Gestores da SPX, Truxt, Clave e BTG debateram sobre perspectivas para o mercado no CEO Conference 2021 | Foto: Jesada Wongsa/Getty Images (Jesada Wongsa/Getty Images)
Paula Barra
Publicado em 26 de maio de 2021 às 12h33.
Última atualização em 26 de maio de 2021 às 12h36.
Enquanto o cenário para o Brasil pode se mostrar mais promissor na segunda metade do ano, com expectativas de que avanços nas campanhas de vacinação puxem a retomada econômica, no exterior, o debate sobre o início da retirada dos estímulos pode esquentar. Com isso, a seletividade na busca por boas oportunidades no mercado pode ser a tônica dos próximos meses, apontaram gestores da SPX, Truxt, Clave Capital e BTG Pactual.
A grande discussão do momento é se a inflação nos Estados Unidos é temporária ou permanente, o que poderia fazer o Federal Reserve começar a reduzir seu programa de compra de títulos ou mesmo subir os juros antes do previsto. “Caso a inflação americana retome para perto dos 2% nos próximos meses, seria o cenário perfeito para ativos de risco. Mas, na minha visão, essa inflação que bate os 4% agora, em parte, é permanente”, comentou Leonardo Linhares, sócio da SPX, em participação ontem no evento CEO Conference Brasil 2021, organizado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME).
Ele, no entanto, aponta que o mercado ainda terá que esperar pelos próximos três a seis meses para ter informações mais claras nesse sentido, dando atenção em especial aos indicadores de salário. “Acredito que teremos inflação [nos EUA] mais pressionada do que o mercado espera”, disse.
Bruno Garcia, diretor de investimentos (CIO) da Truxt, destacou que os países emergentes, que apresentam maiores dificuldades fiscais, podem enfrentar um ambiente mais complicado quando o Fed começar a discutir sobre a retirada dos estímulos. Tal sinalização, para ele, poderá ser dada no simpósio de Jackson Hole, em agosto, organizado pela distrital de Kansas City do banco central americano.
Diante disso, ele comentou que a gestora começou a fazer algumas proteções nas carteiras, justificando também com um ambiente de arrefecimento e até queda de preços das commodities.
André Caldas, CIO da Clave Capital, alertou que os investidores devem se preparar para um mercado mais difícil, embora tenha comentado que ainda vê ativos de commodities como interessantes mesmo se vier mais correção nos preços, dada a forte geração de caixa dessas empresas. “Mas apontar que é um superciclo acho um pouco forte”. Ele disse que a gestora reduziu um pouco a posição relativa em commodities, depois da disparada dos últimos meses.
Para Pedro Maia, sócio do BTG Pactual, o momento exige que o investidor seja seletivo. “Vivemos no passado um movimento de beta para duration (para empresas de crescimento, com fluxo de caixa mais longo), ali tudo subiu. Quanto pior a empresa, mais subiu. De lá para cá, entramos em um período de seletividade. Passa o tema do momento, entra a vida real”, comentou.
“Vamos entrar no segundo semestre com o Brasil melhor, mas com o mundo tirando o pé dos estímulos. Tenho medo de olhar só para PIB e sabendo ainda que 2022 vai ser mais complicado para o país por conta das eleições. Tenho receio de que o avanço do PIB não seja seguido pelo preço das ações”, argumentou Garcia.
Nesse cenário, ele disse que tem optado por uma carteira mais equilibrada entre empresas de tecnologia e e-commerce, com Stone e Mercado Livre; relacionadas ao tema “financial deepening”, com BTG (BPAC11), XP e Banco Inter (BIDI11); na parte doméstica, com Lojas Renner (LREN3), Alpargatas (ALPA4) e Localiza (RENT3); saúde com NotreDame Intermédia (GNDI3); um pouco de shoppings; e em commodities, citou PetroRio (PRIO3).
Os gestores abordaram também como veem essa onda de ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) na Bolsa brasileira.
“Acho que devemos olhar com cuidado. Em momentos como esse, em que saem muitas ofertas juntas, é difícil fazer uma análise em profundidade. Eu tomaria mais cuidado”, disse Linhares.
Garcia chamou atenção para o excesso de liquidez nos mercados, que tem levado muitas empresas que não estão preparadas a abrirem capital, enquanto outras tantas têm ido na esteira de grandes sucessos.
Para exemplificar, ele citou a Rede D’Or (RDOR3): “Uma empresa que gostamos muito, mas que, com ela, criou-se um tema do momento”, explicou. Isso, segundo ele, acabou levando muitas pessoas a buscarem o setor de saúde, por exemplo, só por ser o “assunto quente”.
Linhares trouxe para a discussão também a quantidade de fusões e aquisições que têm ocorrido no mercado brasileiro. Na visão dele, esse movimento deve continuar, e é natural que ocorra agora, em um momento que o próprio comprador está mais valorizado, destacou.
"Acho que esse movimento é positivo de forma geral para o Brasil, que, pelo tamanho, geralmente é mal arbitrado, além de ser um país que ainda está longe de ter consolidação em certos setores e segmentos frente a outros lugares”, pontuou o gestor.