fluxos de caixa livres dessas empresas.”