Fifa e OMS lançam campanha de conscientização sobre os riscos de concussão no futebol
Objetivo é destacar os riscos de lesão cerebral traumática e oferecer recursos sobre o assunto
Redação Exame
Publicado em 19 de setembro de 2024 às 14h37.
Última atualização em 19 de setembro de 2024 às 14h38.
A FIFA , órgão máximo do futebol, e a Organização Mundial da Saúde ( OMS ) lançaram nesta quarta-feira, 18, uma iniciativa global de conscientização sobre concussões, desenvolvida com especialistas em saúde cerebral.
O programa “Suspeite e proteja: nenhuma correspondência vale o risco” tem como objetivo destacar os riscos de lesão cerebral traumática e oferecer recursos sobre o assunto, disseram eles em uma declaração conjunta.
“Ao conhecer os sinais de concussão, estar ciente dos riscos e tratar uma concussão corretamente, você pode ajudar a colocar a segurança dos jogadores em primeiro lugar”, disse o presidente da FIFA, Gianni Infantino.
O International Football Association Board (IFAB) aprovou substitutos permanentes para jogadores com concussão em março, após um teste, com a regra implementada na Copa América deste ano.
Para a Dra. Flávia Magalhães, médica do esporte que é pós-graduada em Fisioterapia Traumato-ortopédica e Fisiologia do Exercício, o grande perigo de lesões como a do jogador húngaro está na possibilidade da repetição de traumas e choques na cabeça, os quais podem gerar novas complicações.
"Por estarem continuamente expostos ao risco de concussão, a repetição da mesma lesão é comum em esportistas. Diante disso, os atletas estão mais vulneráveis a lesões repetidas quando não se recuperam totalmente de uma concussão anterior e, mesmo após a recuperação, os atletas são de duas a quatro vezes mais propensos a sofrerem outra concussão em algum momento", explica a médica.
Nos últimos tempos, os casos de concussão no futebol tem aumentado. Na Eurocopa deste ano, o atacante Barnabás Vargas, da Hungria, colidiu com os adversários Gunn e Ralston, durante a vitória por 1 a 0 sobre a Escócia. Posteriormente ao impacto, Vargas caiu desacordado no gramado e permaneceu inconsciente até receber os primeiros atendimentos médicos, realizados em uma tenda improvisada ao seu redor. Preocupado com a situação do companheiro de equipe, o capitão da seleção húngara, Dominik Szoboszlai, veio a público para pedir a revisão dos protocolos médicos para casos graves de concussão, como o de Vargas.
De acordo com um estudo publicado na revista The Lancet Public Health em 2023, atletas de futebol de elite tendem a apresentar 1,5 vezes mais chances de desenvolver doenças neurodegenerativas em comparação ao restante da população. O que, para Rodrigo Brochetto, coordenador médico do Botafogo Futebol SA, está ligado diretamente aos problemas não tratados adequadamente, levando a pioras significativas do quadro.
"Atletas que sofrem concessões sucessivas e que, principalmente não fazem o tratamento adequado, tem um maior risco de apresentar no futuro uma doença chamada Encefalopatia Traumática Crônica, que causa uma degeneração progressiva, levando a alteração de comportamento (agressividade) e demência", pontua o especialista.
De acordo com o Dr. Jhone Pereira, médico do time profissional do Cuiabá, o protocolo para o retorno de esportistas que sofrem com traumas na cabeça, conhecido como SCAT-6, será fundamental para o processo de recuperação total de Vargas.
"O protocolo SCAT-6 prevê retorno gradual às atividades, com etapas diárias que devem ser atingidas. Se por acaso em um dia o atleta não atingir o previsto, voltamos atrás um passo e o tempo demora um pouco mais. A quantidade de dias para retornar vai depender da gravidade, do exame inicial e, principalmente, do comportamento físico, clínico e cognitivo ao longo da recuperação ", explica o Doutor.
Juliano Blattes, médico do Sport Club Internacional, também explica que a imprevisibilidade das concussões gera dificuldade em preveni-las, tornando os protocolos de controle a solução mais viável.
"É muito difícil a gente prevenir uma concussão, até porque a concussão no futebol geralmente é um acidente, um ato inesperado. Quando o atleta do futebol sofre uma concussão, normalmente é com cabeceio, ou batendo a cabeça contra o solo. São esses dois mecanismos os mais comuns. Existem vários protocolos que aplicamos para vermos a gravidade dessa concussão. Em média, o atleta fica afastado sete dias das atividades esportivas. Em casos mais graves,ele pode ficar 15 a 30 dias fora das práticas. No futebol, o padrão é de concussões mais leves", analisa Juliano.
André Fujita, fisioterapeuta esportivo associado à SONAFE Brasil (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física), aponta que as concussões estão entre as três lesões mais frequentes em esportes de contato. Para o profissional, a campanha promovida pela FIFA e pela OMS é fundamental, pois ajuda a conscientizar pessoas do mundo esportivo sobre seus riscos.
"Hoje, a concussão não é fácil de ser prevenida, mas a diminuição da exposição de impactos na cabeça, mudança de regras do esporte, melhora do gesto esportivo e da capacidade física e técnica, podem ajudar a reduzir esses eventos. Por isso, é importante termos iniciativas que mostrem como identificar o problema e quais medidas serem tomadas, tanto para evitar lesões quanto para ajudar no processo de recuperação dos atletas", ressalta André.