Tchê Tchê, jogador do Botafogo, revelou ter sofrido depressão durante a carreira (Botafogo/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2022 às 09h59.
O volante Tchê Tchê, que hoje atua no Botafogo, declarou em um texto publicado no “The Players Tribune”, no início do mês, ter sofrido depressão no período em que estava no São Paulo. Além do meia botafoguense, na última semana o zagueiro Rodrigo Caio, do Flamengo, também fez um desabafo sobre seu estado mental devido a comentários maldosos nas redes sociais por conta das lesões que teve durante a carreira. Casos como esses, envolvendo os jogadores no futebol brasileiro, têm se tornado cada vez mais comuns.
No mês do Setembro Amarelo, dedicado à campanha de prevenção ao suícidio, o debate sobre a causa no esporte ganha ainda mais visibilidade. Segundo o Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, houve um aumento de 25% nos casos relacionados a transtornos mentais. Essa situação de alerta também é aparente no futebol.
O meia Matheusinho, do América-MG, em outubro do ano passado revelou que estava com um quadro depressivo, quando defendia o Ashdod, de Israel. Recentemente, outros jogadores também se mostraram abertos a discutir sobre esta problemática, caso do atacante Zé Love, campeão da Libertadores pelo Santos em 2011, e que atualmente está no Brasiliense. Em março deste ano, o jogador assumiu nas redes sociais os problemas que estava enfrentando com a depressão.
“Muitas vezes ficamos presos somente à questão do “hoje”, da pressão midiática e da torcida, mas o jogador tem inúmeros outros problemas, como pressões familiares e comportamentais que, muitas vezes, sequer chegam ao público. Isso pode ser um agente catalisador para que os problemas se potencializam e sejam traduzidos dentro de campo, em dificuldades técnicas, que resultarão em mais cobranças ainda”, explica Chávare, executivo de futebol, com passagem por Bahia, Atlético-MG, São Paulo, Grêmio e Juventus, que reforça a importância do dirigente ter um contato mais próximo com o jogador para compreender o que o mesmo está passando.
No Brasil, um clube que compreende a importância do psicólogo para os jogadores no dia a dia é o Fortaleza. Neste mês, inclusive, o Leão do Pici promoveu palestras sobre Setembro Amarelo para os funcionários. Além disso, o Tricolor tem um projeto do Departamento Médico com o setor psicossocial das categorias de base, no intuito de ajudar os atletas lesionados no retorno aos gramados.
“Estamos dando início a esse projeto para ajudar o atleta a fazer o que ele mais gosta, voltar aos gramados em plena forma física. Hoje existem estudos que apontam que quando nós tratamos o psicológico, o retorno de forma mais efetiva e significativa acontece mais rápido” afirma Sheyla Gomes, psicóloga das categorias de base do clube.
O atleta Rômulo Caldeira, de 34 anos, uma das principais lideranças do Cruzeiro, frisa que essa conscientização a respeito da importância de discutir e zelar pela saúde mental dos jogadores é fundamental. “Estamos habituados a lidar com situações de pressão desde as categorias de base, por isso o suporte e o apoio emocional são tão necessários. No atual contexto em que vivemos, o cuidado precisa ser ainda maior para que uma crítica ou ofensa não atrapalhe a nossa mente e afete o desempenho dentro de campo. O atleta também precisa ser visto como ser humano, que acerta e erra, e não podemos permitir que um xingamento defina a visão que temos de nós mesmos”, declara.
Desde cedo, os jogadores precisam lidar com a pressão para alcançar os resultados e desempenhar no mais alto nível. Por conta disso, os clubes têm entendido o valor de um psicólogo para trabalhar melhor o lado mental dos atletas. Recentemente, o técnico Claudinei Oliveira, do Sport, ressaltou a importância do trabalho da psicóloga do clube para fortalecer o comportamento mental dos atletas nesta reta final de Série B.
“No futebol, o atleta tem que estar preparado tecnicamente, fisicamente e psicologicamente para desempenhar. Eu fico responsável pelo treino mental para promover a regulação emocional e potencializar a área cognitiva do cérebro, para que os jogadores tomem decisões mais assertivas em grupo e individual”, afirma a psicóloga Rosângela Vieira, do Leão.
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