Polêmica no boxe olímpico: entenda o caso de Imane Khelif e as regras de elegibilidade de gênero
Atleta argelina venceu a luta, mas presença em Paris 2024 gerou debates sobre a inclusão e critérios de gênero no esporte
Redator na Exame
Publicado em 2 de agosto de 2024 às 10h45.
Última atualização em 5 de agosto de 2024 às 12h01.
O caso de Imane Khelif, atleta argelina que competiu nas Olimpíadas de Paris na categoria de boxe feminino acima de 78kg, reacendeu o debate sobre a participação de atletas com alto nível de testosterona em competições esportivas. Khelif, que venceu a luta contra a italiana Angela Carini, enfrentou questionamentos sobre sua elegibilidade para competir na categoria feminina, devido a uma condição que faz com que ela tenha um nível mais alto de testosterona do que outras mulheres, o que levantou uma série de discussões sobre as regras de gênero no esporte olímpico. As informações são do The Financial Times.
A presença de Khelif nas Olimpíadas de Paris gerou controvérsias, principalmente porque a boxeadora havia sido impedida de participar de competições no passado devido a altos níveis de testosterona, que excedem os limites estabelecidos para atletas do sexo feminino. A Associação Internacional de Boxe (IBA) havia barrado sua participação em campeonatos mundiais, mas com a suspensão da IBA pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), Khelif foi autorizada a competir nos Jogos Olímpicos.
Participação de atletas intersexo e transgênero
O debate em torno da participação de atletas intersexo e transgênero em competições esportivas não é novo, mas ganhou nova dimensão com a inclusão de Khelif nos Jogos Olímpicos de Paris.
Diferente de atletas transgênero, que passam por um processo de transição de gênero, as atletas intersexo — como foi afirmado que Khelif era, mesmo sem nunca ter confirmado a informação — nasceram com características sexuais que não se enquadram nas normas médicas tradicionais para corpos masculinos ou femininos.A participação de Khelif foi questionada devido a testes que apontaram níveis elevados de testosterona, o que gerou controvérsia sobre a "justiça" da competição. No entanto, as regras do COI permitem que cada federação esportiva defina seus próprios critérios de elegibilidade, o que inclui a decisão sobre a participação de atletas com diferenças de desenvolvimento sexual (DSD) e níveis elevados de testosterona.
Regras e polêmicas
No contexto das Olimpíadas, a discussão sobre elegibilidade de gênero é complexa e envolve aspectos científicos, éticos e esportivos. O COI, em suas diretrizes, recomenda que as federações esportivas estabeleçam suas regras considerando a inclusão e a equidade nas competições. No entanto, a implementação dessas regras varia entre as modalidades esportivas.
No caso de Khelif, a IBA havia barrado sua participação em eventos anteriores, mas com a suspensão da entidade pelo COI, a boxeadora foi autorizada a competir em Paris 2024. A decisão gerou críticas de alguns setores, incluindo da Primeira-Ministra italiana, Giorgia Meloni, que questionou a justiça da competição e sugeriu que os níveis de testosterona da atleta poderiam afetar o resultado das lutas.
O debate sobre a participação de atletas intersexo e transgênero também se estende a outras modalidades esportivas. Nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, a neozelandesa Laurel Hubbard se tornou a primeira atleta trans a competir em uma categoria feminina, no levantamento de peso. Em Paris 2024, dois atletas transgênero, Nikki Hiltz (atletismo) e Quinn (futebol), estão competindo nas categorias femininas, embora ambos se identifiquem como não binários.
Importância da inclusão
A questão da inclusão de atletas com diferenças de desenvolvimento sexual e de gênero nos Jogos Olímpicos é complexa e envolve a necessidade de equilibrar a equidade esportiva com o direito à participação. Enquanto alguns argumentam que atletas com altos níveis de testosterona podem ter vantagens sobre seus concorrentes, outros defendem que a exclusão desses atletas viola os princípios de inclusão e diversidade.
O COI, em suas diretrizes de 2021, destacou a importância de promover a igualdade de gênero e a inclusão no esporte, mas reconheceu que cada federação esportiva deve estabelecer suas próprias regras, levando em conta as especificidades de cada modalidade.