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Copa do Mundo Feminina: especialistas analisam motivos que distanciam o Brasil do favoritismo

Seleção é a oitava no ranking de seleções da FIFA e vê adversários mais consolidados na busca pelo título

Embora o crescimento do futebol feminino no Brasil nos últimos anos seja notório, a seleção não tem conseguido repetir esse êxito (Sean M. Haffey/Reuters)

Embora o crescimento do futebol feminino no Brasil nos últimos anos seja notório, a seleção não tem conseguido repetir esse êxito (Sean M. Haffey/Reuters)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 27 de junho de 2023 às 17h28.

A um mês para o início da Copa do Mundo Feminina, a Seleção Brasileira, na visão de especialistas, não figura como uma das principais candidatas ao título. Na oitava posição do ranking da Fifa, divulgado no último dia 9, o país vê outras equipes mais consolidadas na busca pela conquista do Mundial.

Embora o crescimento do futebol feminino no Brasil nos últimos anos seja notório e confirmado pelo bom desempenho de clubes como Corinthians, Ferroviária, Internacional e Palmeiras, a seleção não tem conseguido repetir esse êxito. Na última edição do torneio, a equipe, que na época era treinada por Vadão, foi eliminada pela França ainda nas oitavas de final. A derrota resultou no começo de uma reformulação. No mesmo ano, Pia Sundhage foi escolhida para comandar esse processo.

Desde que a nova treinadora assumiu, o Brasil manteve uma hegemonia nas competições sul-americanas. Em 2022, por exemplo, conquistou o oitavo título da Copa América. Porém, nas competições internacionais o panorama é diferente. Nas olimpíadas de Tóquio, o país caiu nas quartas de final para o Canadá. Enquanto na She Believes Cup deste ano, as brasileiras tiveram apenas uma vitória em três jogos, e ficaram com o terceiro lugar.

O Brasil, embora ainda não tenha nenhum título, coleciona algumas campanhas importantes na Copa do Mundo, como o terceiro lugar, em 1999. Já em 2007, a equipe de Marta bateu na trave e ficou com o vice-campeonato após perder a final para a Alemanha.

Favoritas no Mundial

Na Copa do Mundo, apesar de EUA, Alemanha, Suécia e Inglaterra figurarem no top 4 do ranking de seleções da Fifa, nem todas são as principais candidatas ao título. De acordo com Odds&Scouts, geradora de dados esportivos, e também algumas plataformas de apostas, como Esportes da Sorte, PlayGreen, Casa de Apostas e Galera.bet, a Espanha, em terceiro lugar, tem maior chance de título do que a Suécia, por exemplo, que está com a sétima melhor cotação. Estados Unidos e Inglaterra são as grandes favoritas. O Brasil consta somente em nono lugar na lista.

Ao longo dos últimos anos, uma série de fatores contribuíram para a estruturação desses países como potências na modalidade. Nos Estados Unidos, o futebol feminino é um dos principais esportes há décadas. Segundo relatório da empresa de pesquisa Deloitte, divulgado entre 2021 e 2022, a projeção de receita para os esportes femininos no país era de US$ 1 bilhão. Toda essa visibilidade atraiu investimentos, que impulsionaram ainda mais o crescimento da modalidade.

Em 2019, a VISA firmou parceria de cinco anos com a Federação de Futebol do país e exigiu que 50% do investimento fosse para a equipe feminina. Mais recentemente, a liga nacional aumentou o teto salarial entre as atletas para US$ 1,4 milhão.

A igualdade salarial também contribui para a consolidação do futebol feminino nos EUA. Em fevereiro do ano passado, a federação se comprometeu a pagar de maneira igualitária as seleções feminina e masculina. O país também mostrou ser exemplo no combate ao assédio, ao adotar uma política de punições severas aos envolvidos em casos.

Para o executivo Armênio Neto, especialista em negócios no esporte e sócio-fundador da Let!s Go, empresa que conecta marcas, atletas, clubes e competições, a disparidade de valores do futebol feminino para o masculino no Brasil ainda é um problema: “Há uma diferença grande entre os valores que giram no masculino e no feminino. Mas salários, premiações, transferências e contratos de patrocínio têm aumentado ano após ano. Resultado do crescimento do interesse e audiência, que atraem as grandes marcas. É o círculo virtuoso se formando. O processo é lento, mas tem tudo para ser sólido”.

Atual campeã da Eurocopa e da Finalíssima, inclusive contra o Brasil, a Inglaterra, comandada por Sarina Wiegman — eleita melhor treinadora do mundo pelo Fifa The Best deste ano — é outra favorita ao título. A partir de 2019, o país alavancou o campeonato nacional, que foi repaginado e passou a receber mais patrocínios e exposição. A exemplo disso, em 2021, o Banco Barclays — patrocinador da Premier League — se dispôs a financiar a liga feminina no período de 2022-25, injetando 30 milhões de libras. No mesmo ano, foram fechados acordos para os direitos de transmissão com a BBC e a Sky Sports até 2024, com valores entre 7 e 8 milhões de libras.

Todos esses investimentos resultaram no fortalecimento das equipes inglesas e da seleção nacional. O país passou a acumular números expressivos de torcedores nos jogos. Em setembro de 2022, o clássico entre Arsenal e Tottenham bateu o recorde do Campeonato Inglês feminino, com 47.367 pessoas. A final da última Eurocopa, entre Inglaterra e Alemanha, no Wembley Stadium, recebeu mais de 87 mil torcedores e superou o maior público registrado nas edições masculinas e femininas do torneio. Já a Finalíssima deste ano reafirmou o sucesso da modalidade no país, com 83.132 pessoas, também em Wembley, para a decisão entre Inglaterra e Brasil.

Futebol brasileiro

Em âmbito nacional, o crescimento das equipes femininas está resultando em uma maior visibilidade e adesão do público à modalidade. Na final do Campeonato Brasileiro, em 2022, Corinthians e Internacional registraram recorde de público entre clubes femininos na América do Sul. Na ocasião, o segundo jogo contou com 41.070 torcedores presentes na Neo Química Arena, em São Paulo, e registrou uma renda bruta de R$ 900.981,00 (número também inédito no continente).

“O fortalecimento das competições nacionais é, sem dúvidas, um dos caminhos para que o futebol feminino seja ainda mais valorizado no Brasil. Um cenário com competições fortes permite que as equipes se mantenham constantes e atinjam um nível técnico e competitivo cada vez maior. Quanto mais competições e equipes de alto nível existirem, maior será o desenvolvimento da modalidade no país e, consequentemente, um público maior é mobilizado”, destaca Leonardo Menezes, Gerente de Futebol Feminino do Internacional.

Na Inglaterra, porém, o protagonismo feminino não se restringe apenas aos gramados. Atualmente, as duas principais entidades do futebol do país, a Federação de Futebol da Inglaterra e a Premier League, são comandadas por executivas mulheres. No Brasil, este cenário ainda parece distante.

O Juventude se destaca no trato à modalidade, e tem Renata Armigliato como coordenadora do departamento feminino. “Estamos vivendo um processo no qual a mulher está lutando e começando a ocupar espaços dominados pela presença masculina, o que deve ser comemorado e incentivado. Hoje, a participação da mulher em cargos executivos no futebol brasileiro ainda é inferior a 5%. A presença de lideranças femininas em clubes e federações é de extrema importância, pois traz a modalidade um entendimento e até mesmo uma certa empatia que homens não conseguiriam oferecer. Além disso, é fundamental para que as novas gerações se sintam representadas e compreendam que elas fazem parte de um novo processo muito importante para o esporte,” ressalta Renata.

No grupo F da competição, o Brasil inicia a trajetória em busca do primeiro título da Copa do Mundo Feminina no dia 24 de julho, diante do Panamá, no Hindmarsh Stadium, em Adelaide, Austrália. França e Jamaica são as seleções que completam o grupo.

Quebra de recordes

A atual edição da Copa do Mundo Feminina tem tudo para ser histórica. De acordo com Gianni Infantino, presidente da FIFA, mais de 1 milhão de ingressos já foram vendidos, e a expectativa é de superar o recorde de público pertencente à edição de 2015, no Canadá.

Financeiramente, o torneio também quebra marcas. A premiação aumentará em 300% e será de US$ 150 milhões, aproximadamente R$ 792 milhões. A entidade máxima do futebol também já anunciou que premiará todas as atletas da competição com, no mínimo, US$ 30 mil, valor equivalente a cerca de R$ 147 mil. A premiação individual da competição pode chegar a um total R$ 1,3 milhão.

A Fox, detentora dos direitos de transmissão, por sua vez, já vendeu 90% dos comerciais da competição e superou em 50% o faturamento obtido na edição de 2019.

"Serão vistos grandes números nesta Copa do Mundo em relação à bilheteria, premiação e receitas com produtos licenciados. Essas marcas são possíveis porque o futebol feminino está crescendo de forma expressiva e rápida ao redor do mundo e despertando um interesse cada vez maior de todas as esferas, tanto de investidores quanto do público, sobre a modalidade", destaca o executivo Fábio Wolff, especialista em marketing esportivo e organizador da Brasil Ladies Cup, um dos principais torneios de futebol feminino do país.

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