O ChatGPT foi lançado para o público em 30 de novembro de 2022 (NurPhoto/Getty Images)
Repórter do Future of Money
Publicado em 31 de maio de 2023 às 17h30.
Última atualização em 31 de maio de 2023 às 17h45.
Pode não parecer, mas o ChatGPT foi lançado para o público há apenas seis meses. A ferramenta de inteligência artificial atingiu essa data importante nesta semana, mas não é exagero dizer que as mudanças e debates promovidos por ela neste o início de 2023 geraram uma sensação de que o bot desenvolvido pela OpenAI já é utilizado há muito mais tempo.
Gustavo Mee, especialista em inteligência artificial, acredita que "os últimos seis meses marcaram um ponto de virada na maneira como percebemos e utilizamos a inteligência artificial em nosso cotidiano, tornando-a acessível ao público em geral pela primeira vez". E o ChatGPT teve um papel essencial nesse processo, abrindo as portas para o contato com um segmento ainda em estágios iniciais, mas com diversas iniciativas e aplicações.
Por trás desse sucesso está um novo tipo de IA, a inteligência artificial generativa, que consegue usar grandes bases de dados para produzir conteúdos — textos, imagens, áudios e vídeos — e simular conversas realistas, seguindo os comandos dados pelos usuários. A área se tornou um novo foco de investimentos de grandes empresas, com anúncios nos últimos meses da Microsoft, Amazon, Google e Meta. E também catapultou ações de companhias, em especial a Nvidia.
Mas nem tudo são flores. A popularidade do ChatGPT também levantou uma série de debates, indo desde o seu uso como fonte de informações — e os riscos ligados a isso — até um potencial de "extinção" da humanidade ou destruição de empregos. Com isso, também ganharam forças as discussões sobre a regulação dessa área, mostrando seus desafios futuros.
Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, considera que a grande mudança trazida pela ferramenta da OpenAI foi uma "mudança no direcionamento estratégico de inúmeras empresas, a começar pelas big techs. É o caso da Meta, que estava falando muito sobre metaverso. Outras companhias falavam sobre cloud, rede social, e agora tudo se voltou para a inteligência artificial. E é claro, as suas aplicações nas mais variadas áreas".
"Isso também trouxe o impacto nas empresas que não são as criadoras de tecnologia, mas que são as que adotam tecnologia. Assim, praticamente falamos de qualquer tipo de negócio. A grande pergunta do momento é justamente como a IA pode ajudar, como podemos integrar a inteligência artificial no negócio. Outro impacto importante que a IA trouxe foi no mercado de trabalho, nas competências, nas habilidades", comenta.
É comum atualmente encontrar conteúdos mostrando as diversas aplicações possíveis do ChatGPT em tarefas do dia a dia — desde a produção de e-mails até a organização de apresentações de trabalho —, e por isso Igreja avalia que "é essencial, hoje, que um profissional entenda como a IA pode impactar positivamente a sua atuação, trazendo mais produtividade, e também que ele saiba quais são as ameaças, as adaptação que precisam ser feitas na carreira".
Para o especialista, a grande vantagem trazida pela ferramenta e pela OpenAI é ter tornado a inteligência artificial "muito mais acessível, mais simples, mais fácil. E estamos vivendo esse 'boom', essa dominância da inteligência artificial".
Mee vai na mesma linha, destacando que a inteligência artificial se tornou uma prioridade para gigantes corporativos, indicando para "onde a tecnologia está caminhando: a IA deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma realidade que está reformulando diversos setores e o mercado de trabalho". Isso também pode levar a uma concorrência para o ChatGPT, em especial por meio do Bard, projeto do Google.
Mee observa que a própria transformação iniciada pelo ChatGPT também "traz consigo desafios". "O impacto imediato do ChatGPT suscitou questões importantes sobre a possível substituição de empregos pela IA, além de problemas como plágio e disseminação de informações falsas".
Para ele, esses problemas "destacam a necessidade de regulamentação. Contudo, a questão é complexa, já que a regulamentação precisaria ser global devido ao caráter sem fronteiras da IA, e só a regulamentação pode não ser suficiente para prevenir o uso inadequado da tecnologia". Atualmente, o Brasil possui um projeto em tramitação para a tecnologia.
Outro ponto importante para o futuro da tecnologia, ressalta o especialista, é que a curva de aprendizado das formas de utilizá-la e entendê-la ainda está no início: "a maioria das pessoas ainda não aprendeu a utilizar essa ferramenta de maneira eficaz. Isso é similar ao que ocorreu com a introdução de tecnologias anteriores, como computadores e a internet".
Já Igreja projeta uma perspectiva de "muito avanço" para o setor. Ele cita movimentos como o da Microsoft, que anunciou mais de 50 lançamentos de projetos ligados à nova tecnologia, mostrando os benefícios da sua parceria com a OpenAI. Ao mesmo tempo, ele espera um "avanço na qualidade" da inteligência artificial do ChatGPT, com a passagem do recém-lançado GPT4 para o GPT5, aventada para o fim de 2023.
Nesse sentido, Igreja vê grandes chances da própria OpenAI se tornar "a próxima big tech", caso ela concretize seus planos de abertura de capital. Por outro lado, "como qualquer tecnologia que começa a se tornar muito importante e grande, o ChatGPT cada vez mais vai enfrentar também as dores do crescimento".
Ele cita diversos desafios pela frente, como a necessidade de "responder sobre as questões relacionadas a direitos autorais, a vieses, a preconceitos embutidos, a eventuais impactos negativos no mercado de trabalho". "Muita gente não verá graça nenhuma em perder o trabalho ou topar, eventualmente, com salários mais apertados por causa da IA".
Mesmo assim, Mee aposta que "uma coisa é certa: a inteligência artificial veio para ficar e continuará se integrando cada vez mais profundamente em nossa vida. Embora o caminho à frente possa estar repleto de desafios, é essencial que nos adaptemos para não ficarmos para trás".
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