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Governo russo bloqueia plano da AB InBev de deixar país

Moscou rejeita venda da participação da dona de Budweiser e Stella Artois em joint venture russa para a Anadolu Efes, em meio a temores de aumento no controle estatal sobre ativos estrangeiros

Governo russo e AB Inbev não conseguem entrar em acordo para que companhia deixe a Rússia. (Kyle Lam/Bloomberg)

Governo russo e AB Inbev não conseguem entrar em acordo para que companhia deixe a Rússia. (Kyle Lam/Bloomberg)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 9 de agosto de 2024 às 08h23.

A Rússia rejeitou o acordo através do qual a fabricante turca de cerveja Anadolu Efes iria adquirir a participação da AB InBev, dona das marcas Budweiser e Stella Artois, em uma joint venture local avaliada em US$ 1,3 bilhão (aproximadamente R$ 7,35 bilhões). O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 8, após as autoridades russas informarem que a "estrutura atual da transação não foi aprovada". As informações são do Financial Times.

O acordo, inicialmente acertado em dezembro de 2022, permitiria que a AB InBev, uma das maiores cervejarias do mundo, deixasse o mercado russo, que enfrenta uma série de sanções internacionais devido à guerra na Ucrânia. Com a recusa de Moscou, as operações da joint venture continuarão sob a direção da Anadolu Efes, que se comprometeu a revisar a decisão junto à AB InBev.

O bloqueio da venda ocorre em um momento de crescente preocupação de que a Rússia, já afetada por sanções dos Estados Unidos, União Europeia e outros países, possa aumentar o controle sobre ativos estrangeiros em seu território. No ano passado, Moscou assumiu o controle das subsidiárias russas da Danone e da Carlsberg, criando um ambiente de incerteza para empresas ocidentais que ainda operam no país. A Danone, por exemplo, está em processo de venda de sua subsidiária para um sobrinho do líder checheno Ramzan Kadyrov, enquanto a Carlsberg enfrenta uma batalha judicial com o governo russo.

Implicações

O caso da AB InBev e Anadolu Efes destaca a complexa relação entre a Turquia e a Rússia. Apesar de ser membro da Otan, a Turquia tem mantido laços estreitos com Moscou e se recusado a aderir às sanções ocidentais contra a Rússia. O presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, encontrou-se com Vladimir Putin no mês passado, reforçando a cooperação entre os dois países. Para a Anadolu Efes, listada na bolsa de valores de Istambul, o mercado russo continua sendo uma parte importante de seus negócios, apesar das pressões internacionais para que empresas ocidentais abandonem o país.

A joint venture entre AB InBev e Anadolu Efes foi estabelecida em 2018, com a parceria focada no mercado russo. Uma avaliação da consultoria KPMG no momento do acordo indicou que a joint venture valia entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,3 bilhão (R$ 6,2 bilhões a R$ 7,35 bilhões). Desde a invasão russa em larga escala na Ucrânia, em fevereiro de 2022, a AB InBev anunciou que renunciaria a "todos os benefícios financeiros" da joint venture e registrou uma perda de US$ 1,1 bilhão (R$ 6,2 bilhões) no negócio.

Obstáculos na Rússia

A recusa de Moscou em permitir a venda da participação da AB InBev na joint venture reflete as dificuldades que muitas empresas ocidentais enfrentam ao tentar sair do mercado russo. Após a invasão da Ucrânia, inúmeras multinacionais ocidentais anunciaram sua intenção de deixar o país ou reduzir significativamente suas operações. No entanto, aquelas que não saíram imediatamente enfrentam obstáculos crescentes para concretizar essa saída.

A dificuldade em encontrar compradores que não violassem as sanções ocidentais ou que fossem aceitáveis para as autoridades russas é um dos maiores desafios. Além disso, o Kremlin impôs um desconto obrigatório de 50% para compradores russos que adquirirem ativos de empresas de países considerados "hostis", além de um imposto de saída mínimo de 15%. Esses obstáculos tornam o processo de venda e retirada do mercado russo ainda mais complexo e custoso para as empresas ocidentais.

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