Por que o Brasil é potência no esporte paralímpico
A rápida unificação do comitê ainda nos anos 90, repasse estatal pensado para estruturar o esporte e uma rede importante de patrocinadores e parceiros colocou o Brasil em outro patamar no esporte paralímpico
Allan Gavioli
Publicado em 23 de agosto de 2021 às 09h56.
Última atualização em 23 de agosto de 2021 às 09h58.
São mais de 300 pódios em 12 participações e quase 100 medalhas de ouro durante mais de 40 anos de Jogos Paralímpicos . É inegável: o Brasil, na Paralimpíada, está entre as 10 maiores potências da competição.
Precisamente, o Brasil conquistou um total de 87 medalhas de ouro, somando todas as edições de que participou e busca, agora em Tóquio-2021 , alcançar a simbólica marca das 100 medalhas de campeão. Para o feito, são necessários apenas 13 ouros, um número que, dada a última participação paralímpica no Rio, é absolutamente alcançável: em 2016 foram 14 ouros.
Para efeito de comparação, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) contabiliza 37 ouros do país em todas as edições dos Jogos Olímpicos .
Além da expressiva quantidade de medalhas de ouro conquistadas na história, a melhora gradual da colocação do Brasil no quadro geral foi fundamental para colocar o país de vez entre as potencias o esporte paralímpico.
Na edição de Atlanta, em 1996, o Brasil terminou a competição em 37º lugar geral com 21 medalhas (2 de ouro, 6 de prata e 13 de bronze). Já no Rio de Janeiro, em 2016, apenas 24 anos depois, o Brasil terminou em 8º lugar, com 72 medalhas (14 ouro, 29 pratas e 29 bronzes).
E o salto de qualidade do país foi bem perceptível: 37º em Atenas-1992, 24º em Sydney-2000, 14º em Atenas-2004, 9º em Pequim-2008, 7º em Londres-2012 e 8º no Rio-2016. Embora a delegação tenha perdido uma posição na última edição, a quantidade de medalhas obtidas foi quase o dobro: 72 no Rio contra 43 em Londres.
O porquê do Brasil ser uma potência paralímpica
A decolada do Brasil rumo ao topo no esporte paralímpico se inicia justamente com a criação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) ainda em1995, logo após os Jogos de Barcelona (1992). A partir da fundação do Comitê Paralímpico Internacional (IPC na sigla em inglês) em 1989, fez-se necessário que cada nação tivesse o seu comitê paralímpico e se filiasse ao IPC.
Visando um nível maior de representatividade internacional do esporte paralímpico do país e com a ideia de agregar as diferentes modalidades de esportes para as pessoas com todos os tipos de deficiência, o país se movimentou rapidamente e criou, poucos anos depois, o Comitê Paralímpico Brasileiro.
A celeridade para organizar uma representação unificada do esporte paralímpico brasileiro perante o IPC foi fundamental para que o esporte fosse amplamente divulgado e contribuísse para uma maior inclusão e preparação de atletas para rendimento em alto nível.
A unificação das inciativas por meio do CPB permitiu que o fomento do esporte para a população brasileira com qualquer tipo deficiência acontecesse com maior capilaridade e eficiência pelo país. E, progressivamente, o CPB contribuía para fazer criar e gerir cada vez mais ações de divulgação e profissionalização do esporte paralímpico.
Entretanto, apenas a existência do CPB não seria o suficiente para fazer com que o Brasil despontasse no cenário internacional do esporte paralímpico. O CPB ainda precisava de parceiros interessados em ajudar na transformação do esporte e capital para financiar seus projetos e iniciativas de inclusão pelo Brasil.
Em 2001, às vésperas dos Jogos de Sydney, a situação do esporte olímpico e paralímpico no país dá um importante passo rumo a modernização e profissionalização por meio da assinatura da Lei Agnelo/Piva, um importante respaldo financeiro e uma fonte permanente de recursos para o esporte no país.
A lei prevê que que 2,7% do total bruto de arrecadação das Loterias Caixa , descontadas as premiações, sejam destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), nas proporções de 62,96% e 37,04%, respectivamente. Segundo dados da Loteria Caixa, só no ano de 2020, a arrecadação bruta com apostas chegou ao número recorde deR$ 17,1 bilhões, o que destinou cerca de R$ 460 milhões para os comitês olímpico e paralímpico do país.
Com esse novo recurso, o CPB pôde focar na contratação de pessoal qualificado para atuar junto aos atletas e ampliar a atuação de suas iniciativas e projetos pelo Brasil, além de dar ao comitê uma maior segurança fiscal e financeira.
“O CPB também tem investido na qualificação dos professores que atuam tanto na iniciação de estreantes no paradesporto quanto com os atletas de alto rendimento. Para que haja a inclusão das pessoas com deficiência no esporte, é necessário contar com professores qualificados e bem preparados para realizar esta missão”, diz o Comitê em nota.
O CPB conta ainda com incentivos financeiros de outras empresas e possui parcerias estratégicas para o desenvolvimento de projetos de inclusão e inciativas de captação e treinamento de atletas pelo Brasil Uma das empresa do setor petroquímico e de extração mineral brasileiro, a Braskem , por exemplo, é a patrocinadora oficial do paratletismo no Brasil e a montadora Toyota é a patrocinadora oficial do CPB.
O Governo do estado de São Paulo é um parceiro oficial do CPB e auxilia o comitê na hora de financiar, planejas e executar projetos e inciativas que visam a promoção do esporte paralímpico entre as crianças e jovens com deficiência, além também proporcionar o trabalho de detecção de novos talentos para o alto rendimento.
Ernst & Young, Estácio, Havaianas e Ajinomoto são algumas das empresas que apoiam e patrocinam de alguma forma o CPB - fundamentais para a manutenção do alto rendimento do esporte paralímpico brasileiro.
Uma combinação de investimento do governo federal, apoio de empresas em projetos e inciativas fundamentais para transformar e ampliar a realidade do atleta paralímpico do país e alianças entre o CPB e faculdades, universidades e ginásios podem ser consideradas os três principais pilares que sustentam o sucesso do esporte no Brasil.
“A simultaneidade de ações e oportunidades que visam o crescimento do esporte paralímpico promove um ciclo virtuoso de conquistas e ascensão do paradesporto no país, que vem seguido do reconhecimento do Brasil como potência internacional em Jogos Paralímpicos. Os ouros, pratas e bronzes conquistados em todas as competições internacionais são resultados de um esforço mútuo entre atletas, treinadores, entidades competentes e patrocinadores, que fazem com que novos sonhos virem planos e se tornem realidade para um país inteiro”, diz o Comitê Paralímpico Brasileiro em seu site oficial.