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Inflação, dólar e PIB: a visão de gestoras globais e bancos para 2022

À espera de maior volatilidade, mercado aposta na força do dólar para buscar boas oportunidades no ano que começa

2022: ano deve marcar início da alta de juros nas principais economias desenvolvidas | Foto: GettyImages (Getty Images/Getty Images)

2022: ano deve marcar início da alta de juros nas principais economias desenvolvidas | Foto: GettyImages (Getty Images/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 31 de dezembro de 2021 às 07h55.

Com inflação em alta e expectativa de juros mais elevados nas principais economias do mundo, o mercado financeiro entra em 2022 com novos desafios à frente, mas com antigos problemas ainda na mesa. Mais de dois anos após o primeiro registro do vírus que mudaria o curso do mundo, a covid-19 e suas variantes ainda são assunto não só de epidemiologistas mas de economistas.

Ainda sem data para o mundo voltar ao “velho normal”, estrategistas e analistas continuam a destrinchar os novos hábitos de consumo em busca das melhores oportunidades do mercado. 

As incertezas devem se mostrar ainda mais acentuadas no Brasil, com a aproximação das eleições presidenciais e para o Congresso Nacional. A única certeza é a volatilidade.

Para ajudar a decifrar novos tempos, a EXAME Invest selecionou perspectivas de grandes gestoras globais e bancos de investimentos sobre os principais temas do mercado. Confira.

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Inflação

A conta dos trilhões de dólares despejados na economia global já chegou. Nos Estados Unidos, a alta de preços atingiu seu maior pico desde os anos 1980, enquanto os brasileiros voltaram a conviver com o IPCA em dois dígitos. Ainda assim, investidores seguem divididos sobre a persistência dos níveis de inflação.

Segundo pesquisa do UBS, 49% dos gestores acreditam que a inflação irá se acelerar ao longo dos 12 próximos meses, com 38% adicionando ações ao portfólio como forma de proteção. 

Para o banco suíço, ao menos, as altas de preços da energia e de bens industrializados devam se normalizar, não sendo um grande problema para 2022. “À medida que a procura muda de bens manufaturados para serviços, esperamos um novo equilíbrio entre oferta e demanda”, afirmam analistas do UBS em relatório.

Por outro lado, a BlackRock, maior gestora do mundo, com 9,5 trilhões de dólares em ativos, não está tão confiante quanto à estabilização de preços. “Nós vemos a inflação estabelecendo-se acima das tendências pré-Covid -- vamos conviver com a inflação”, afirmam. 

Embora mais pessimista sobre o tema, a gestora acredita que os principais bancos centrais do mundo, como o Federal Reserve (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE), não serão tão duros em suas políticas monetárias. “Esperamos que o Fed dê início a aumentos das taxas, mas permaneça mais tolerante com a inflação.”

No Brasil, onde a taxa Selic já beira os 10%, o consenso é que a inflação comece a arrefecer e termine o ano próximo de 5% -- ainda assim, acima do centro da meta de 3,5% para 2022.

Para o BTG Pactual (BPAC11), investimentos em setores que se beneficiam de taxas de juros e inflação mais altas podem ser uma escolha certeira para o investidor. Entre as preferências do banco estão “empresas de consumo com foco em clientes de alta renda e ações que ganham com a alta dos preços globais de energia".

Crescimento

Passada a euforia com a reabertura econômica, que resultou em níveis mais elevados de crescimento em 2021, investidores esperam por uma dinâmica mais lenta em 2022. 

“A ilusão de um milagre econômico global irá diminuir”, afirmam em relatório os analistas da Amundi, maior gestora de recursos da Europa.  Segundo eles, o crescimento em 2022 deve ser menor que o observado neste ano tanto nos Estados Unidos quanto na Europa -- mas, especialmente na China. Pelas perspectivas da casa, o PIB do país asiático deve cair pela metade, saindo de próximo de 8% para perto de 4%.

Embora veja o impacto da desaceleração chinesa como "contido", a Amundi soa o alerta para os acionistas da Vale (VALE3), dizendo que pode “haver repercussões [negativas] em alguns exportadores de metais e parceiros comerciais [da China]”.

Mas nem tudo está perdido. Após sofrerem ao longo de 2021, os ativos chineses devem ter um 2022 melhor, segundo a BlackRock. “Esperamos que uma regulamentação mais rígida persista na China, mas achamos que, devido à desaceleração do crescimento, é improvável que ela se intensifique em 2022, que será um ano politicamente significativo para o país.” 

É uma alusão ao fato de que em outubro será realizado o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh), que definirá o Secretário Geral do PCCh -- cargo atualmente ocupado por Xi Jinping

No Brasil, o consenso do último Boletim Focus para o PIB de 2022 está em 0,42%, mas parte do mercado, como a equipe do Itaú Unibanco (ITUB4), acredita em uma recessão como cenário base. Para o crescimento do lucro das grandes empresas, porém, a expectativa é mais otimista.

Segundo as previsões da equipe de Equity Research do BTG Pactual, as empresas da bolsa devem aumentar seus lucros na média em 9,5%, em 2022. Os grandes destaques devem ficar com os setores de educação, saúde, software e varejo, para os quais o banco espera crescimento de 60,2%, 59,6%, 49,1% e 46,1%, respectivamente.

Câmbio

Após se firmar acima dos 5 reais em 2021, a expectativa de uma desvalorização do dólar para a casa dos 4 reais já ficou no passado. Hoje, o consenso é o de que a moeda permaneça nesses níveis, pelo menos, até 2024. 

Com as eleições presidenciais no radar, investidores tampouco esperam um ano tranquilo para o mercado de câmbio em 2022. A estimativa do BTG Pactual é a de um real mais fraco novamente. Dado o cenário, o banco vê como boa oportunidade ações de materiais básicos voltados para a exportação. 

"Gostamos da produtora de aço Gerdau (GGBR4), da fabricante de alumínio CBA (CBAV3) e da produtora de papel e celulose Suzano (SUZB3).” Outra ação que o BTG Pactual vê como beneficiada pelo real mais fraco é a da SLC Agrícola (SLCE3). “[Em 2022,] a SLC deve se consolidar como uma das poucas e melhores formas de participar do boom de preços de soft commodities [como produtos agrícolas].”

No exterior, as apostas também são a de um dólar mais forte. Segundo analistas do UBS, essa dinâmica deve ocorrer devido ao menor crescimento econômico americano, à redução das recompras de títulos por parte do Fed e à diminuição dos estímulos fiscais americanos. 

“O dólar americano continua supervalorizado em medidas de paridade do poder de compra. No entanto uma política mais rígida do Fed deve apoiar o dólar e prejudicar as moedas dos mercados emergentes e de regiões orientadas para a exportação, como o euro”, afirmam os analistas.

O banco suíço também faz um alerta para aqueles com grandes posições em ouro. “Muitos dos fatores que tendem a ser positivos para o dólar tendem a ser negativos para o ouro. Além disso, acreditamos que a queda da inflação provavelmente reduzirá a demanda por hedge [proteção].” Segundo o UBS, até o fim de 2022, o ouro deve cair cerca de 11% para 1.650 dólares a onça troy.

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