Com a indicação de Ferreira Coelho, analistas esperam menos volatilidade para as ações no curto prazo (MAURO PIMENTEL/AFP/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 7 de abril de 2022 às 06h25.
José Mauro Ferreira Coelho, presidente do Conselho de Administração da Pré-Sal Petróleo (PPSA) e ex-secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), foi indicado na noite de ontem, dia 6 de abril, para assumir a presidência da Petrobras (PETR3/PETR4).
Ferreira Coelho, se aprovado pelo conselho da Petrobras, ocupará o cargo deixado pelo general Joaquim Silva e Luna após a desistência do economista Adriano Pires na segunda-feira, dia 4.
Pires, com três décadas de experiência no setor, era visto pelo mercado como boa alternativa para o cargo, mas alegou conflito de interesses em razão da consultoria que fundou e que atua no setor. Sua desistência ampliou a incerteza sobre os rumos da estatal, fazendo com que as ações da companhia recuassem mesmo em dia de alta do petróleo.
A expectativa era a de que os preços dos papéis continuassem voláteis enquanto não fosse confirmado um novo nome para o cargo. Logo, com a indicação de Ferreira Coelho, ligado ao setor de petróleo e gás, analistas esperam que as ações voltem a performar de acordo com os fundamentos de mercado, além do prêmio de risco já existente por causa do risco persistente de ingerência política.
“A indicação parece bem adequada dado o currículo do Ferreira Coelho, com experiência principalmente no setor de energia e no setor de gás natural e petróleo. Acredito que o mercado vai reagir bem à notícia”, avaliou Breno Bonani, sócio da VGR Asset.
Para a presidência do conselho de administração, o Ministério de Minas e Energia indicou o atual conselheiro Márcio Andrade Weber. “Acreditamos que os nomes serão recebidos positivamente pelo mercado, que não deve ver nas indicações alguma sinalização de ruptura com os principais fundamentos mantidos atualmente pela empresa”, reforçou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
O grande temor de investidores é que o novo presidente seja favorável a uma revisão da atual política de preços dos derivados do petróleo seguida pela Petrobras, que acompanha as cotações da commodity no mercado internacional.
O governo Bolsonaro vem sendo pressionado por políticos e setores da sociedade pelo aumento intenso dos preços dos combustíveis e isso acabou precipitando a demissão do general Silva e Luna do comando da empresa.
Embora a bolsa brasileira já estivesse fechada no momento da notícia, houve alguma repercussão nos ADRs da Petrobras – recibos da companhia negociados na Bolsa de Nova York. Logo que o novo nome foi divulgado, os ADRs chegaram a subir perto de 1%. Mas, em geral, os preços se mantiveram estáveis.
Na avaliação de Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research, o mercado ainda está avaliando o futuro de Ferreira Coelho à frente da companhia e isso tem segurado uma potencial valorização dos papéis no curto prazo.
“O perfil segue o das últimas indicações, de defender a paridade dos preços internacionais e o que é de real interesse da Petrobras e de seus acionistas. Mas ainda existe muito ceticismo por parte do mercado, não se sabe se o indicado irá permanecer no cargo”, disse Lopes.
A grande questão, na visão da analista, é o histórico de Ferreira Coelho, que deixou o cargo de secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis em outubro de 2021, “época de pressões por parte dos caminhoneiros para reajustes de preços”, afirmou.