Painel de cotações na B3 (Germano Lüders/Exame)
Repórter
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 18h26.
Última atualização em 5 de dezembro de 2025 às 18h32.
O Ibovespa sofreu forte revés nesta sexta-feira, 5, após a confirmação da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência, em 2026, que alterou o cenário político considerado pelo mercado e elevou a percepção de risco.
A principal referência acionária brasileira interrompeu a sequência de três recordes consecutivos e encerrou as negociações com queda de 4,31%, aos 157.369 pontos. Com o resultado dessa sessão, o Ibovespa registra o pior do ano, superando as perdas do dia 19 de agosto, quando o índice caiu 2,10% com a Lei Magnitsky pressionando os grandes bancos.
Dessa vez, o dia foi de perdas generalizadas, dos 82 papéis que compõem o Ibovespa, 77 fecharam em baixa e apenas quatro em alta.
Antes da anúncio da pré-candidatura do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a bolsa brasileira se aproximava dos 165 mil pontos. A virada brusca aconteceu porque o mercado aguardava um apoio de Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e uma coalizão da direita em torno do nome dele, como afirmaram à EXAME operadores.
Um gestor, que preferiu não se identificar, disse que entre os agentes financeiros, o "melhor cenário eleitoral" seria a presença de um candidato de centro ou centro-direita no segundo turno, com nomes como Tarcísio e os também governadores Ronaldo Caiado (União), Romeu Zema (Novo), Ratinho Jr. (PSD) ou Eduardo Leite (PSD).
A confirmação da candidatura de Flávio Bolsonaro muda a matemática eleitoral, disse o gestor. Mesmo com candidatos moderados fortes, a simples presença de um Bolsonaro divide a direita e reduz muito a chance de um nome pró-mercado avançar.
"Não adianta nada ter uma candidatura aparentemente fortíssima com atores políticos congregando em volta de um Tarcísio ou do Ratinho Júnior, se tiver o Flávio Bolsonaro para ganhar de 20 a 19 no primeiro turno", disse o gestor.
Além disso, num segundo turno apertado, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria mais facilidade para conquistar o eleitorado de centro contra um bolsonarista do que contra um candidato moderado. É essa mudança nas probabilidades eleitorais que explica a reação negativa do mercado.
"Quem decide no fim do dia é o eleitor mais ao centro. E aí fica muito mais fácil para o Lula vir com um discurso mais brando e ganhar esse eleitor mais ao centro, como ganhou na última eleição, contra o Flávio Bolsonaro do que contra Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho Jr. Essa é a visão da variação de preço de hoje", acrescentou.
Betina Roxo, estrategista chefe da Apex, disse a forte queda também foi movimento de reprecificação de risco, intensificado pelo fato de o Ibovespa já vir de sucessivas altas.
A bolsa brasileira começou a semana por volta dos 158 mil e chegou a se aproximar, nesta sexta, dos 165 mil pontos. A virada também dá índicios de como serão as negociações em 2026.
"Em anos eleitorais, a volatilidade no mercado aumenta — e hoje não foi diferente. A leitura predominante foi a de que a fragmentação da direita reduz a probabilidade de um nome mais moderado ganhar tração, adicionando incerteza ao ambiente político. E, nesse contexto, qualquer ruído pesa ainda mais sobre a questão fiscal, que já é o principal ponto de atenção do mercado", afirma Roxo.