Boa Vista vai às compras e quer ir além dos feirões de renegociação
Recém-chegada à Bolsa, a Boa Vista anunciou a compra da Acordo Certo, plataforma de renegociação de dívidas, por R$ 37 milhões
Karla Mamona
Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 06h04.
Última atualização em 4 de dezembro de 2020 às 11h08.
Cerca de três meses depois do IPO (oferta inicial de ações, em inglês), a Boa Vista Serviços (BOAS3) anunciou nesta semana a compra da Acordo Certo, plataforma de renegociação de dívidas. O negócio foi fechado pelo valor inicial de 37 milhões de reais, podendo chegar a 100,6 milhões de reais após a conclusão da operação.
A compra da Acordo Certo faz parte do plano de crescimento da Boa Vista Serviços. Em entrevista à EXAME Invest, Dirceu Gardel Filho, presidente da Boa Vista, afirmou que mais de 90% do plano de crescimento da empresa está ligado à complementação de portfólio de produtos e serviços. As ações da Boa Vista subiram 3% desde o IPO.
A compra aproxima a Boa Vista do consumidor. Segundo o executivo, a companhia já tinha tentado caminhar nessa direção nos últimos anos, mas não foi tão bem-sucedida, o que fez a companhia buscar no mercado uma parceira estratégica. “Nós sempre tivemos a preocupação na recuperação do crédito. Fomos a primeira empresa a lançar os feirões de renegociação de dívidas , entre outros. Mas precisávamos ir além.”
Ele ressalta que a expertise da Acordo Certo com o uso e a aplicação de dados fará com que a Boa Vista ofereça o melhor produto e seja mais assertiva. “Eles utilizam a inteligência analítica para chegar ao consumidor, mas de uma maneira muito respeitosa. E nós ainda não tínhamos chegado a essa sofisticação”, acrescenta Gardel Filho.
Fundada em 2013, a Acordo Certo tem 13 milhões de clientes cadastrados na plataforma. Em sete anos, já renegociou 190 bilhões de reais em débitos. Em novembro, a plataforma chegou ao número recorde de 580 mil acordos feitos em um único mês.
“O país tem 63 milhões de brasileiros em situação de inadimplência. Este consumidor era mal atendido pelos escritórios de cobrança. Eram massacrados pelo telefone. Nós só fazemos negociação online. O consumidor negocia a hora que ele quer e do jeito que ele quer”, explica Dilson Sá, presidente da Acordo Certo.
Com a parceria entre as companhias, a expectativa é ampliar as carteiras entre as empresas. Atualmente, a plataforma tem na carteira clientes do setor de varejo, educação, telefonia, bancos e concessionárias, entre outros, e consequentemente alcançar um número maior de consumidores.
Segundo os executivos, as empresas estão desenhando o plano que será traçado nos próximos 100 dias. A ideia é utilizar a tecnologia e o uso de dados conjuntos para oferecer a proposta mais atraente ao consumidor e, futuramente, em relação ao refinanciamento de dívida.
“Quem sabe não fechamos parcerias com fintechs de crédito, como já fizemos, para que o consumidor troque uma dívida cara por uma dívida mais barata”, acrescenta Sá.
Inadimplência represada
A Boa Vista acredita que os números sobre a inadimplência do consumidor deverão aumentar no próximo ano. Segundo Gardel Filho, os dados atuais estão distorcidos devido às condições de pagamentos fornecidos pelos bancos e empresas com o início da pandemia.
“A inadimplência foi represada pelas condições que foram oferecidas com a chegada da pandemia. Mas ela não reduziu. Houve um descolamento dos dados. A inadimplência real será conhecida no início do próximo ano.”