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Warby Parker, a startup de óculos que foi à bolsa e vale US$ 6 bilhões

Concebida a partir da perda dos óculos por um dos fundadores, companhia lançou modelo de venda direta ao consumidor aliando design com preços acessíveis; ação disparou 36% na estreia em NY

Os fundadores e co-CEOs Neil Blumenthal (à esq.) e Dave Gilboa, da Warby Parker, tocam o sino para a estreia na Bolsa de Nova York | Foto: Brendan McDermid/Reuters (Brendan McDermid/Reuters)

Os fundadores e co-CEOs Neil Blumenthal (à esq.) e Dave Gilboa, da Warby Parker, tocam o sino para a estreia na Bolsa de Nova York | Foto: Brendan McDermid/Reuters (Brendan McDermid/Reuters)

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Marcelo Sakate

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 06h25.

Última atualização em 1 de outubro de 2021 às 14h27.

Por que óculos são tão caros? Foi em busca da resposta a essa pergunta, e depois de uma experiência pessoal de perda de óculos que rendeu alguns meses forçando a vista para tentar enxergar até que conseguisse comprar um novo par, que os empreendedores Dave Gilboa e Neil Blumenthal chegaram a Wall Street na quarta, dia 29, para a estreia da Warby Parker na Bolsa de Nova York.

Foi uma estreia digna de visionários (com o perdão do trocadilho): as ações dispararam 36% na estreia e levaram a startup de venda direta de óculos ao consumidor a um valor de mercado acima de 6 bilhões de dólares. Nesta quinta, as ações caíram 2,64%.

A boa recepção na estreia em um momento de mercado adverso -- o S&P 500 encerrou setembro com queda de 5,8% -- sinaliza, segundo analistas, apetite por modelos de negócios que não são puramente dependentes de tecnologia.

Fundada em 2010 por Gilboa, Blumenthal e mais dois amigos, a Warby Parker se notabilizou pela venda direta online de modelos com design a preços acessíveis: os óculos já com as lentes custam a partir de 95 dólares (cerca de 500 reais) nos Estados Unidos. É menos da metade do valor médio de 242 dólares (cerca de 1.300 reais) no mercado americano, segundo dados de consultorias.

Gilboa, que foi quem perdeu os óculos em uma viagem, e Blumenthal dividem o comando da companhia. Foram colegas em Wharton, uma das mais prestigiadas escolas de negócios dos Estados Unidos, da Universidade da Pensilvânia.

Diante da necessidade de novos óculos, Gilboa conta que foi pesquisar e ficou indignado com o fato de que eles custavam de três a quatro vezes o valor do iPhone 3G, a grande sensação tecnológica da época.

Os quatro empreendedores decidiram colocar em prática uma startup que conseguisse aliar bom gosto estético com preços acessíveis para os óculos, reduzindo custos de uma cadeia cheia de intermediários e produto final caro.

O modelo verticalizado permite reduzir custos que pesam no preço final, do design -- feito na própria empresa -- aos canais de distribuição. Lançaram inovações para melhorar a experiência do usuário, como o envio de cinco modelos para o cliente para que ele possa testar em casa e escolher qual prefere.

O modelo da Warby Parker é replicado com algumas semelhanças no Brasil por empresas como a Livo e a Zerezes, para citar duas marcas conhecidas pelo design, preços mais baixos e dispensa de canais tradicionais como óticas multimarcas.

A Warby Parker, por sua vez, abriu sua primeira loja física em 2013 e dali em diante escalou a operação. Já são quase 150 unidades nos Estados Unidos. Em sua trajetória, atraiu investidores como grandes fundos de venture capital -- a Tiger Global liderou a Series A.

Ao longo dos últimos anos, a Warby Parker -- nome inspirado em dois personagens do livro "Os Vagabundos de Dharma" (Dharma Bums, em inglês), do escritor americano Jack Kerouac, símbolo da geração beat -- construiu uma marca aspiracional que se traduz em níveis elevados de engajamento.

O índice de retenção de consumidores que compraram óculos da empresa entre 2015 e 2019 chegou a 50% nos dois primeiros anos -- ou seja, clientes que voltaram a comprar um modelo da marca. No período de quatro anos, o índice sobe para quase 100%. O NPS (Net Promoter Score) da companhia já foi equiparável ao da Apple.

Para cada óculos vendido, a companhia faz a doação de outro para quem precisa. A empresa aponta a estimativa de que 2,5 bilhões de pessoas no mundo precisam de óculos, mas não têm condições de pagar por um. É uma pegada social que veio antes da onda ESG.

O documento protocolado junto com o pedido de abertura de capital, por meio de listagem direta na Nyse, revelou uma empresa em crescimento: as receitas saltaram de 273 milhões para 394 milhões de dólares entre 2018 e 2020.

A base de clientes ativos -- que realizaram ao menos uma compra nos 12 meses anteriores -- subiu de 1,45 milhão para 2,1 milhões entre 2018 e junho passado, um avanço de quase 50%.

Mas há desafios importantes pela frente, especialmente sob a ótica do investidor: a empresa teve prejuízo de 56 milhões de dólares em 2020 e de 7,3 milhões de dólares no primeiro semestre deste ano.

Ainda assim, as perspectivas são favoráveis: o envelhecimento da população americana vai ampliar a demanda por óculos em um mercado estimado em 5 bilhões de dólares ao ano.

A Warby Parker é a mostra de que nem só de alta tecnologia dependem as empresas na bolsa para prosperar nem investidores em busca de teses interessantes de negócios.

 

 

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