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Ações de sustentabilidade devem dialogar com cultura das empresas

Pesquisa da Russell Reynolds mostra que, em todo mundo, 76% dos executivos veem CEOs engajados

Práticas de sustentabilidade dependem de responsabilização e engajamento. (	pcess609/Getty Images)

Práticas de sustentabilidade dependem de responsabilização e engajamento. ( pcess609/Getty Images)

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Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 26 de janeiro de 2024 às 15h08.

Ainda que a preocupação com a sustentabilidade tenha avançado nos últimos anos diante da agenda ESG (sigla em inglês para práticas relacionadas ao meio ambiente, questões sociais e de governança), o tema guarda lacunas que podem ser encaradas como oportunidade pelas organizações, segundo pesquisa da consultoria Russell Reynolds Associates.

De acordo com o estudo, 76% dos executivos entrevistados pela consultoria em 104 países da Europa, Américas e Ásia veem os CEOs comprometidos com o tema, enquanto 50% acreditam que seu CEO impulsiona a inovação necessária e faz investimentos ousados para transformar a empresa.

“Quase a maioria dos entrevistados acredita que há impacto na viabilidade de negócios no longo prazo, mas não há a concretude que os negócios pedem. A questão está em aberto e vai demandar bastante trabalho da sociedade”, explica a head da prática de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e ESG da Russell Reynolds Associates, Tatyana Freitas.

Segundo ela, o tema está em alta na sociedade e, por isso, as empresas não podem perder o momento para aumentar o engajamento. Confira abaixo os principais pontos da entrevista realizada com Tatyana, que argumenta que estabelecer objetivos a partir de métricas é fundamental, assim como a existência de uma cultura organizacional que crie uma boa atmosfera interna para o tema ser trabalhado.

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Esfera Brasil: Quais são as quatro lacunas que mais ameaçam o avanço da agenda sustentável nas empresas e como elas se relacionam?

Tatyana Freitas: Nas conversas que a gente teve ao redor do mundo com um número expressivo de entrevistados, de executivos, em um universo geográfico bastante amplo, a gente conseguiu identificar e capturar quatro áreas de oportunidades. São lacunas plenamente preenchíveis, digamos assim. A gente nomeou em inglês, mas traduziu aqui para o seguinte: mentalidade disruptiva, motivação, responsabilização e engajamento. Mentalidade é o que vem primeiro, o pensamento; a primeira coisa que precisa acontecer é esse tema fazer parte do pensamento dos líderes. A motivação é a vontade. Então deriva do pensamento a vontade, ou seja, essa atitude de colocar aquele pensamento em prática. O terceiro, que é a responsabilização, é quando você passou do pensamento para a vontade e, então, você coloca objetivos concretos e traz isso para o dia a dia, você se responsabiliza. E o quarto é o engajamento, que é quando você consegue a atenção genuína. O conceito é esse: pensamento, vontade, execução pela responsabilidade e o engajamento, quando vêm o coração e a alma para o assunto.

Em relação à realidade brasileira, quais são as impressões que a pesquisa apresenta?

Comparando, as respostas dos executivos brasileiros indicam que os CEOs estão pessoalmente comprometidos com a agenda sustentável. São 15 pontos percentuais acima, e isso é muito significativo. Um pouco dessa leitura que a gente teve é o fato de que o Brasil mundialmente é muito visado. Se fala das dimensões de sustentabilidade em função da sua relevância no agro. Em todas as questões envolvendo biomas, como a Floresta Amazônica e o Pantanal, o Brasil é cobrado. É natural que os CEOs de empresas do Brasil tenham essa pauta mais presente. Percebe-se dos executivos essa preocupação com o tema. A vontade e a preocupação estão muito presentes, e a gente acha que isso tem a ver com o quanto o Brasil é cobrado principalmente em relação à preservação do meio ambiente. As empresas que estão no Brasil, não somente brasileiras, estão mais atentas a esse aspecto, mais conscientes e mais preocupadas.

E como mensurar resultados? 

O mais importante é estabelecer quais são os objetivos, e aí medir. Algumas empresas vão precisar colocar mais energia, prestar mais atenção em pontos relacionados ao social, em diversidade e inclusão. Em algumas empresas, uma boa métrica é estabelecer critérios para a inclusão. Para uma outra empresa, o desafio pode estar na área de governança, e assim será preciso trabalhar em métricas específicas para isso. O ambiental para outras empresas também pode ser o mais relevante: “Como que a gente estabelece uma eficiência para o uso de energia?”, tão simples quanto isso. O mais importante é fazer disso uma métrica. Para cada setor isso vai variar. Não tem uma métrica única. O mais importante é estabelecer métricas ligadas a ESG e identificá-las como tal. Muitas vezes essas métricas têm outro nome, e não estão percebendo que elas fazem parte desse arcabouço enorme e fascinante do ESG. Às vezes falta o olhar. É importante intensificar esse esforço e compartilhar com os colaboradores, deixá-los orgulhosos do que estão fazendo. Precisa ter o conceito, a mentalidade.

E de que forma a cultura organizacional pesa nesse processo todo?

A cultura é estrutural para questões de ESG. É impossível estabelecer uma agenda sem ter esse tema incluído nas ações, no dia a dia. Se a gente olhar para a sustentabilidade, isso é irreversível. É impossível avançar sem levar isso em consideração. Observar isso como oportunidade de criação de valor para engajar comunidades tem tudo a ver com a cultura. Não consigo perceber uma agenda que avança sem ter o total engajamento, sem que isso faça parte da cultura. Não se compra isso.

Então, numa visão otimista, a cultura é um fator facilitador?

Na visão otimista, sim. Só que a cultura também pode ser um desacelerador. Se você tem as metas e a clareza das lideranças, mas a cultura é contrária, você não consegue implantar [soluções de sustentabilidade]. Eu não consigo imaginar que alguém possa ser contra a política de ESG, mas, sim, isso pode acontecer. Então vamos tocar numa ferida. Se você tem um programa dentro do aspecto social, de fazer um esforço de inclusão, se você não tem uma cultura aberta, se não tem uma cultura de acolher o diferente e ouvir pensamentos diversos, a cultura pode ser um entrave. Ela é fundamental para o bem e para o mal. Se não tem uma cultura aberta, não adianta estabelecer as metas sem trabalhar esse ponto. É impossível trabalhar o ESG sem olhar para si, olhar para a sua cultura e ver onde você pode chegar e onde pode ter algumas armadilhas.

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