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Pesquisadores encontram microplásticos em testículos humanos e de cachorros

Foram identificados 12 tipos de plástico; níveis mais elevados de PVC no tecido dos animais estavam correlacionados com uma menor contagem de espermatozóides

Lixo: homens limpam areia à beira-mar, lotada de garrafas plásticas (Getty Images)

Lixo: homens limpam areia à beira-mar, lotada de garrafas plásticas (Getty Images)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 21 de maio de 2024 às 07h30.

A presença crescente de microplásticos e nanoplásticos nos rios e oceanos, solo e ar tem levado os cientistas a investigarem os efeitos destes materiais na natureza e na saúde humana. O estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Novo México, publicado no último dia 15 no periódico Toxicological Sciences, identificou "concentrações significativas" dos microplásticos em testículos humanos e de cães.

Foram examinados 47 testículos caninos e 23 humanos, retirados durante autópsias. Com a ajuda de equipamentos sensíveis, os resultados das análises confirmaram a presença de 12 tipos de microplástico em todas as amostras. A concentração média do material no tecido testicular dos cães foi de 122,63 microgramas por grama (µg/g) de tecido. No caso do tecido testicular humano a concentração foi maior, de 328,44 microgramas por grama.

A quantificação de microplásticos em amostras de tecido foi possível graças a um novo método analítico que revelou correlações entre certos tipos de plástico e a redução da contagem de espermatozóides nas amostras caninas.

Além de mapear a presença do material, os pesquisadores investigaram possíveis relações com a contagem de espermatozóides e o peso dos testículos.

Segundo os pesquisadores, a presença de microplásticos e nanoplásticos desperta preocupações quanto ao seu potencial impacto no sistema reprodutor humano. "Existem poucos dados sobre os microplásticos no sistema reprodutor humano e as suas potenciais consequências na qualidade do esperma", descreveram no estudo.

A equipe conseguiu contar os espermatozóides nas amostras caninas - não nas humanas, que tinham sido preservadas quimicamente - e descobriu que níveis mais elevados de PVC no tecido estavam correlacionados com uma menor contagem de espermatozóides, declarou Yu. No entanto, não houve correlação com a concentração de PE no tecido.

“No início, duvidei que os microplásticos pudessem penetrar no sistema reprodutor. Quando recebi pela primeira vez os resultados relativos aos cães, fiquei surpreendido. Fiquei ainda mais surpreendido quando recebi os resultados relativos aos humanos”, relatou por meio de comunicado Xiaozhong ‘John’ Yu, MD, PhD, MPH, professor da Faculdade de Enfermagem da UNM e líder da pesquisa.

Garrafas de plástico

Entre os vários tipos de polímeros, apontaram os cientistas, o polietileno (PE) predominou. Foi observada uma correlação negativa entre polímeros específicos, como o PVC e o PET, e o peso normalizado do testículo. O PP é usado como matéria-prima na produção de embalagens para uma série de setores. Está, por exemplo, nas garrafas de plástico. Entre as indústrias usuárias estão a de alimentos e bebidas, farmacêutico, cosméticos, medicamentos, transporte, armazenamento, redes de água, esgoto, gás, eletricidade e comunicação.

O tipo de plástico pode estar correlacionado com a função potencial, segundo o pesquisador-chefe. “O PVC pode libertar muitos químicos que interferem com a espermatogênese e contém químicos que causam perturbações endócrinas.”

Os microplásticos, conforme descrevem os pesquisadores, resultam da exposição do plástico à radiação ultravioleta da luz solar e da sua degradação em aterros sanitários. Alguns pedaços são tão pequenos que são medidos em nanômetros (a bilionésima parte de um metro).

Jovens mais expostos

O pesquisador Yu informou ainda que a idade média dos homens nas amostras das autópsias era de 35 anos, o que significa que a sua exposição ao plástico começou há décadas, quando havia menos plástico em circulação. “O impacto na geração mais jovem pode ser mais preocupante, agora que há mais plástico do que nunca no ambiente, alertou.

As descobertas apontam o caminho para pesquisas adicionais para entender como os microplásticos podem afetar a produção de esperma nos testículos, disse ele. “Temos muitas incógnitas. Precisamos realmente de analisar o potencial efeito a longo prazo. Serão os microplásticos um dos factores que contribuem para este declínio?”

Ao divulgar as suas descobertas, no entanto, Yu disse não querer gerar pânico. “Não queremos assustar as pessoas”, afirmou. “Queremos fornecer cientificamente os dados e sensibilizar as pessoas para a existência de muitos microplásticos. Podemos fazer as nossas próprias escolhas para evitar a exposição, mudar o nosso estilo de vida e o nosso comportamento”.

Yu, que estuda o impacto de vários factores ambientais no sistema reprodutor humano, acrescentou ainda o fato de os metais pesados, os pesticidas e os produtos químicos desreguladores do sistema endócrino estarem relacionados ao declínio global da contagem e da qualidade do esperma nos últimos anos.

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