Hennessy: 52% da produção de conhaque no mundo é feito pela marca da LVMH (Divulgação/Divulgação)
Repórter de Casual
Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 18h22.
A quarta letra da LVMH representa uma das marcas mais emblemáticas do mundo quando se fala em conhaque, a Hennessy. Com mais de 250 anos de história, a marca lidera o mercado com 52% da produção mundial de conhaque.
Em passagem pelo Brasil pela primeira vez, Marie Hennessy, embaixadora da Maison Hennessy e nona geração da família Hennessy e Julien Pepin-Lehalleur, diretor de educação e treinamento da Hennessy conversaram com a EXAME sobre o processo de produção histórico, percepção atual do mercado sobre o destilado e desafios e oportunidades.
Marie cresceu e ainda mora na região de Conhaque. Ainda que tenha optado pela carreira do direito, aos 40 anos decidiu seguir os passos da família no ramo das bebidas. Seu pai é embaixador da marca há mais de 50 anos. “Cresci nesse meio e tudo sempre parece normal. Mas quando fui embora para seguir na advocacia, passei a ver a empresa de uma perspectiva diferente, com uma visão mais ampla e percebi como o produto é fascinante, assim como a história de conhaque ao longo de 250 anos para a Hennessy”.
Para Marie, a forma de consumo do conhaque segue como uma filosofia para a sua família. “Temos uma mentalidade aberta que está realmente presente na família, já que para nós não há uma forma certa ou errada de consumir a bebida”. Um alívio para quem prefere beber o destilado em um dia frio, misturado com chocolate quente. Ou no mercado chinês, que consome o destilado em forma de shots durante as refeições. Já outros mercados, como o europeu e americano, a bebida costuma iniciar ou finalizar os jantares.
“A nossa filosofia é garantir que, ao comprar uma garrafa de Hennessy hoje, em qualquer parte do mundo, o consumidor tenha a mesma experiência sensorial daqui a 10 anos”, diz Pepin-Lehalleur.
O mercado de conhaque, como qualquer outro setor de bebidas alcoólicas, é cíclico, com períodos de crescimento e declínio. A Hennessy enfrenta hoje um ciclo de baixa, com menos consumo nos EUA e na China, dois dos maiores mercados para a marca.
Nos Estados Unidos, o consumo de destilados, de maneira geral, tem diminuído, especialmente com a ascensão de outras bebidas, como a tequila. Segundo Pepin-Lehalleur, nos últimos três anos, a tequila superou o bourbon como o destilado número um no país, o que reflete uma mudança nos gostos dos consumidores. Em paralelo, no mercado chinês, o conhaque continua a ser visto como um símbolo de prestígio e respeito. “Levar uma garrafa de XO para um jantar é um sinal claro de respeito”.
Marie Hennessy: nona geração da família à frente da produção de conhaque (Divulgação/Divulgação)
A Hennessy enxerga um enorme potencial de crescimento em mercados emergentes, como o Brasil, onde a marca mostra um grande interesse. O país é considerado um mercado promissor devido à crescente demanda por produtos premium e a uma maior familiarização com o conceito de mixologia, que abre portas para o uso do conhaque em coquetéis.
A flexibilidade no consumo abre caminho para o crescimento da bebida, que também pode ser apreciada em combinações inusitadas, como chocolate quente, chá (na Ásia) ou até mesmo no Café Charentais, uma versão francesa do famoso Espresso Martini. Mercados considerados maduros para a marca, como o Reino Unido, África do Sul, Hong Kong e Singapura já entendem a versatilidade do conhaque, que pode ser consumido de diversas formas — puro, com gelo ou em coquetéis clássicos como o Sidecar e o Horse's Neck — permite que a marca explore novos perfis de consumo.
Para Pepin-Lehalleur, um dos principais desafios que o conhaque enfrenta é a percepção do consumidor de que a bebida é “muito forte”. Isso pode ser, em parte, atribuído ao uso inadequado de copos balão, que concentram os vapores de álcool. A Hennessy recomenda o uso de copos de vinho ou rocks glass para uma experiência mais equilibrada e agradável.
A produção do destilado da Hennessy começa com a escolha da matéria-prima. A marca utiliza exclusivamente a uva Ugni Blanc, uma decisão estratégica que simplifica o processo de produção e garante um perfil de sabor distinto.
“A uva Ugni Blanc é a chave para nossa produção de conhaque, permitindo-nos manter um padrão de qualidade consistente ao longo dos anos”, diz Pepin-Lehalleur. O uso exclusivo dessa variedade facilita o controle sobre o produto final.
Julien Pepin-Lehalleur: Diretor de Educação e Treinamento da Hennessy (Alexis Jacquin/Divulgação)
Após a colheita, as uvas são transformadas em vinho e então passam por um processo de destilação em alambiques de cobre, uma prática tradicional que garante a obtenção do eau-de-vie — o destilado base do conhaque.
A destilação é realizada duas vezes, assegurando uma concentração máxima de sabor e de qualidade. O eau-de-vie então é levado para envelhecer em barris de carvalho, o que confere ao conhaque suas características únicas de sabor e aroma.
A Hennessy não realiza o processo de "finish", em que o destilado é envelhecido em barris que já contiveram outros tipos de bebidas, pois acreditam que seus conhaques são suficientemente complexos sem a necessidade dessa etapa adicional.
“Nós começamos a envelhecer nossos destilados por períodos mais longos há mais de 100 anos, o que nos permitiu acumular um estoque único de eaux-de-vie antigas”, diz Pepin-Lehalleur.
Atualmente, a Hennessy possui um estoque de 600.000 barris de eaux-de-vie, com alguns datando do início do século XX, como de 1905, 1910, 1920 e 1930. Essa longa maturação permite à marca criar blends com sabores sofisticados e complexos, mantendo uma consistência que caracteriza sua produção.
O Comitê de Degustação da Hennessy, composto por sete especialistas que provam diariamente as amostras de eaux-de-vie envelhecendo, monitora o processo de maturação, garantindo que os barris evoluam de maneira ideal. “A degustação diária é a base para a manutenção da qualidade e da consistência”, diz Marie Hennessy.
Outro aspecto central da produção de conhaque na Hennessy é o processo de blending. Para garantir a consistência do sabor ao longo do tempo, a marca mistura diferentes eaux-de-vie de vários anos e origens. O VSOP, por exemplo, é composto por cerca de 100 eaux-de-vie diferentes, com idades variando de 4 a 12 anos.