Inflação: combustíveis e energia elétrica tiveram queda de preço no mês, enquanto alimentos subiram (Leandro Fonseca/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 9 de agosto de 2022 às 09h04.
Última atualização em 9 de agosto de 2022 às 18h24.
A inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice inflacionário brasileiro, fechou o mês de julho com queda de 0,68%. O resultado foi divulgado nesta terça-feira, 9, pelo IBGE.
No acumulado de 12 meses, a inflação ficou em 10,07%.
Nos sete meses deste ano ano até julho, a alta acumulada é de 4,77%.
O resultado de julho representa uma deflação, quando há variação negativa no índice. É a menor inflação desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980, segundo o IBGE.
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Usualmente, uma deflação acontece quando a economia está desacelerada. Mas, no caso do Brasil, a queda foi puxada sobretudo pela desoneração dos combustíveis e energia elétrica, aprovada em junho no Congresso e que levou estados a reduzirem o ICMS sobre esses insumos.
O preço dos combustíveis caiu mais de 14% neste mês (veja os detalhes no fim da página).
Na outra ponta, a inflação na alimentação segue pressionada, liderada pelo leite, que subiu mais de 25% no mês.
"Essa redução [em combustíveis e energia] afetou não só o grupo de transportes (-4,51%), mas também o de habitação (-1,05%), por conta da energia elétrica (-5,78%)", disse em nota o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.
"Foram esses dois grupos, os únicos com variação negativa do índice, que puxaram o resultado para baixo."
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O INPC, índice que mede a inflação na cesta das famílias mais pobres (até cinco salários mínimos) também caiu 0,60% em julho. O acumulado em 12 meses do INPC é de 10,12%.
O resultado de julho ficou em linha com o consenso do mercado, que esperava redução da inflação acumulada para 10,10%.
A expectativa é que a inflação acumulada saia de dois dígitos já em agosto e chegue a pouco mais de 7% no fim do ano.
A inflação no Brasil superou dois dígitos em setembro do ano passado, uma das piores desde a implementação do Plano Real, e não caiu para baixo desse patamar desde então (veja no gráfico).
A queda no IPCA de julho pode reforçar a expectativa de que o Banco Central já tenha subido os juros de forma suficiente para conter a inflação, sem a necessidade de um novo ajuste na reunião de setembro.
A tese foi fortalecida pelo boletim Focus desta semana, com a manutenção da projeção da Selic a 13,75% para o fim do ano. O Brasil está sob a maior taxa básica de juros, a Selic, desde 2016.
Porém, parte do mercado também acredita que o BC ainda possa fazer neste ano algum reajuste residual, com mais um aumento em setembro.
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Além disso, há pressão esperada para a inflação de 2023, com a volta de impostos cortados temporariamente, câmbio pressionado com a alta de juros nos EUA e Europa e o risco fiscal em meio à PEC Kamikaze, que elevou o valor do Auxílio Brasil para R$ 600 e criou um voucher caminhoneiro.
As projeções de inflação para 2023 vêm subindo, e a mediana de apostas para o IPCA no ano que vem ficou em 5,36% no boletim Focus desta semana.
Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, dois tiveram queda no mês de julho e os demais subiram.
A maior queda foi no grupo Transportes (-4,51% em junho, após alta de 0,57% em junho). Sozinhos, os combustíveis caíram 14,15%.
Além do corte de ICMS e tributos federais, a Petrobras reduziu o preço da gasolina duas vezes em julho, em meio à queda no preço do petróleo no mercado internacional.
O diesel foi menos impactado pelos cortes de impostos porque os tributos federais já estavam zerados para o diesel anteriormente, e o ICMS já era menor neste combustível do que na gasolina. Além disso, um terço do diesel consumido no Brasil é importado e não refinado pela Petrobras, fatia maior do que na gasolina.
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No IPCA, o grupo Habitação também caiu 1,05% (após alta de 0,41% em junho), devido à queda no preço médio na energia elétrica residencial (-5,78%).
Além da redução na alíquota de ICMS, a Agência Nacional de Energia Elétrica, reguladora do setor, aprovou uma revisão que reduziu as tarifas em 10 distribuidoras no país.
A maior alta, na outra ponta, veio no grupo Alimentação e bebidas, que acelerou de 0,80% em junho para 1,30% no mês de julho. O destaque foi o custo da alimentação no domicílio (alta de 1,47%).
O principal vilão segue sendo o leite, que subiu 25,46% e teve o maior impacto positivo no índice do mês (0,22 p.p.) dentre os itens.
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Na mesma linha, os derivados do leite tiveram altas fortes, como o queijo (5,28%), a manteiga (5,75%) e o leite condensado (6,66%).
As frutas também subiram, com alta de 4,4%. Já outros legumes e verduras que haviam subido amplamente no começo do ano seguiram em queda, como tomate (-23,68%), batata-inglesa (-16,62%) e cenoura (-15,34%).
(Com Guilherme Guilherme)