Comércio agenciado: nova fronteira vem sendo tratada como a evolução natural do e-commerce. (nadia_bormotova/Getty Images)
Repórter de Mercados
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 10h41.
Gigantes de tecnologia e pagamentos estão se movimentando para criar a próxima infraestrutura do comércio global: agentes de inteligência artificial capazes de buscar, comparar e comprar produtos no lugar do consumidor. A nova fronteira, chamada de comércio agenciado, vem sendo tratada como a evolução natural do e-commerce.
A proposta é simples: permitir que o usuário diga a um chatbot o que deseja — e que ele conclua a compra dentro da própria interface, sem exigir que o cliente acesse sites ou finalize etapas manualmente. A tecnologia ainda está em testes, mas, segundo executivos do setor à CNBC, os primeiros usos comerciais estão previstos para 2026.
É o caso de Sandeep Malhotra, vice-presidente executivo da Mastercard para a Ásia-Pacífico, ao afirmar estar testemunhando a próxima mudança no comércio.
A proposta é que esses sistemas atuem como assistentes automatizados, capazes de entender comandos, analisar ofertas e concluir pagamentos com as credenciais armazenadas pelo usuário. Segundo Malhotra, consumidores poderão até autorizar compras programadas enquanto estiverem offline — como adquirir um produto automaticamente quando o preço cair abaixo de um determinado valor.
Um dos exemplos mais práticos envolve reservas de viagens. O consumidor poderá dizer a um agente: “Encontre um voo direto de Singapura a Tóquio por menos de US$ 500”. O agente, então, buscará opções, reservará e efetuará o pagamento, tudo sem sair da conversa.
A Mastercard e a Samsung já testam transações protegidas por bots com grupos de usuários e comerciantes selecionados. A Visa, por sua vez, também realiza testes com foco na Ásia-Pacífico.
T.R. Ramachandran, chefe de produtos da Visa na região, disse à CNBC que transações seguras feitas por agentes de IA podem ser lançadas já no primeiro trimestre de 2026. Hoje, mais da metade do volume da Visa já vem do comércio eletrônico.
A tendência é que o comércio agenciado ocorra dentro de plataformas amplamente utilizadas, como o ChatGPT e o Gemini, do Google, além de agentes próprios de bancos, varejistas e apps.
Em setembro, a OpenAI lançou o recurso “Compre no ChatGPT”, com pagamentos instantâneos. Em novembro, a Perplexity firmou parceria com o PayPal e lançou uma ferramenta gratuita de compras para usuários nos EUA.
Grandes redes de varejo também testam soluções próprias para não perder protagonismo na jornada de compra. A Amazon começou a testar o recurso “Compre para Mim” no início de 2025 e vem tentando limitar o rastreamento de seu site por agentes externos.
A introdução de agentes no processo de compra adiciona um novo elo à cadeia de valor — que antes envolvia consumidor, banco emissor, adquirente e comerciante. Agora, entra também a plataforma de IA. E com isso, surgem dúvidas sobre responsabilidade em caso de erro.
Mas para os defensores do comércio agenciado, os benefícios são claros: menor tempo de busca, mais conveniência e melhor acesso a ofertas e serviços. Os comerciantes, por sua vez, deverão se adaptar, criando seus próprios agentes, mecanismos de verificação, programas de fidelidade e novos formatos de venda.