Comunicado abre caminho para alta ainda maior que a atual na próxima reunião | Foto: Jonathan Kitchen/Getty Images (Jonathan Kitchen/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 17 de junho de 2021 às 06h10.
Última atualização em 17 de junho de 2021 às 09h26.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) seguiu o que já era esperado pelo mercado e aumentou, nesta quarta-feira, 16, a taxa básica de juros da economia, a Selic. O salto foi de 0,75 ponto percentual, de 3,5% para 4,25% ao ano.
A terceira alta consecutiva da Selic não surpreendeu, mas trouxe algumas novidades. A primeira delas é que o Copom abandonou a indicação de uma "normalização parcial" da taxa de juros, sinalizada no último comunicado, e apontou para uma busca pela taxa neutra de juros, que seria, na opinião do BC, em torno de 6,5%. A taxa neutra de juros garante um padrão que não estimula nem desestimula a economia, mantendo a inflação estável em torno da meta.
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Outro ponto destacado por analistas é que o Copom não cravou qual será o aumento percentual da próxima reunião, deixando o caminho aberto para uma alta mais forte já no próximo encontro, que acontece nos dias 4 e 5 de agosto.
A aceleração do ritmo de altas pode ser impulsionada caso a inflação continue a aumentar. A projeção do BC para o IPCA, índice referência para o aumento de preços, já passou de 3,4% para 3,5%, percentual que é o centro da meta.
Analistas se dividem entre previsões de um novo aumento de 0,75 ponto percentual (p.p.) ou uma alta já de 1 p.p. para a próxima reunião. A Exame Invest reuniu cinco análises que ajudam a traçar um panorama do que a mudança representa:
Para Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, o Copom se mostrou atento aos dados e à evolução desfavorável do equilíbrio dos riscos para a inflação e, como consequência, assumiu uma postura “visivelmente mais hawkish”, ou seja, favorável a juros mais altos.
“Endurecendo a linguagem e adotando uma sinalização direta -- incluindo o
possibilidade de alta superior a 75 p.p. na reunião de agosto -- o Copom tem uma chance muito maior de ancorar as expectativas de inflação e de não ter que ir além da neutralidade”, afirma Ramos, em relatório. O banco espera uma alta de 0,75 p.p. para a próxima reunião.
O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, também reforça que a decisão foi acertada e que o mercado deve enxergar com bons olhos a “atuação firme” da autoridade monetária.
“Acreditamos que essa deliberação foi bastante adequada, especialmente num momento em que a inflação corrente está em alta. Ademais, as projeções para a inflação de 2022 estão crescentes e temos alguns desafios à frente, como a muito provável crise hídrica, que tende a elevar os preços da energia, o que pode agravar o quadro [de inflação]”, diz, em nota.
Já Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital (do mesmo grupo controlador da Exame), esperava uma postura mais assertiva do Comitê. “O comunicado foi hawkish mas, na minha avaliação, deixou a desejar ao não se comprometer com uma magnitude de alta para a próxima reunião”. Em entrevista à Exame Invest, Frasson argumenta que a abertura pode trazer maior volatilidade para o mercado.
“Outro ponto que poderia ter sido um pouco melhor ajustado é a indicação de que o Copom vai perseguir o juro neutro. O Comitê poderia simplesmente ter indicado uma normalização ou um ciclo de alta para controlar a inflação. Isso porque as expectativas de inflação para os próximos anos permanecem desafiadoras e, talvez, possa demandar uma postura mais agressiva do BCB nas próximas reuniões”, comenta. A expectativa do banco é de elevação de 0,75 p.p. para a próxima reunião.
André Perfeito, economista da Necton, acredita que a alta da próxima reunião já será maior que a desta quarta-feira. “A leitura preliminar do comunicado sugere que há espaço para uma alta de 100 pontos-base na próxima reunião, apesar do colegiado do BC ter apontado, inicialmente, para uma alta de igual magnitude que a atual”, afirma.
Segundo o analista, a decisão reforça a projeção de Selic da casa em 6,5% ao ano até o final de 2021. O movimento tem sido positivo para o câmbio, com o dólar perdendo força frente ao real à medida que as taxas mais altas atraem o capital estrangeiro.
Perfeito alerta, porém, que há riscos no cenário. “Deveremos ver no meio do segundo semestre alguma correção nos juros de 10 anos nos EUA [indicativo da inflação no país] e isso pode exigir mais prêmio de economias como a brasileira. A curva de juros já está bastante inclinada – já esteve mais, é verdade – e isto é um sinal perigoso”.
E qual o impacto para os investimentos? Na visão da analista Paloma Brum, da Toro, o cenário positivo continua na bolsa. “A mudança não tende a impactar o desempenho dos ativos de renda variável, uma vez que os juros reais (descontando-se a inflação esperada para o período) continuarão trafegando numa trajetória negativa ou ainda muito pressionados, o que favorece o aumento da demanda por aplicações que potencializem a rentabilidade do capital dos investidores”, afirmou, em nota.
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