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A árvore da Mata Atlântica que resiste a mudanças do clima e solo contaminado

Estudo da UFMG mostra que pitanga-preta mantém fotossíntese eficiente em áreas afetadas por rejeitos de mineração e suporta temperaturas mais altas

O estudo identificou ainda um aumento da tolerância ao calor nas plantas estabelecidas em solo contaminado

O estudo identificou ainda um aumento da tolerância ao calor nas plantas estabelecidas em solo contaminado

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 27 de dezembro de 2025 às 14h04.

Enquanto a crise climática e o legado da mineração tornam a vida mais difícil para a maior parte das espécies, uma árvore da Mata Atlântica encontrou um caminho improvável de resistência.

A pitanga-preta (Eugenia florida) não apenas sobrevive em solos envenenados por rejeitos de mineração como também desenvolveu uma tolerância extra ao calor extremo, uma combinação rara que pode levar cientistas a entender os caminhos para restaurar ecossistemas devastados.

A descoberta é de um estudo conduzido por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da Universidade de Oxford e do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq/MCTI).

A pesquisa, publicada na revista Theoretical and Experimental Plant Physiology, foi realizada em áreas impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015. O desastre afetou diretamente a bacia do Rio Doce e deixou solos contaminados por rejeitos de mineração.

Adaptação em solo degradado

Os pesquisadores avaliaram indivíduos da espécie em áreas contaminadas e não contaminadas, analisando características do solo e 16 variáveis fisiológicas relacionadas ao estado nutricional, eficiência fotossintética, fotoproteção e tolerância térmica. O objetivo foi entender como a árvore responde a múltiplos estresses ambientais combinados.

As análises confirmaram que os solos afetados pelos rejeitos apresentam menor fertilidade, baixíssima matéria orgânica e concentrações reduzidas de nutrientes essenciais, além de elevado teor de ferro. Mesmo assim, as plantas de pitanga-preta exibiram respostas compensatórias: apesar da redução no balanço de nitrogênio, aumentaram a produção de clorofila e de compostos antioxidantes fundamentais para a proteção celular, como os flavonoides.

A eficiência da fotossíntese também se manteve estável nos indivíduos que crescem em áreas contaminadas. Segundo os autores, essas plantas conseguiram reorganizar suas rotas metabólicas associadas à fotoproteção, promovendo ajustes fisiológicos integrados que permitem manter o funcionamento fotossintético sob múltiplos estresses.

Maior tolerância ao calor

O estudo identificou ainda um aumento da tolerância ao calor nas plantas estabelecidas em solo contaminado. Esses indivíduos só começam a perder metade da eficiência fotossintética quando a temperatura é cerca de 6,5% mais alta do que a suportada por plantas de áreas não contaminadas.

Esse fenômeno é conhecido como "tolerância cruzada": o estresse contínuo provocado pelo solo degradado parece preparar as plantas para lidar também com ondas de calor, cada vez mais frequentes em cenários de mudanças climáticas.

Potencial para restauração

Com base nos resultados, os pesquisadores avaliam que a pitanga-preta possui elevada plasticidade funcional, coordenando fotoproteção, balanço energético e mecanismos antioxidativos para enfrentar condições ambientais extremas.

Essa resiliência destaca o potencial da espécie para programas de restauração de matas ciliares impactadas por rejeitos de mineração e expostas a eventos climáticos extremos.

De acordo com os autores, os achados reforçam a importância de selecionar espécies nativas capazes de responder a estresses múltiplos, que hoje moldam os ecossistemas tropicais, especialmente em áreas degradadas.

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