Ciência

O que é e como funciona a Butanvac, desenvolvida pelo Butantan

Feita no Brasil, a nova vacina será produzida com base na variante P.1, a cepa de Manaus

Instituto Butantan: produção e testes da Butanvac não irá alterar cronograma da Coronavac (Amanda Perobelli/Reuters)

Instituto Butantan: produção e testes da Butanvac não irá alterar cronograma da Coronavac (Amanda Perobelli/Reuters)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 26 de março de 2021 às 08h56.

Última atualização em 28 de abril de 2021 às 13h49.

O Instituto Butantan anunciou em 26 de março os planos de produzir e testar em humanos uma vacina própria contra a covid-19, chamada de Butanvac, produzida no Brasil em parceria com outros dois países, Vietnã e Tailândia.

De acordo com o presidente do Butantan, Dimas Covas, a vacina irá utilizar a mesma tecnologia já usada nas vacinas da gripe, também desenvolvidas pelo Instituto.

Apesar dos planos, um mês após o anúncio, em 27 de abril, os testes em humanos da Butanvac foram negados pela Anvisa, que alegou o imunizante não atendeu a requisitos mínimos, com protocolos que serão seguidos nos estudos clínicos ainda incomplementos.

A Butanvac usa o vírus inativado de uma gripe aviária que não afeta humanos, chamada de doença de Newcastle, para transportar o material genético do Sars-CoV-2, o causador da covid-19, para gerar uma resposta imune. A vacina de Oxford-AstraZeneca tem princípio semelhante, mas utiliza um adenovírus de chimpanzés modificado, chamado de ChAdOx1.

A nova vacina se pretende ser um dos imunizantes à frente da segunda onda de combate à pandemia e já será feita com base na variante P.1, a cepa de Manaus, garantindo eficácia contra as versões mais recentes e contagiosas do coronavírus.

Segundo Covas, os estudos clínicos em humanos que serão conduzidos a partir de agora servirão para aferir quantas doses da vacina serão necessárias e qual o intervalo das doses. Ele não descartou a possibilidade de que a vacina seja de dose única, como a da Janssen, ao contrário da maioria das vacinas contra a covid-19.

Covas afirmou ainda que, em maio, quando terminar a produção de vacinas para a influenza, o laboratório poderia iniciar a produção dos imunizantes. O governador João Doria afirmou que, seguindo esse calendário, a vacina poderia ser distribuída já em julho deste ano.

De acordo com o presidente do Butantan, a experiência adquirida desenvolvendo vacinas no último no ano e imunizando a população permitirá que a rodada de testes da Butanvac seja acelerada para atender ao rápido cronograma divulgado inicialmente. Ele afirmou que os resultados dos testes em animais foram positivos, mas não deu maiores detalhes.

No ano passado, algumas das principais vacinas entraram em testes no final de março e abril, mas a fase clínica dos testes em humanos só acabou por volta do final do ano, quando a vacinação se iniciou em países como o Reino Unido.

Antes do anúncio, o Instituto chegou a pedir solicitação emergencial à Anvisa para iniciar a fase clínica dos testes no Brasil e já realiza a primeira fase na Tailândia. Como profissionais de saúde já estão sendo vacinados no Brasil, a Butanvac deve ser testada em grupos não contemplados no Plano Nacional de Imunização (PNI). Mas a Anvisa negou, no final de abril, a autorização para o prosseguimento das análises.

A ideia é que a vacina ajude a conter a pandemia em países de baixa renda. Covas afirmou que vacinas deste tipo estão entre as mais baratas e que o imunizante será acessível. Doria afirmou que os custos são reduzidos pela fabricação no Brasil e por não haver necessidade de importar insumos.

Quais são as fases de uma vacina?

Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz resposta imune contra a doença; já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia do imunizante.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população, mediante monitoramento dos efeitos da medicação em larga escala.

 

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