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Guerra comercial e tarifas ameaçam estabilidade dos EUA, alerta CEO do JPMorgan

Em carta anual, Jamie Dimon afirma que as novas tarifas de Trump devem pressionar a economia americana e agravar os riscos geopolíticos

Publicado em 7 de abril de 2025 às 07h41.

Última atualização em 26 de maio de 2025 às 11h38.

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O CEO do JPMorganChase, Jamie Dimon, afirmou, nesta segunda-feira, 7, que as recentes medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos têm potencial para aumentar a inflação e intensificar os riscos de uma recessão econômica. A avaliação foi feita na carta anual enviada aos acionistas.

"Apesar do ambiente perturbador, a economia americana se manteve resiliente até recentemente", escreveu Dimon. Ele destacou que o consumo interno e a saúde das empresas ainda são robustos, mas ponderou que essa força foi impulsionada por altos níveis de estímulos fiscais e déficits públicos.

Segundo Dimon, a atual conjuntura exige "cautela extrema" por parte dos agentes econômicos.

O executivo reforçou que, além das novas tarifas impostas no comércio internacional, há uma crescente necessidade de investimentos em infraestrutura, reconfiguração das cadeias globais de fornecimento e fortalecimento militar. Esses fatores, segundo ele, poderão "manter a inflação mais elevada do que o mercado projeta" e "forçar taxas de juros mais altas por mais tempo".

"Essas forças significativas e em grande parte inéditas nos fazem ser muito cautelosos", alertou Dimon. Ele acrescentou que, mesmo com a recente queda nos preços de mercado, "os ativos continuam caros", o que aumenta o grau de vulnerabilidade da economia americana.

JPMorgan em alta e a nova dinâmica geopolítica

Apesar do contexto desafiador, o JPMorgan registrou um desempenho histórico em 2024, com US$ 180,6 bilhões em receita e US$ 58,5 bilhões em lucro líquido, além de atingir um retorno sobre o capital tangível de 20%.

Dimon afirmou que o banco "cresceu participação de mercado em várias linhas de negócios" e elevou seu dividendo trimestral, refletindo "a força subjacente dos negócios" da instituição.

Ao comentar o cenário internacional, Dimon destacou que a intensificação dos conflitos, especialmente na Ucrânia e no Oriente Médio, assim como as tensões com a China, impõem riscos sistêmicos que afetam diretamente o ambiente global de negócios.

"JPMorganChase, uma empresa que historicamente trabalha além das fronteiras, fará a sua parte para assegurar que a economia mundial seja segura e estável, mas não está imune aos impactos desses eventos", afirmou.

O CEO também ressaltou a necessidade de reforçar as defesas econômicas do país, citando a importância de investimentos contínuos em inovação, tecnologia e educação. "A saúde de longo prazo da América e do mundo livre e democrático é ainda mais importante do que a gestão interna de nosso negócio", disse Dimon.

O papel do JPMorgan na estabilidade financeira

Em 2024, o JPMorgan reforçou sua presença no mercado ao adquirir e integrar o First Republic Bank, movimento que, segundo Dimon, "eliminou um problema potencial para o sistema bancário americano".

Além disso, o banco movimentou diariamente mais de US$ 10 trilhões em 120 moedas e mais de 160 países, consolidando sua posição como uma engrenagem crítica do sistema financeiro global.

Dimon reiterou que a instituição continua comprometida com a responsabilidade social, mas ressaltou que boa parte das iniciativas — como financiamento de habitação popular, microcrédito e revitalização urbana — são orientadas pelo lucro. "Quase todos esses esforços são de natureza comercial e buscam retorno financeiro, como qualquer empresa deveria fazer", explicou.

Visão para o futuro: cautela e investimentos

Jamie Dimon deixou claro que, embora o banco esteja em posição sólida, ele enxerga a necessidade de adaptação constante diante das mudanças geopolíticas e econômicas. "Nós sabemos que devemos ser fonte de força, principalmente em tempos difíceis", declarou, acrescentando que o sucesso futuro depende da "manutenção de uma equipe com coragem, inteligência e altos padrões éticos".

O executivo ainda sublinhou a relação simbiótica entre o JPMorgan e o governo americano, destacando que, apenas nos últimos dez anos, o banco pagou mais de US$ 52 bilhões em impostos nos EUA e US$ 26 bilhões no exterior. Segundo ele, o banco ainda contribuiu com mais de US$ 11 bilhões ao FDIC, fundo que assegura depósitos bancários.

"Nós não somos contra a tecnologia nem contra o progresso. O que questionamos é o modelo de negócios baseado em capturar atenção e vender dados pessoais", afirmou Dimon.

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