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Futebol feminino vai mudar de patamar? Copa chega ao final com recorde de público e audiência

Especialistas analisam consequências da modalidade após disputa na Austrália e Nova Zelândia

Copa do Mundo Feminina: campeonato teve a Espanha como vencedora (Jose Breton/Getty Images)

Copa do Mundo Feminina: campeonato teve a Espanha como vencedora (Jose Breton/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 21 de agosto de 2023 às 17h30.

Última atualização em 22 de agosto de 2023 às 15h55.

A Copa do Mundo de futebol feminino chegou ao seu final credenciada como sucesso de público, audiência e partidas mais equilibradas tecnicamente. Neste domingo, 2, a Espanha venceu a Inglaterra por 1x0 e sagrou-se campeã do torneio.

A competição deste ano, por sinal, foi a mais vista de toda a história, com quase 1,3 milhão de espectadores dentro dos estádios somente durante a fase de grupos — os dados são 29% maiores em relação à disputa de 2019, na França.

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Já o confronto de maior público aconteceu na semifinal entre Espanha e Suécia, quando 43.217 torcedores foram ao Eden Park. Esse feito igualou o recorde de maior público registrado em um jogo de futebol no país, seja na modalidade masculina ou feminina.

Com o Brasil eliminado ainda na fase de grupos, os olhos do mundo ficaram concentrados nas forças europeias e nos anfitriões, a Austrália, que sediou a competição junto com a Nova Zelândia. E os números da Copa do Mundo deste ano já entraram para a história por uma série de fatores.

"Os números mostram claramente o crescimento da modalidade, não apenas destes grandes eventos mundiais como aqui no nosso país, mas vale alertar para as dificuldades que as instituições ainda encontram para ter seus patrocinadores em todos momentos, como em um torneio regional por exemplo. Acredito ser necessário patrocinadores que consigam apoiar as instituições com prazos maiores, trabalhando juntos de forma estratégica objetivando não apenas resultados dentro de campo mas de forma verdadeira os reais pilares de transformação social, tão citados em campanhas de marketing quando se fala de ESG. Gosto sempre de citar por exemplo uma outra modalidade feminina, o vôlei. Esporte mais do que vencedor, referência em todo mundo e com números inacreditáveis; fica aí uma dica para as marcas que pensam em patrocinar um produto de alta qualidade com projeção nacional e internacional", afirma Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo, e que faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.

Um dos exemplos está na premiação, com mais de US$ 150 milhões distribuídos pela FIFA entre os participantes, um recorde até então e que representa três vezes mais do que a última edição, em 2019.

De acordo com a empresa analítica Omdia, a receita com patrocínios é estimada em US$ 300 milhões com a geração de todo o evento. Entre os principais patrocinadores, destacam-se o McDonald's, a Unilever e a Budweiser.

"Essa edição da Copa do Mundo é um divisor de águas para o futebol feminino, a modalidade ganhou outro patamar de relevância através das receitas obtidas com o evento, presença do público nos estádios, bem como a audiência em relação a edição realizada na França há quatro anos atrás. E possível afirmar que teremos o futebol feminino mais forte do que nunca após essa Copa do Mundo", afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, e que faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.

Outro dado relevante é que a organização da disputa estima que deve chegar a 2 milhões de ingressos vendidos, além de uma audiência global de dois bilhões de pessoas conectadas com a competição.

O maior público entre as Copas femininas foi quebrado este ano, inicialmente com 42 mil pessoas presentes na abertura entre Nova Zelândia e Noruega — o recorde anterior era de 26 mil pessoas.

Já as quartas-de-final, as anfitriãs australianas colocaram quase 50 mil pessoas no Estádio de Brisbane, no duelo que marcou a vitória nos pênaltis frente à França. Na Austrália, foi divulgado que mais de 7 milhões de pessoas acompanharam a partida pela TV — a última vez que as emissoras do país tinham registrado números tão altos de telespectadores acompanhando um evento esportivo ao vivo tinha sido nas Olimpíadas de Sydney, há mais de 20 anos, quando Cathy Freeman venceu a medalha de ouro nos 400 metros rasos, prova do atletismo.

"Apesar da decepção com as brasileiras no torneio, as surpreendentes classificações da Jamaica, vitória da Colômbia sobre a Alemanha, e a confirmação do peso da torcida australiana nos resultados da anfitriã, mostraram que o futebol feminino já não é algo restrito aos países nórdicos, escandinavos e aos Estados Unidos. Está claro que é possível levar a mulheres de todo o mundo melhor treinamento e organização, com resultados evidentes e de curto prazo, dando às competições femininas maior imprevisibilidade, as tornando mais atrativas, e menos deficitárias, sinalizando tendência de que possam ser sustentáveis em mais países, e em diferentes níveis", explica Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil. A empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, se tornou acionista majoritária e controladora da TFM Agency.

Semifinalista, a Inglaterra também tem atraído o interesse do público local, e o país registrou pico de audiência de 5,2 milhões de pessoas a vitória sobre a Nigéria, nas oitavas-de-final.

Já no Brasil, o jogo de estreia diante do Panamá fez com que quase 14 milhões de pessoas acompanhassem ao confronto pela televisão. As jogadoras também capitalizaram isso de forma orgânica, visto que as atletas brasileiras tiveram um salto de mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais durante o evento — a atacante Ary Borges, autores de três gols no primeiro jogo, conseguiu ganhar mais de 200 mil fãs em um único dia.

"A expectativa agora é que estes resultados positivos apareçam também nos clubes do Brasil. Precisamos do apoio das marcas para que o investimento na base e nas categorias profissionais aconteçam e ajudem a acelerar o resultado dentro de campo. E, uma forma de incentivarmos este movimento é darmos luz para este assunto, com a provocação dos consumidores para esta prática. Onde estão as marcas que acreditam no desenvolvimento da modalidade para equidade?", aponta Liana Bazanela, diretora executiva de marketing do Sport Club Internacional.

"Nos últimos anos, o futebol feminino vem em uma crescente de envolvimento ecossistema base de construção do seu produto: clubes, marcas e mídia. Com um maior investimento e visibilidade, o resultado é a massificação — aumento do engajamento do torcedor e recordes de público dentro da modalidade. Esse sempre foi um dos grandes desafios do futebol feminino que, ao longo do tempo, se tornou um produto atrativo, consolidado, que traz valores e mensagens para um segmento específico e vem expandindo para outros públicos também. O que vimos na Copa do Mundo foi bem positivo e a tendência é uma aceleração cada vez maior do consumo do produto e da participação dos stakeholders dentro do processo", complementa Danielle Vilhena, diretora de marcas da Agência End to End, empresa que conecta o torcedor à sua paixão e é um hub de soluções e engajamento para o mercado esportivo.

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