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Lenda dos investimentos compara Oriente Médio ao Vale do Silício

O fundador da Bridgewater alertou que a economia global caminha para um futuro incerto no curto prazo

Ray Dalio afirmou que a transformação do Golfo é resultado de planejamento estratégico e governança de longo prazo (NurPhoto/Getty Images)

Ray Dalio afirmou que a transformação do Golfo é resultado de planejamento estratégico e governança de longo prazo (NurPhoto/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 06h16.

O Oriente Médio está rapidamente se consolidando como um dos principais centros de inteligência artificial no mundo. A afirmação foi feita nesta segunda-feira por Ray Dalio, lendário investidor fundador Bridgewater Associates. Ele comparou a ascensão da região à força do Vale do Silício para a tecnologia.

Em entrevista à CNBC, Dalio destacou que os Emirados Árabes Unidos (EAU) e seus vizinhos estão investindo pesado para atrair talentos globais, criando um polo para gestores de investimento e inovadores em IA.

Neste ano, os EAU e a Arábia Saudita lançaram iniciativas bilionárias para construir infraestrutura de nuvem, data centers e outras bases para IA, apoiadas por fundos soberanos e parcerias com gigantes da tecnologia.

Acordo Google e fundo saudita

Um acordo de US$ 10 bilhões entre o Google Cloud e o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, anunciado neste ano, tem como objetivo criar um “hub global de IA” no país, como parte de um esforço mais para hospedar data centers de IA na região.

Ainda neste ano, gigantes como OpenAI, Oracle, Nvidia e Cisco se uniram para construir um grande campus de inteligência artificial chamado Stargate nos Emirados Árabes Unidos.

Questionado se acredita que EAU, Arábia Saudita e Catar podem liderar a corrida da IA, Dalio respondeu: “O que eles fizeram foi criar pessoas talentosas. Então essa [região] está se tornando uma espécie de Vale do Silício dos capitalistas... Agora as pessoas estão chegando, o dinheiro está chegando, o talento está chegando.”

Dalio, que visita Abu Dhabi há mais de três décadas, afirmou que a transformação do Golfo é resultado de planejamento estratégico e governança de longo prazo. Ele descreveu os Emirados como “um paraíso em um mundo conturbado”, citando estabilidade, qualidade de vida e ambição de construir um ecossistema financeiro competitivo globalmente.

“Há uma efervescência aqui, como há em São Francisco, sobre IA e tecnologia. É muito semelhante”, disse Dalio à CNBC.

Anos precários

O fundador da Bridgewater alertou que a economia global caminha para um futuro incerto no curto prazo, devido à convergência de múltiplas forças, reiterando suas preocupações sobre os mercados estarem numa bolha.

“Os próximos um ou dois anos serão mais precários”, afirmou, apontando para a combinação do que chama de três ciclos dominantes: dívida, conflito político nos EUA e geopolítica.

“Estamos vendo rachaduras nos mercados de várias formas: private equity, venture capital, dívidas sendo refinanciadas, e tudo isso. Então, acredito que estamos em uma bolha por quase todas essas medidas”, disse Dalio, destacando semelhanças com a bolha de 2000, mas não com a de 1929.

Ele também prevê que a política dos EUA será mais disruptiva à medida que nos aproximamos das eleições de 2026. “À medida que avançamos para as eleições de 2026... veremos muito mais conflitos de diferentes formas”, afirmou à CNBC, acrescentando que taxas de juros elevadas e concentração de liderança no mercado aumentam a vulnerabilidade.

“Cada país... não pode continuar acumulando a dívida que tem, mas politicamente não pode aumentar impostos nem cortar benefícios. Então estão presos. Agora temos populismo de esquerda e populismo de direita... o que significa diferenças irreconciliáveis.”

Bolha de IA

Após alguns alertas de que o mercado de IA está muito aquecido - recados vindos inclusive de gigantes da indústria, como o CEO do ChatGPT, o fundador do Bridgewater faz ponderações. “Todas as bolhas ocorreram em tempos de grande mudança tecnológica”, disse Dalio. “Você não quer sair apenas por causa da bolha. Quer observar o momento em que ela será estourada.”

Segundo ele, o gatilho para esse “estouro” geralmente vem do aperto monetário ou da necessidade forçada de vender ativos para cumprir obrigações.

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