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O paradoxo da Tesla: carros elétricos e poluição em excesso

A compra de bitcoins pela montadora a tira dos trilhos sustentáveis e da redução da pegada de carbono

Elon Musk, CEO da Tesla: empresa compromete discurso ambiental com a compra de bitcoins (Aly Song/File Photo/Reuters)
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Maria Clara Dias

Publicado em 15 de fevereiro de 2021 às 12h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2021 às 16h16.

A Tesla não é hoje apenas uma referência em inovação para toda a cadeia automotiva, que replica decisões de mercado tomadas por Elon Musk, CEO da empresa, mas também um espelho de ações com foco em sustentabilidade. Principal fabricante de carros elétricos do mundo, a Tesla também aposta na produção e armazenamento de energia renovável mundo afora, especialmente a solar.

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Ao passo em que é uma das principais apostas do setor para os próximos anos, a Tesla se gaba de um portfólio crescente de modelos totalmente elétricos e com um potencial imenso de reduzir os impactos das emissões de carbono. No entanto, na última semana o discurso da montadora divergiu da sua atuação em um certo ponto: as criptomoedas.

O posicionamento climático da empresa foi chacoalhado pelo anúncio da compra de 1,5 bilhão de dólares em bitcoins. A compra foi o primeiro passo para que, em um futuro não tão distante, a Tesla passe a aceitar o ativo como forma de pagamento nas vendas dos veículos da marca.

O grande problema ambiental do bitcoin está na mineração. O consumo de energia no processo é imenso e raramente parte de fontes renováveis. Ao considerar os principais países emissores da moeda, é possível atrelar o ativo a combustíveis fósseis e com impacto desastroso ao meio ambiente. Esse é o caso da China, principal mineradora de bitcoins do mundo - e que ainda possui parte de sua matriz nacional baseada no carvão e usinas termelétricas.

De acordo com o Cambrigde Bitcoin Electricity Consumption Index, índice que mede o consumo global de energia da criptomoeda em tempo real, se fosse um país, o bitcoin estaria em 31º lugar entre as nações que mais consomem eletricidade no mundo, ultrapassando países como a Argentina, por exemplo.

Em entrevista ao portal The Verge, analistas defendem que o investimento simboliza um retrocesso para as ações ambientais da Tesla. Para os especialistas, o investimento, além de alimentar a crise climática global, será responsável por inflar a pegada de carbono da empresa e fazê-la perder o posto de liderança verde no segmento.

Como era de se esperar, a aposta da Tesla acarretou em uma alta desenfreada dos preços do ativo. Pela primeira vez, a moeda atingiu o valor de 44,8 mil dólares, uma variação de quase 20% em relação ao dia anterior, levando até mesmo gigantes de tecnologia como a Apple a desejarem entrar no mercado cripto, segundo relatório do RBC Capital Markets.

O contraponto ambiental

Afora a polêmica que envolve o impacto ambiental do consumo energético da mineração, o bitcoin pode ser uma solução viável para a expansão das energias renováveis. Segundo uma pesquisa da CoinShares Research, 74,1% da energia utilizada por mineradores de bitcoin do mundo todo vêm de fontes renováveis, em especial usinas hidrelétricas, solares e eólicas.

O contraponto também se aplica ao território chinês, onde a mineração é um reflexo direto dos custos energéticos inferiores do país e também da produção excedente de eletricidade pela usina hidrelétrica de Sichuan em temporadas chuvosas. A província hoje representa 50% do hashrate do bitcoin no mundo.

Bilionário Verde

Elon Musk é hoje o principal bilionário verde do mundo, segundo ranking da Bloomberg . De acordo com a lista, o empresário tem um patrimônio ambiental superior a 180 bilhões de dólares. Esse montante, porém, representa 91% de toda sua fortuna -  que é de 199,2 bilhões de dólares - e exclui os negócios espaciais do empresário.

Além de afirmar que seus modelos elétricos são fabricados para ter o maior tempo de duração possível, a Tesla conta com um processo de reciclagem de baterias ao final de sua vida útil e é também uma das principais fabricantes de painéis solares dos Estados Unidos.

A última aposta da empresa está no lançamento de telhas residenciais que imitam as peças tradicionais, mas são abastecidas por energia solar. Segundo dados da empresa, mais de 3,6 GW de potência em energia solar limpa foram instalados em 400.000 telhados - equivalente ao que é gerado por 10 milhões de painéis solares tradicionais.

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