eVTOL: expectativa é que primeiro voo acontece em dezembro deste ano (Divulgação/Eve Air Mobility)
Repórter de finanças
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 06h00.
Os tão aguardados eVTOLs, conhecidos também como “carros voadores”, estão mais próximos do que nunca de chegar à população. Luiz Valentini, CTO da Eve Air Mobility, braço da Embraer (EMBR3) que desenvolve a tecnologia, conta que a expectativa é que os veículos estejam em operação já em 2027.
Segundo o CEO da empresa, Johann Bordais, para isso acontecer será necessário seguir algumas etapas. Na primeira, ainda este mês, será realizado o primeiro voo em uma “aeronave de engenharia”. Depois, em 2026, a Eve construirá seis protótipos para começar a realizar voos testes. Em 2027, a ideia é conseguir a certificação para poder voar.
“É certificar em 2027 e, assim que certificar, começar a entregar os veículos”, diz Valentini.
Criada em 2020, a Eve já recebeu diversos investimentos. O mais recente, um aporte de R$ 200 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em agosto, também houve a listagem no Brasil dos Brazilian Depositary Receipt (BDRs) sob o ticker EVEB31 — outra forma de captar recursos.
A nova linha de crédito reforça a cooperação entre Eve, Embraer e BNDES. Desde 2022, esse relacionamento já movimentou mais de R$ 1,2 bilhão em financiamentos para a Eve, ajudando a sustentar a estrutura financeira necessária para certificar o eVTOL e dar início às operações comerciais.
Os recursos apoiarão a integração e o funcionamento dos motores elétricos da primeira aeronave de certificação, bem como a preparação do veículo para a campanha de testes para a obtenção do certificado de tipo junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A carteira da Eve já soma 2,8 mil pedidos, contando com intenções de compra, com um backlog por volta de US$ 14 bilhões.
Não há consenso na indústria de uma padronização para os carros voadores. Tanto é que diversos países do mundo, como Estados Unidos e China, estão desenvolvendo seus próprios veículos aéreos. Entretanto, é necessário checar todos os itens que compõem a tecnologia.
“Nosso veículo traz simplicidade na configuração. Por exemplo, todos os motores são fixos, ou seja, não usamos a solução de tilt (rotor basculante), que fica apontado para cima na decolagem e vira para frente depois. Então, isso elimina uma série de sistemas que teriam que estar lá e diminui o custo do produto”, afirma Valentini.
Isso também simplifica a manutenção e a necessidade de estoque de peças, o que torna a certificação mais direta. Todo o design e construção também colabora para uma pilotagem mais fácil, o que reduz a necessidade de treinamentos mais complexos para pilotos.
Mas isso não significa que o eVTOL não será seguro. Há uma espécie de joystick para pilotar o veículo e toda uma automatização com o conhecimento da Embraer que permite que a aeronave fique estabilizada caso o piloto solte o comando — o que não acontece hoje num helicóptero. “Isso diminui muito a carga da pilotagem”, destaca o CTO.
Ao todo, são oito motores em torno da asa, dedicados ao voo vertical, é o que chamam de “Lift”, e há outro sistema independente, um motor atrás que empurra o veículo à frente, chamado “Cruise”, chegando ao nome “Lift Plus Cruise”.
O veículo está sendo desenvolvido para acomodar um piloto e quatro passageiros, e a expectativa é que as operações comecem necessariamente com o piloto a bordo. Isso ocorre porque a tecnologia de autonomia ainda precisa avançar, não há hoje qualquer regulamentação que permita voos comerciais de passageiros sem piloto.
“Do ponto de vista do usuário, existe a aceitação para entrar num eVTOL sem piloto a bordo. Uma coisa são as experiências com carros, outra é entrar numa aeronave e ficar desconfortável por não ter ninguém à frente”, pontua Valentini. Mas a ideia é que, num futuro, o setor migre gradualmente para formatos com piloto remoto ou apenas monitoramento, até alcançar modelos plenamente autônomos.
A Eve Air Mobility encerrou o terceiro trimestre de 2025 com prejuízo líquido de US$ 46,9 milhões, alta de 31% frente à perda de US$ 35,8 milhões registrada um ano antes. Entre julho e setembro, o consumo de caixa alcançou US$ 60,7 milhões, quase o dobro dos US$ 34 milhões utilizados no terceiro trimestre de 2024.
Questionado sobre o resultado, Valentini explicou que os números refletem o estágio atual da companhia, ainda sem uma fonte relevante de receitas. “Estamos focados em investir no desenvolvimento do produto”, afirmou.
O executivo destacou que essa trajetória negativa já estava prevista pela companhia e deve continuar até que o eVTOL avance para fases mais próximas da operação. Ele também reforçou a importância de novas rodadas de financiamento para manter o ritmo de desenvolvimento.